quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DILMA ROUSSEFF, O ABORTO E JESUS CRISTO

A candidata do PT à presidência da república, Dilma Rousseff, está preocupada com a perda de votos entre cristãos devido aos boatos espalhados pela Internet de que defende o aborto. Ontem ela reuniu padres e pastores em Brasília para negar já ter defendido a interrupção da gravidez.

Dilma também desmentiu que tenha dito que nem Jesus Cristo lhe tira a vitória: “Eu acho isso um absurdo, uma calúnia, uma vilania contra mim”, afirmou a candidata.

A notícia foi divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo (30-09-10) e pode ser  lida no site da IHU, clicando aqui e aqui. 

O APOCALIPSE DE JOÃO E A ERUPÇÃO DO VESÚVIO

Por Jones Mendonça

No ano 79 d.C. a cidade de Pompéia foi soterrada pelo Vesúvio.  Os primeiros vestígios da cidade foram encontrados em julho de 1738 por operários que cavavam a fundação do palácio de verão para Carlos Bourbon, rei de Nápolis.

Para Carl Marx a destruição de Pompéia teria inspirado João na sua descrição do fim do mundo presente no livro bíblico do Apocalipse[1]. Como ocorreu com a Pompéia do primeiro século, o fim dos tempos apocalíptico se dá pelo fogo.

Para Pierre Prigent [2] essa teoria se torna totalmente improvável quando se podem apresentar numerosos paralelos literários com a apocalíptica pré-cristã. Um exemplo é  o livro de Enoc, escrito no século II a.C. que fala de “sete estrelas como que grandes montanhas abrasadas” (cf. En 21,3ss e 108,4).

É verdade que a linguagem do livro do Apocalipse está impregnada de símbolos retirados da literatura apocalíptica judaica (apócrifa e canônica), tais como estrelas que caem do céu, nuvens negras que escurecem o sol, etc.  Mas não é impossível que as informações sobre a erupção do Vesúvio tenham chegado até João e contribuído para tornar suas visões apocalípticas sobre o fim do mundo ainda mais coloridas. O vigor do Vesúvio chegou até nós pelas cartas de Tácito, que registrou os relatos recebidos de Plínio, o Jovem. Ouçamo-lo:
“Naquela noite o tremor cresceu de tal maneira que parecia não mexer as coisas, mas girá-las... (Carta VI, 20, 3).[3]”
“Uma nuvem se formava, mas observada a distância não se sabia ao certo de qual montanha, cujo aspecto e forma nenhuma outra árvore reproduziria melhor do que um pinheiro (Carta  VI, 16, 5).[4]”
Ao contrário do que muita gente imagina a mensagem do Apocalipse é de esperança e não de condenação. O império romano, visto como opressor e cruel, estaria com seus dias contados. Enfim, a mensagem é a de que nenhum governo arrogante e iníquo é eterno.

Ironicamente numa das paredes de Pompéia lê-se o seguinte grafito:

“Nada dura para sempre;
Mesmo brilhando como ouro,
O sol tem que mergulhar no mar.
A lua também desapareceu
Embora reluzisse até há pouco”[5].

Essa é uma mensagem que merece uma profunda reflexão.

O Google Street View (Google vista da rua) permite que você visite as ruínas da cidade de Pompéia em 3D. A resolução das imagens é incrível.

Para experimentar clique aqui.

Notas:
[1] PIGNATARI, Décio. Semiótica da arte e da arquitetura. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004, p. 60.
[2] PRIGENT, Pierre. O Apocalipse. São Paulo: Loyola, 1993,  p. 162.
[3] FEITOSA, Lourdes Conde. Amor e sexualidade: o masculino e o feminino em grafites de Pompéia. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2005, p. 55.
[4] Id. ibid.
[5] BUTTERWORTH, Alex; LAURENCE, Ray. Pompéia. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 11.

Imagem:
Uma das ruas de Pompéia vista pelo Google Street View. 

