quarta-feira, 30 de junho de 2010

O ANALFABETO POLÍTICO

“O pior analfabeto
é o analfabeto político.
ele não ouve, não fala, não participa
dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato, do remédio
depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e estufa o peito
dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil
que da sua ignorância política
nascem a prostituta, o menor abandonado,
o assaltante e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista, pilantra, corrupto
e lacaio das empresas nacionais e
multinacionais”[1].

[1] Fiz uma tradução livre do espanhol. Bertold Brecht, “O analfabeto político” apud ARRATA, Alfredo Vera. Política. Quito: Editorial El Conejo, 2005, p.130.

EM BUSCA DE UTOPIAS: DOS HEBREUS AOS RACIONALISTAS DO SÉCULO XIX

Por Jones Mendonça

A idéia de um mundo utópico, onde não há dor, pranto ou fome, foi tematizada de forma poética pelo profetismo israelita:
“A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e a desmamada meterá a sua mão na cova do basilisco” (Is 11,8).
A figura do “bom selvagem”, homem e mulher sem mácula vivendo numa sociedade perfeita, foi idealizada pelo rousseaunismo[1] e mais tarde pelos romantistas. Tal concepção já se fazia notar de forma embrionária na época das grandes navegações, quando os europeus tiveram contato com os indígenas.  François Laplantine destaca três episódios:

Américo Vespúcio na América:
“As pessoas estão nuas, são bonitas, de pele escura, de corpo elegante... Nenhum possui qualquer coisa que seja, pois tudo é colocado em comum. E os homens tomam por mulheres aquelas que lhes agradam, sejam elas sua mãe, sua irmã, ou sua amiga, entre as quais eles não fazem diferença... Eles vivem cinqüenta anos. E não tem governo”[2].
Cristóvão Colombo no Caribe:
Eles são muito mansos e ignorantes do que é o mal, eles não sabem se matar uns aos outros (...) Eu não penso que haja no mundo homens melhores, como também não há terra melhor”[3].
Os Jesuítas entre os Hurons, tribo nativa dos EUA e Canadá:
“Eles são afáveis, liberais, moderados... Todos os nossos padres que freqüentaram os Selvagens consideram que a vida se passa mais docemente entre eles do que entre nós”[4].
No Brasil, a utopia do reino milenar era cultivada entre os Tupinanbás:
“[a] Terra sem Mal, núcleo da mitologia tupi-guarani [...] exprimia a expectativa do encontro de um lugar de extrema abundância, felicidade e eterna juventude, morada dos ancestrais e dos espíritos corajosos, onde todos viveriam a redenção das provações e se tornariam homens deuses”[5].
Mas ao contrário do que prega a religião cristã, o paraíso dos índios parecia ser aqui mesmo neste mundo infra-celeste. Moreau vê evidências de que: “a Terra sem Mal se situava num espaço real, que podia ser atingido em vida”[6].

No século XIX muitos imaginavam poder descrever todo o universo como se descreve um relógio de corda. Tendo a razão como guia, pensavam os otimistas racionalistas, levaremos todos os homens à liberdade, igualdade e fraternidade. Secularizaram a utopia judaico-cristã!

Nietzsche, geralmente lembrado apenas como crítico da religião, debochou do cientificismo moderno. Para ele, o idealismo, fosse ele religioso ou científico, era um indício da decadência. Suas idéias deixaram a humanidade sem horizonte... sem utopias.

Leonardo Boff, teólogo católico brasileiro perseguido pelo Vaticano por pregar uma Igreja menos hierárquica e voltada para os pobres, vê grande valor nas utopias:
“A utopia deslanchará sempre energias novas para transformações que se acercam dela e, ao mesmo tempo, permitem que se relativize toda conquista para que a história não se congele reacionariamente, mas se mantenha aberta a novos avanços e outras aproximações da utopia”[7].
Confesso que tenho cá minhas utopias. Mas não permito que se dogmatizem. Enfim, acho útil e desejável que o homem, individualmente ou coletivamente, seja capaz de “in-ventar”, des-inventar” e “re-inventar” suas  próprias utopias.

