sexta-feira, 26 de junho de 2009

A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA E A PEDAGOGIA DA ALIENAÇÃO

Por Jones Mendonça

No mundo pós-moderno, onde se valoriza a superficialidade, o descartável, o efêmero, pouco espaço há para a reflexão. Uma multidão alienada repete o que ouve sem a preocupação de refletir. A grande maioria das músicas evangélicas reflete isso. Mas sempre há uma luz no fim do túnel. O cantor evangélico João Alexandre percebeu muito bem a lamentável situação em que se encontra o protestantismo atual:

Procuro alguém pra resolver meu problema
Pois não consigo me encaixar neste esquema
São sempre variações do mesmo tema
Meras repetições
Meras repetições.
É proibido pensar
[1].

Sua crítica é dura, mas infelizmente não é possível contestá-lo. Numa entrevista
[2], este poeta cantor diz que quando deixamos que alguém pense por nós, estamos lhe dando a possibilidade de nos escravizar. A Pedagogia da Autonomia tão defendida por Paulo Freire, ao contrário, dá ao aprendente a oportunidade de se auto-governar, se libertando de possíveis aproveitadores. Mas há sempre aqueles que protestam dizendo: “Ora, mas não é tão mais confortável ser carregado no colo?”.

Na vida tudo tem o seu preço, não sejamos inocentes. Caminhar com os próprios pés exige coragem para enfrentar espinhos, pedras pontiagudas e animais ferozes. Mas por outro lado, ser carregado no colo de quem se julga valente pode nos conduzir ao abismo, pois quem garante as boas intenções desse valente carregador de aprendentes?

Para que seja implantada a pedagogia da autonomia nas igrejas, inicialmente seria preciso mostrar ao rebanho que ser ovelha não significa seguir incondicionalmente líderes que se julgam donos do saber. Afinal não foi o próprio Jesus que disse que haveria falsos pastores? O bom pastor dá sua vida pelas ovelhas e jamais tira delas sua liberdade, ao contrário, lhes oferece gratuitamente o caminho da verdade que liberta.

A Pedagogia da Autonomia não é apenas uma possibilidade, mas uma necessidade urgente. A igreja precisa ser composta por pessoas que reflitam e sejam capazes de fazer críticas a si mesmas, pois só assim poderão superar suas crises, produzindo um igreja saudável e frutífera. Ser um autônomo tem o seu preço, é verdade, mas que graça tem a vida se sequer somos capazes de expressar nossas individualidades? A vida passa rápido e não podemos, como o personagem de um poema de Chico Buarque, deixar a vida passar em branco:

O velho vai-se agora
Vai-se embora
Sem bagagem
Não se sabe pra que veio
Foi passeio
Foi Passagem
[...]

Ele me é franco
Mostra um verso manco
De um caderno em branco
Que já se fechou
[3].

[1] É proibido, pensar. João Alexandre.
[2] Entrevista concedida ao programa Mistura Musical de Marcello Cunha, na Rádio Futura.
[3] O velho. Chico Buarque, 1968.

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