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

GIDEON LEVY, O HOMEM MAIS ODIADO EM ISRAEL

Por Jones Mendonça

O The Independent publicou na sexta-feira passada (24-set-10) uma entrevista com o jornalista judeu israelense Gideon Levy. Muito crítico à política de Israel em relação aos territórios ocupados as opiniões a seu respeito são controversas. Ele é retratado pelo jornal israelense Ma‘ariv como um “propagandista do Hamas”. No The Independent é descrito como um “heróico jornalista israelense”. O artigo “The Children  of 5767” publicado no Haaretz lhe rendeu um prêmio da Fundação Anna Lindh, organização destinada a promover o respeito mútuo entre pessoas de diferentes culturas e crenças.

Segue abaixo um trecho da entrevista. A tradução é do Numinosum:
“Minha maior luta, diz ele, ‘é re-humanizar os palestinos’. Há um conjunto de máquinas de lavagem cerebral em Israel que acompanham cada um de nós desde a infância e eu sou um produto desta máquina como qualquer outra pessoa. Algumas narrativas são muito difíceis de quebrar, como, por exemplo, a de que somos apenas vítimas no conflito; que os palestinos são nascidos para matar [...] e que não são seres humanos como nós. [...] Levantar sua voz contra tudo isso é muito difícil.”
Você pode ler a entrevista completa aqui e tirar suas próprias conclusões. 

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O NOBRE, O BURGUÊS E O PLEBEU: REFLEXÕES SOBRE A REFORMA PROTESTANTE

Por Jones Mendonça


O cenário político na época da reforma dividia-se basicamente em três partes:

1) A igreja católica e a nobreza – Queriam manter o status quo. O papa era a figura que representava esse grupo.

2) A pequena nobreza, parte dos príncipes seculares e a burguesia – Queriam enriquecer apropriando-se dos bens do clero. O padre agostiniano Martinho Lutero beneficiou esse grupo com a Reforma.

3) Os camponeses oprimidos. Tomaz Münzer, o teólogo e líder dos plebeus e camponeses revolucionários, foi o porta-voz desse grupo.

Engels descreve as idéias de Münzer como “quase comunistas”:
Para Münzer, o reinado de Deus nada mais era que uma sociedade na qual não haveria mais nenhuma diferença de classes, nenhuma propriedade privada ou nenhum poder de Estado estrangeiro, autônomo, em oposição aos membros da sociedade”[1].
Tomas Müntzer, representante da classe mais baixa, acabou torturado e morto. Enfim... o mundo não mudou muito de lá para cá...

Nota:
[1] Sur La religion, Paris, Éditions Sociales, 1960, p. 114 apud Lua Nova, Revista de Cultura e Política,  1998, nº 43, p.164.

MAPA DA PALESTINA

Clique na imagem para ampliar.

Para mostrar como é a geografia básica da Palestina aos meus alunos de Antigo Testamento fiz este pequeno mapa. Nele você vê o Mar da Galiléia (ou lago de Genasaré), o Rio Jordão, Jerusalém e o Mar Morto com suas águas extremamente salgadas.  Espero que lhe seja útil.

domingo, 26 de setembro de 2010

O PNDH-3, O ABORTO E A IGREJA

Por Jones Mendonça

Tem ganhado grande repercussão na mídia evangélica o discurso do pastor Paschoal Piragine criticando o PT num vídeo postado no YouTube. O motivo das críticas é o conteúdo do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que dentre outras coisas promove a descriminalização do aborto. Veja o que diz um pequeno trecho:
g) Apoiar a aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos.
Recomendação: Recomenda-se ao Poder Legislativo a adequação do Código Penal para a descriminalização do aborto[1].
Após uma breve introdução, o referido pastor apresenta um vídeo condenando uma série de propostas presentes na PNDH-3. Dentre as imagens aparecem crianças indígenas sendo enterradas vivas por causa de um antigo tabu. Apesar das imagens chocarem qualquer pessoa que tenha um mínimo de sensibilidade, o PNDH-3 nada versa sobre o assunto (aliás, discussão sobre o “infanticídio” indígena é mais complexa do que se imagina). Ainda que eu não concorde com o texto do projeto que dispõe sobre o aborto fiquei pensando: como um pastor que diz lutar contra a estatização da iniquidade apresenta imagens que distorcem a verdade e confundem os fiéis? O vídeo induz a demonização do PT. É desonesto. É mentiroso. É iníquo!