Notas:
[1] Movimento baseado nas idéias de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Sua ênfase no naturalismo levou Voltaire a dizer: “ler sua obra me faz querer andar de quatro patas”. Notas ao discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, in Escritos de combate, páginas 636 (ed. Francesa, pág. 1379) apud COBO, Rosa. Fundamentos del patriarcado moderno: Jean Jacques Rousseau. Madrid:  Ediciones Cátedra, 1995, p.50.
[2] LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. Tradução de Marie-Agnès Chauvel. São Paulo: Brasiliense, 2003, p.32.
[3] Id. ibid.
[4] Id. ibid. p.33.
[5]HERMANN, Jacqueline. 1580-1600: o sonho da salvação. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 78.
[6] MOREAU, Felipe Eduardo. Os índios nas cartas de Nóbrega e Anchieta. São Paulo: Annablume, 2003, p. 136.
[7] BOFF, Leonardo; BETO, Frei. Mística e espiritualidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2005, p. 50.

terça-feira, 29 de junho de 2010

CHARGE SOBRE O VAZAMENTO DE PETRÓLEO

Jitet Koestana/Indonesia
The first Water International Cartoon Contest 2010
March,27 , 2010

JORNAL EGÍPCIO PUBLICA CARTOON LIGANDO ISRAEL AO NAZISMO

Charge publicada no jornal egípcio Al-Watani al-Youm.

Uma charge publicada num jornal egípcio causou forte reação do governo de Israel. Na charge aparece um polvo atacando a embarcação turca que teve nove passageiros mortos pela Força de Defesa Israelense (IDF) no final de maio.  Numa carta enviada ao jornal egípcio, a embaixada de Israel no Cairo se manifestou dizendo que:
“Usar o símbolo da suástica nazista no cartoon [...]  é um insulto à humanidade e equivale a uma declaração anti-semita”.
O editor Mohamed el-Alfy defendeu sua posição no editorial de um jornal dizendo que era uma questão de liberdade de expressão.

O autor do cartoon é Carlos Latuff, um... carioca! Latuff tem procurado denunciar a dor de povos oprimidos pelo mundo através de sua arte. Uma entrevista com Latuff pode ser lida aqui (em inglês).

A notícia em jornais israelenses pode ser lida aqui, aqui e aqui. 

segunda-feira, 28 de junho de 2010

COMO SURGIRAM OS SINAIS MASSORÉTICOS?

Por Jones Mendonça

A escrita hebraica antiga não possuía vogais. A vocalização das palavras era transmitida pela tradição, de pai para filho. Quando um judeu se deparava com a palavra hebraica דוד  - dálet (d), vav (v), dálet (d) - por exemplo, sabia que era uma referência a David, o grande rei israelita.  Com o tempo surgiu o receio de que a pronúncia correta das palavras fosse perdida, já que o hebraico era falado apenas por uma pequena parte da população, com uso estritamente litúrgico.

As primeiras experiências com sinais que pudessem ajudar na vocalização dos textos foram feitas com o Talmude, coleção de escritos sagrados do judaísmo. Comunidades judaicas que viviam na Palestina e na Babilônia, no século V, desenvolveram uma série de pontos vocálicos que ficavam acima das consoantes. Por volta de 900 d.C o sistema tiberiense suplantou os métodos palestinense e babilônico colocando os pontos abaixo das consoantes. Esses pontos vocálicos foram acompanhados de acentos que serviam para dar ritmo ao texto que era lido nas sinagogas. Veja abaixo um texto hebraico de Gn 1,1 com e sem os sinais vocálicos:

Além dos sinais vocálicos e acentos também foram feitos comentários críticos em notas marginais do texto que tinham a função de identificar grafias fora do comum, palavras e formas gramaticais e até mesmo o número de letras contidas no texto. Essas notas eram chamadas de Massora (tradição) e os responsáveis pelas notas de Massoretas. Os sinais e acentos ficaram conhecidos como “sinais massoréticos”.

A padronização dos sinais e pontuação criados pelos massoretas se deu por volta do século X com o trabalho das famílias ben Asher e ben Naphtali. Uma dessas famílias, a de Ben Asher, foi responsável pela produção de importantes códices, tais como o Códice do Cairo (895 d.C.), o Códice Alepo (900-950 d.C.) e o Códice Leningrado (1008 d.C.). Os registros contidos nesses códices são conhecidos como textos massoréticos. O texto do Antigo Testamento que consta atualmente em nossas Bíblias é baseado nos textos massoréticos.

Referências bibliográficas:
GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia hebraica. Tra­dução de Anacleto Alvarez. São Paulo: Paulinas, 1988.
E-SWORD. the sword of the lord with an eletronic edge. 2007. Software de Ferramentas e Comentários Bíblicos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

NIETZSCHE, HITLER, MUSSOLINI E A MORAL CRISTÃ

Por Jones Mendonça

Nietzsche (1844-1900) denunciou que os valores não sem nem eternos, nem universais, nem transcendentes, nem metafísicos, mas meras criações humanas. Com isso pôs em xeque qualquer tipo de crença em fundamentos absolutos, tais como os presentes na religião e no positivismo científico. Considerado por muitos como uma das personalidades mais influentes do pensamento do século XX, a obra de Nietzsche tem provocado reações diversas. Para Claude Stainer, “o mais radical formulador da crise do racionalismo moderno”[1]. Na visão do teólogo e filósofo Paul Tillich “um dos mais importantes precursores da coragem existencialista de ser como si próprio”[2]. Ainda que seja possível colher muitas opiniões positivas a respeito do pensamento de Nietzsche, suas obras foram alvo de intensas críticas. Como escrevia de forma fragmentada, por aforismos, compreender suas idéias nem sempre foi algo fácil. A multiplicidade de interpretações que seus textos sofreram demonstram esse fato. Somando-se a isso sua crítica ferrenha ao cristianismo, muitas vozes se levantaram contra suas idéias.

O filósofo italiano Franco Volpi, falando sobre a repercussão que as obras de Nietzsche tiveram na Europa, nos diz que “durante o conflito de 1914-1918, em uma livraria de Piccadilly, estavam expostos na vitrine os 18 volumes das suas obras completas em inglês, com uma inscrição em letras enormes: ‘The Euro-Nietzschean-War; leiam o diabo para poder combatê-lo melhor!’”[3]. Quatorze anos após a sua morte ele já era pintado como um demônio.

De um modo não muito diferente do livreiro de Volpi agiu o ex-ateu e apologista cristão G. K. Chesterton no seu livro “Ortodoxia”, fruto de seu embate com o editor de um periódico socialista chamado Robert Blatchford: “O amolecimento do cérebro que no fim o atingiu [referindo-se à loucura de Nietzsche] não foi um acidente físico. Se Nietzsche não houvesse acabado na imbecilidade, o nietzscheanismo o teria feito”[4]. Neste livro, escrito em 1908, Nietzsche é apresentado como um embecil.

Há ainda os que buscaram ver na obra de Nietzsche o prenúncio filosófico do nazismo de Hitler e do fascismo de Mussolini[5]. Isso é o que pensa, por exemplo, Giovanni Martinetti: “Hoje todo mundo reconhece no nazismo, claramente inspirado por Nietzsche, a vergonha do século XX”[6]. Essa interpretação equivocada (e injustificável nos dias atuais) foi provocada Elisabeth Förster-Nietzsche, irmã do filósofo alemão, que manipulou seus escritos em benefício dos ideais da direita nacionalista alemã[7]. Elisabeth chegou a presentear Hitler com a bengala de Nietzsche [8] quando este visitou Weimar em 1932. Hitler, por sua vez, presenteou Mussolini com uma coleção de obras de Nietzsche em 1938 [9]. O filósofo, que não era nem nacionalista e nem racista acabou tendo seu nome associado ao nazi-fascismo.