A igreja tem o dever de esclarecer as pessoas. Manipulá-las jamais!

Informe-se sobre o PNDH-3 clicando nos links abaixo:





Nota:
[1] Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) / Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República - - ed. rev. - - Brasília: SEDH/PR, 2010, p. 91.http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O PT, O ABORTO E A UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

Muitas pessoas tem dito que o PT é satânico porque aprova o aborto. Lembro que o bispo Macedo também o aprova:
Sou a favor do direito de escolha da mulher. Em casos como estupro, má-formação do feto ou quando a vida da mãe está comprovadamente amea­çada pela gestação, não há o que discutir. Sou a favor do aborto, sim. A Bíblia também é. Eu vou ler para você (Edir se levanta, busca o livro e senta ao nosso lado). Olha só: "Se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz do que ele".”[1].
O irônico disso tudo é que muitos evangélicos que criticam o PT votam no Crivella, que pertence à igreja Universal. Falta coerência... Sobra ignorância...

Na minha opinião o aborto é um assunto que deve ser discutido pela sociedade. Não podemos colocar todos os casos numa única categoria. Quando uma pessoa diz que é a favor do aborto é preciso perguntar: “em que casos?”. Dependendo da resposta dada, cada pessoa deve, individualmente, tomar sua decisão e apoiar ou não determinado candidato.

Nota:
[1] LEMOS, Christina;  TAVOLARO, Douglas. O bispo: A história revelada de Edir Macedo. Larousse, 2007, p. 179. 

NEUZA ITIOKA, MICHEL TEMER E O SATANISMO

Conheço várias pessoas que receberam um e-mail dizendo que o vice de Dilma, Michel Temer, é satanista e que assumirá a presidência da república após Dilma morrer de um câncer não curado (??!!!).  De acordo com o e-mail essa informação teria sido passada por Neuza Itioka, líder do Ministério Ágape Reconciliação. Numa nota ela nega ter sido a mentora desse boato. Leia aqui.

Como se vê o dualismo maniqueísta jamais foi extirpado do cristianismo. Para os adeptos dessa corrente Deus e Satã nunca param de lutar pelo controle do mundo. É... não há nada de novo debaixo do céu.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

QUAL A ORIGEM DO KAPPAROT (WHAT IS THE ORIGIN OF KAPPAROT)?

Por Jones Mendonça

No ano passado transcrevi aqui no Numinosum uma matéria que falava sobre o estranho ritual judaico do kapparot. Como sou muito curioso investiguei sua origem. Ouçamos que tem a nos a dizer Abraham Bloch:
The custom kapparot dates back at least to ninth century. The geonim were not sure of its rationale  and assumed that the custom reflected a symbolic  transfer of fate from the individual to an animal. A twelfth-century scholar conjectured that the ritual of kapparot was designed as a reinactment of the biblical rite of azazel (Lv 16:8; Machzor Vitry 373)[1].
Tradução do Numinosum:
O costume do Kapparot remonta pelo menos ao século IX. Os geonim [título dos presidentes das escolas rabínicas da Babilônia] não tinham certeza sobre sua origem e assumiram que o costume refletia uma transferência simbólica do destino do indivíduo para um animal. Um estudioso do século XII conjecturou que o ritual do Kapparot foi concebido como um remanescente do rito bíblico de Azazel (Lv 16:08; Machzor Vitry 373).
Abraham Bloch diz ainda que o kapparot foi proibido entre os séculos 13 e 14 em Barcelona pelo Rabbi Salomon Adret [2].

Mohr Siebeck diz que esse ritual é mencionado pela primeira vez na Pérsia por Rav Sheshna (ca. 650 d.C.) [3].

Como se vê o ritual é antigo e não possui uma origem definida. Infelizmente minha curiosidade não foi saciada.

Muitas fotos do kapparot 2008 aqui.

Notas:
[1] BLOCH, Abraham P. The biblical and historical background of jewish customs and ceremonies. 1980, p.160.
[2] Responsum 392 apud id. ibid.
[3] SIEBECK Mohr. The Impact of Yom Kippur on Early on Chistianity. 2003, p. 65.