Só a partir da década de 30, pensadores como Georges Bataille e Pierre Klossovski deram início ao trabalho de denúncia da falsificação de suas obras [10]. Nos anos 50, com Walter Kaufmann, seu pensamento finalmente recebeu o merecido destaque. Para Michael Tanner, “’Nietzsche’ é a figura em cujo nome pessoas das mais discrepantes e variadas visões procuraram justificação para elas”[11]. Demônio, imbecil, nazista, fascista, assassino de Deus e até mesmo anarquista são apenas alguns dos adjetivos emprestados ao filósofo alemão. Em certas ocasiões por ignorância, em outras por puro receio que os velhos odres da sociedade fossem rompidos pela agudez de suas palavras.

Apesar dos muitos pontos de vista antagônicos a respeito da filosofia nietzschiana, há algo que é unanimidade entre os estudiosos do seu pensamento: sua crítica ferrenha à moralidade cristã. Para Nietzsche, a criação de valores absolutos por filósofos como Sócrates e Platão foi popularizada mais tarde pelo cristianismo paulino (nascido a parir da pregação do apóstolo Paulo), subtraindo do homem seu instinto de criatividade. Para Nietzsche o cristianismo havia morrido na cruz, juntamente com o nazareno. O cristianismo nascido a partir dos seus discípulos, pregava, assim como a filosofia socrática e platônica, a existência de um mundo ideal, perfeito, verdadeiro, só acessível após a morte. Isso teria gerado o ascetismo, a negação da vida em detrimento de uma vida no além. Viver em função desse mundo "invisível" era o que Nietzsche chamava de niilismo, o desejo pelo nada. Mas esse estado de prostração seria notado não apenas no contexto ético religioso, mas também na arte, na política, na educação na ciência e na filosofia.

Nietzsche se debruçou sobre esse problema e iniciou uma busca pelos culpados pela morte do homem. Nessa investigação minuciosa da constituição dos valores que levaram o homem a renunciar a vida terrena, ele acabou por decretar a morte de Deus, ou seja, dos valores absolutos, do além, da metafísica. Para o professor da Universidade de Turim, Gianni Vattimo “A morte de Deus significa para Nietzsche que não há fundamento definitivo, e nada mais”[12].

Ao criticar a moral cristã Nietzsche não estava pregando a total ausência de regras ou valores. O que ele questionou foi a existência de regras e valores absolutos. Ao perceber o equívoco cometido por alguns de seus leitores, Nietzsche disse que essas pessoas estavam confundindo imoralismo com imoralidade [13]. Para Nietzsche os valores devem estar a serviço do homem e não o contrário. Neste ponto o filósofo alemão parece concordar com Jesus, que após ser repreendido por colher espigas num sábado, dia sagrado para os judeus, disse: “o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado” (Mc 2,27).

Notas:
[1] REIS, José Carlos. História & teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. p. 42.
[2] TILLICH, Paul. A Coragem de Ser. p. 91.
[3] VOLPI, Franco. Filosofia: tutta colpa di nietzsche? La Repubblica. p. 46.
[4] CHESTERTON. G. K. Ortodoxia. p. 71.
[5] GIACÓIA, Oswaldo. Nietzsche. p. 71, 72.
[6] MARTINETTI, Giovanni. Razões para crer. p. 87.
[7] DELACAMPAGNE, Christian. História da filosofia no século XX. p.156.
[8] SLAVUTZKY, Abrão; DINES, Alberto. O dever da memória: o levante do gueto de Varsóvia. p. 140.
[9] BRYAM, Magee. História da Filosofia. p. 177.
[10] GIACÓIA, Oswaldo. loc. cit. p. 73.
[11] TANNER, Michael. Nietzsche, mestre do pensar. p. 11.
[12] VATTIMO, Gianni. Depois da cristandade. p. 9.
[13] NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra, prólogo, III apud SUFFRIN, Pierre Héber.  “Zaratustra” de Nietzsche. p. 36.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

VATICANO ANUNCIA DESCOBERTA DOS MAIS ANTIGOS ÍCONES DOS APÓSTOLOS

O Vaticano anunciou ontem (22-06-10) a descoberta das mais antigas imagens dos apóstolos. Elas foram encontradas nas catacumbas de Santa Tecla, em Roma. Especialistas acreditam que os afrescos definiram o padrão de representação dos apóstolos. Transcrevo abaixo a notícia divulgada pela Rádio Vaticano (algumas palavras foram grifadas pelo Numinosum):

Cidade do Vaticano, 23 jun (RV) - A poucos dias da data em que a Igreja recorda Pedro e Paulo, o Vaticano anunciou ontem ter descoberto as primeiras imagens sacras conhecidas dos apóstolos de Jesus Cristo. 