Gravura: Gravura da cerimônia Kapparot. Note-se que o homem tem um galo e da mulher segura uma galinha. A gravura foi retirada da seguinte obra: COUDERT, Allison P; SHOULSON, Jeffrey (edit.). Hebraica Veritas? Philadelphia: University Pennsylvania Press, 2004, p. 211.

Foto: Um menino ultra-ortodoxo judeu espera para receber suas galinhas num matadouro depois que realizou a cerimônia kaparot, em 06 de outubro de 2008 no bairro de Mea Shearim de Jerusalém. Segundo a crença judaica, o ritual transfere os pecados do ano que passou para o frango, que é, então, sacrificado em rituais sagrados. O Kaparot é realizado antes do Dia da Expiação (Yom Kippur), o dia mais sagrado do calendário judaico (crédito da imagem: zimbio.com).  

JUDEUS ULTRA-ORTODOXOS SE PREPARAM PARA O YOM KIPPUR COM O RITUAL DO KAPPAROT

Notícia publicada no Haaretz, 16-09-2010. A tradução é do Numinosum:
Antes do Yom Kippur, judeus ultra-ortodoxos abatem galinhas brancas como parte de um ritual que purifica os pecados cometidos no ano que se passou.
O kaparot é um hábito ligado ao Yom Kippur, onde os frangos brancos são abatidos como um gesto simbólico de expiação. Depois de abatidos os frangos são doados aos pobres.
Acredita-se que os pecados que uma pessoa cometeu no ano anterior são transferidos para o frango.
A cerimônia Kaparot é realizada antes do feriado judaico do Yom Kippur, o Dia da Expiação, que começa na sexta-feira. Os judeus tradicionalmente observam este dia santo com um período de 25 horas de jejum e de oração intensa.
Para ler mais sobre o Kaparot e o Yom Kuppur, clique aqui e aqui.

ENCONTRADO “RECINTO REAL” DE HERODES

Transcrevo abaixo trecho de uma notícia publicada no China Daily. A tradução é do Numinosum:
JERUSALÉM, 14 set (Xinhua) - Arqueólogos israelenses descobriram nesta terça-feira uma “sala real” provavelmente usada pelos romanos para ver os espetáculos na época em que Herodes era rei da Judéia.
O recinto mede oito por sete metros e tem cerca de seis metros de altura [...]. A sala é coberta com pinturas e as paredes são ornamentadas com molduras de gesso num estilo nunca antes visto na região.
O palácio de Herodes foi descoberto em 2007 por Ehud Netzer, da Universidade Hebraica.
Para ler mais sobre essa recente descoberta clique aqui.

Para ler a notícia da descoberta do palácio de Herodes divulgada em maio de 2007 pelo Haaretz clique aqui.

Fotos recentes aqui.

PÁGINAS MAIS VISUALIZADAS DO NUMINOSUM (16AGO – 13SET)

Num total de 3.963 páginas visualizadas neste período, as dez mais populares são:

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

TIME: “POR QUE ISRAEL NÃO SE IMPORTA COM A PAZ”.

A ADL [1] instou os editores da revista Time a pedirem desculpas pelo conteúdo de uma matéria publicada neste mês. De acordo com a matéria os israelenses estão mais preocupados em ganhar dinheiro do que com a paz e a segurança. A ADL interpretou essa afirmação como sendo anti-semita, já que estaria utilizando um velho estereotipo que coloca os judeus como sendo pessoas obcecadas por dinheiro. Para quem não sabe o governo e algumas instituições de Israel consideram anti-semita qualquer crítica dirigida ao povo judeu ou ao governo de Israel.

Uma pesquisa feita pelo jornal israelense Maariv parece confirmar que a paz com os palestinos não é uma prioridade do povo israelense. Veja os resultados:
Educação-36%, o Irã ameaça 13%; a guerra contra a corrupção 12,7%; paz com os palestinos, 11,3% acidentes de trânsito, 11,2%; lidar com a pobreza, 7,9%
Essa pesquisa confirma que o conflito com os palestinos não é considerado prioridade pelo povo de Israel (apenas 12,7%), por outro lado mostra que a principal preocupação é com a educação (36%) e não com a economia.