Elas foram reveladas, juntamente com representações inéditas dos apóstolos
João e André, em uma câmara subterrânea para sepultamento localizada embaixo de um prédio de escritórios numa movimentada rua de Roma, a poucos metros da Basílica de São Paulo.

O achado foi apresentado oficialmente ontem em coletiva de imprensa pelo presidente da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra e do Pontifício Conselho para a Cultura,
Dom Gianfranco Ravasi

Usando uma
nova tecnologia a laser, arqueólogos e restauradores de arte encontraram as pinturas num ramal das catacumbas de Santa Tecla, do lado de fora das muralhas da Roma antiga.

A moderna técnica permite queimar espessos depósitos de carbonato de cálcio sem danificar as cores das pinturas e pode revolucionar a forma como o trabalho de restauração é realizado em ambientes de umidade extrema e ausência de circulação de ar.

Barbara Mazzei, que chefiou o projeto, disse que o laser foi usado como um “bisturi óptico” para fazer o carbonato cair sem prejudicar a pintura: “O laser criou uma espécie de pequena explosão de vapor, desprendendo-o da superfície” – explicou. O resultado deu uma surpreendente clareza a imagens que, antes, eram borradas e opacas.

Outras imagens bíblicas, como Jesus ressuscitando
Lázaro ou Abraão preparando o sacrifício de Isaac, também estão muito mais claras e brilhantes.

Os quilômetros de catacumbas escavadas sob a capital italiana são uma importante atração turística, pois oferecem aos visitantes uma visão sobre as tradições das origens da Igreja, quando os cristãos eram perseguidos por causa de sua fé. 

As pinturas têm as mesmas características de imagens posteriores, como a
testa alta e enrugada de Paulo, a cabeça começando a ficar calva e a barba pontuda. Isso indica que essas figuras podem ter sido as que fixaram o padrão

Os quatro ícones, com cerca de 50 centímetros de diâmetro, estão no
teto da sepultura subterrânea de uma nobre que teria se convertido ao cristianismo no mesmo século em que o imperador Constantino legalizou a religião. 

Os primeiros cristãos escavaram as catacumbas do lado de fora das muralhas de Roma como cemitérios subterrâneos porque os enterros eram proibidos dentro das muralhas da cidade - os romanos pagãos eram geralmente cremados.

Segundo
Dom Gianfranco Ravasi, a presença dos apóstolos neste sepulcro evoca uma espécie de devoção e de protetorado em relação aos dois mártires romanos.
"No que diz respeito a pinturas no interior de catacumbas, estamos acostumados a ver pinturas muito pálidas, geralmente brancas, com poucas cores. No caso das catacumbas de Santa Tecla, a grande surpresa foram as cores extraordinárias. Quanto mais avançamos, mais surpresas encontramos. Foi uma descoberta de forte impacto emocional” - disse a pesquisadora Barbara Mazzei. 
Dom Giovanni Carrú, secretário da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, indicou aos jornalistas que estes trabalhos “restituíram aos especialistas e visitadores um patrimônio iconográfico muito importante para reconstruir a história da comunidade cristã de Roma, que, com as pinturas que decoram seus cemitérios, expressavam sua cultura, sua civilização e sua fé".

A
Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra foi instituída pelo Papa Pio IX em 1925. Trabalha na conservação das catacumbas cristãs, na restauração das obras e escavações. Há 20 anos está empenhada no projeto de recuperação do patrimônio pictórico conservado nas catacumbas.