Thomas L. Friedman, colunista do The New York Times, utilizando informação dada pelo Haaretz disse que o número de milionários israelenses aumentou 43 por cento entre 2008 e 2009. É realmente um crescimento espantoso!

Um resumo da matéria da Time pode ser lida aqui.

Nota:
[1] A Liga Anti-Difamação (ADL), fundada em 1913, é a organização líder mundial na luta contra o anti-semitismo através de programas e serviços que combatem o ódio, o preconceito e a intolerância.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O ÓDIO ENTRE ÁRABES E JUDEUS


 Muitos conhecem a famosa frase dita pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad: “Israel deve ser varrido do mapa”. Se você acha uma frase como essa um absurdo eu diria que concordo com você. Mas o ódio não tem raça, nacionalidade ou religião. Leia esta outra frase:
“[Os palestinos] são bestas caminhando sobre dois pés.”
Ela foi dita pelo Primeiro-ministro israelense Menachem Begin, num discurso no Knesset, citado em Amnon Kapeliouk, "Begin e os Bichos", New Statesman, em 25 de junho de 1982.

Como se vê, a intolerância e o racismo andam tropeçando nas praças (tanto nas dos israelenses como nas dos palestinos). O amor é cego, o ódio também.

Outras frases racistas e preconceituosas ditas contra os palestinos podem ser lidas aqui e aqui.

A imagem acima foi baseada numa tela do pintor surrealista belga René Magrite intitulada: “Les amants” (Os amantes). Desconheço o autor dessa adaptação. Para ver a tela original, clique aqui.

TESOUROS ROUBADOS DO IRAQUE SÃO DEVOLVIDOS

Quando as tropas americanas invadiram o Iraque, em 2003, várias peças de valor inestimável foram saqueadas do Museu Nacional e de residências oficiais. Após 7 anos o governo do Iraque anunciou que várias dessas peças desaparecidas estão retornando ao país. Dentre os itens devolvidos estão um AK-47 cromado e adornado com pérolas que pertencia a Saddam Hussein.

Esse fuzil certamente se tornará uma peça de destaque no Museu Nacional do Iraque.

A matéria completa sobre o assunto pode ser lida no The New York Times.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E A QUEIMA DE LIVROS

Por Jones Mendonça

Não é nenhuma novidade que cristãos são perseguidos em países muçulmanos. Bíblias e igrejas são queimadas e pessoas são presas ou até mesmo mortas por causa da fé que professam. Mas a intolerância religiosa não é coisa exclusiva dos muçulmanos como muitos gostam de enfatizar.

Em 20 de maio de 2008  judeus ortodoxos queimaram o Novo Testamento e panfletos evangelísticos em Or Yehuda, no centro de Jerusalém. O episódio foi noticiado pelo jornal israelense Haaretz. O vice-prefeito da cidade (acreditem!) participou do evento.

Em 05 de maio de 1933, seguindo orientação de um memorando despachado por Joseph Goebbels, responsável pela propaganda nazista, os estudantes da Universidade de Colônia foram à Biblioteca e queimaram todos os livros de autores judeus.  

Recentemente o Pastor protestante Terry Jones, da Dove World Outreach Center, declarou que vai queimar o Alcorão no dia 11 de setembro. Sua atitude pode desencadear uma série de ataques contra cristãos em países islâmicos.

O que dizer diante disso tudo?

Expresso minha indignação citando a célebre frase do poeta alemão de origem judaica, Heinrich Heine:
“Onde livros são queimados, seres humanos também o serão”.
Sobre a destruição de livros ao longo da história, vale ler:

BÁEZ, Fernando; SCHLAFMAN. História universal da destruição de livros: das tábuas sumérias à guerra do Iraque. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

CANFORA, Luciano. Livro e liberdade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

Imagem: Desertpeace

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

BÍBLIA HEBRAICA EM ÁUDIO

As gramáticas de hebraico possuem uma séria limitação: elas não conseguem transmitir para os estudantes o som das consoantes e vogais. Para piorar, a transliteração de consoantes como o K  aparecem como “Kh” levando o leitor a pensar que o khaf tem som de “K”, quando na verdade tem som de “RR”. Isso ocorre porque geralmente as gramáticas seguem o sistema de transliteração europeu e americano. A palavra hebraica melekh=rei, por exemplo, deve ser pronunciada com um “r” forte no final: “melerr” e não “melek”.

Para tirar dúvidas sobre a pronúncia de consoantes (como o he com mappiq) ou vogais hebraicas (como o patah furtivo, o shva simples ou composto), visite este site. Ele disponibiliza o áudio de toda a Bíblia hebraica. Para ouvi-lo (ou baixá-lo) basta que você escolha o livro, o capítulo e o versículo. O ideal é que você tenha uma Bíblia hebraica eletrônica no seu micro para acompanhar a leitura do texto. Uma ótima pedida é o DAVAR, um programa gratuito muito leve e fácil de usar. Você pode baixá-lo aqui.

O texto é lido por Abraão Shmuelof, um padre já falecido nascido em Jerusalém (FOTO).  Mais informações sobre o padre podem ser encontradas aqui.

Você também pode se interessar pelo áudio das consoantes hebraicas isoladamente. Visite o site da Universidade de Washington e tire todas as suas dúvidas.

Quer ler mais sobre o hebraico aqui no Numinosum? Clique aqui.

domingo, 5 de setembro de 2010

STEPHEN HAWKING E DEUS

Por Jones Mendonça

Jornais do mundo inteiro noticiaram que o grande físico teórico Stephen Hawking excluiu Deus das teorias sobre a origem do universo. Essa declaração estaria presente num livro que será lançado na próxima semana que tem como título: “The Grand Design” (O grande design).

De acordo com alguns jornais (como o The Times) tal declaração representa uma postura diferente de Hawking em relação à existência ou não de Deus. Discordo.

Tenho dois livros do Hawking: “O universo numa casca de noz” e “Buracos negros, universos bebês e outros ensaios”. Neles uma coisa fica muito clara: Hawking sempre descartou Deus como origem provável para o universo. Para ele as leis da física são suficientes para explicar a origem do cosmos. Mas como ele é muito educado e cortês, sempre evita entrar em confronto direto com os religiosos. Veja abaixo trechos de "Buracos negros, universos bebês e outros ensaios", publicado em 1994:
“Um dos assuntos que mais discutíamos [referindo-se aos amigos da adolescência] era a origem do universo e a necessidade ou não de Deus para criá-lo e pô-lo em funcionamento. [...] Um universo essencialmente imutável e perpétuo parecia tão mais natural! Só me dei conta de que estava errado depois de cerca de dois anos de pesquisas para o meu doutorado.[1]”
Hawking abandonou a idéia de um universo imutável e eterno após a descoberta de que ele está em expansão, como um balão que infla. A conclusão óbvia surgida a partir dessa observação é que o universo teve um início.

Sobre as leis que regem o nosso universo, Hawking diz o seguinte:
Na verdade, sempre é possível alegar que as leis da ciência são a expressão da vontade de Deus”[2].
Com esta frase Hawking não está dizendo nada sobre sua crença ou não em Deus. Ele está apenas dizendo que Deus será sempre uma possibilidade  para a origem do universo, mas que ele pessoalmente descarta, como pode ser visto nesta declaração:
“Ainda acredito que o universo teve um início no tempo real, num big-bang [mas] não precisamos dizer que o modo como o universo começou foi um capricho pessoal de Deus.[3]”
Isso foi escrito há quase 20 anos! Hawking é um positivista, ele acredita que a razão humana triunfará um dia e será capaz de descrever todas as leis do universo por meio de equações matemáticas.

A obsessão por uma explicação natural para a origem do universo parece que jamais foi abandonada por Hawking. As declarações presentes em “The Grand Design” apenas expressam as convicções que ele cultiva desde a sua infância. 

Notas:
[1] HAWKING, Stephen. Buracos negros, universos bebês e outros ensaios. Rio de Janeiro: Rocco, 1995, p. 16.
[2] Id. Ibid., p. 109.
[3] Id. Ibid., p. 135.