O Professor
Fabrizio Bisconti, diretor de arqueologia das catacumbas de Roma, que pertencem ao Vaticano, disse que o achado ainda não está aberto ao público porque as obras continuam, há dificuldade de acesso e o espaço é limitado. A entrada é permitida exclusivamente a especialistas, por enquanto.
(CM) 

Imagem 01:
(Fabrízio Bisconti apontando para os afrescos recém descobertos)
Imagem02:
(Detalhe do afresco com a figura de um dos apóstolos)

terça-feira, 22 de junho de 2010

SITES ÚTEIS PARA QUEM ESTUDA HEBRAICO BÍBLICO

Bíblia hebraica (Tanak) com sinais massoréticos baseada no Códex Leningrado:
Imagens em fac-símile (texto digitalizado)  do Códex Alepho on line:
Imagens em fac-símile do livro de Isaías encontrado no Mar Morto:
Este site conjuga verbos hebraicos pra você. É só escolher o verbo (que aparece em português, caso utilize o tradutor do google) e clicar em “view”.  Fantástico:

EXPULSÃO SILENCIOSA

O editorial do Haaterz publicou hoje (22-06-10) um texto que critica a postura do governo israelense diante dos residentes palestinos que vivem em Jerusalém Oriental. Segundo o jornal os cidadãos de Israel podem sair do país por qualquer período de tempo, sem que seus direitos de cidadania sejam revogados. Com os residentes palestinos o tratamento é diferenciado. Caso permaneçam fora do país por mais de sete anos seus direitos à cidadania perdem a validade.

O jornal cita o caso de dois professores de engenharia palestinos nascidos em Jerusalém Oriental impedidos de retornar ao convívio de suas famílias:
“Dr. Immad Hammada e Dr. Murad Abu Khalaf são professores em engenharia elétrica nascidos em Jerusalém Oriental. Suas famílias vivem na cidade há gerações. Ambos deixaram a cidade há anos, cada um separadamente, para estudar nos Estados Unidos. Depois de se formarem e consolidarem suas carreiras querem voltar a viver na sua cidade natal”.
O Haaretz alerta que em 2008 o direito à cidadania israelense de 4.557 habitantes palestinos foram revogados. O jornal define essa regulamentação como sendo “draconiana” e defende direitos iguais para residentes de bairros palestinos e judeus.

Para quem não sabe Jerusalém Oriental foi anexada oficialmente ao território israelense em 1980.  De acordo com a ONU a cidade deveria ser internacionalizada em 1947. Até hoje sua anexação não foi reconhecida nem mesmo pelos Estados Unidos, antigo parceiro político de Israel. 

segunda-feira, 21 de junho de 2010

FRASES CLÁSSICAS SOBRE DEUS: TILLICH, BUBER, JUNG E SARAMAGO

Filósofo e teólogo cristão, Paul Tillich foi um dos pensadores cristãos  mais influentes do século XX. Por suas posições anti-nazistas teve que migrar para os Estados Unidos em 1933. Sua frase sobre Deus é um tanto filosófica:
“Deus é o fundo do ser [...] toda a afirmação concreta sobre Deus deve ser simbólica, pois uma afirmação concreta é aquela que usa um segmento da experiência finita para dizer algo sobre Deus”[1].
[1] TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 2005, pp.245, 246.
Judeu de origem austríaca, o filósofo, escritor e pedagogo Martin Buber fez uma interessante crítica ao uso leviano do nome de Deus:
“Deus é a mais incômoda de todas as palavras humanas. Nenhuma foi tão banalizada, tão mutilada [...]. As gerações dos homens rasgaram a palavra com seus partidarismos religiosos; por ela mataram e foram mortos; ela traz as marcas dos dedos e do sangue de todos [...]. Os homens desenham caricaturas e escrevem embaixo: ‘Deus’; assassinam-se uns aos outros e exclamam: ‘em nome de Deus’” [2].
[2] BUBER, Martin. El eclipse de Dios, Nueva Visión, Buenos Aires, 1970, pp. 13-14 apud GONZÁLEZ, Luiz; SANTABÁRBARA, Carvajal. Notícias de Deus pai! São Paulo: Loyola, 1999, p.11.
Uma declaração surpreendente foi feita por Carl Jung em 1961, pouco antes de morrer a John Freeman, da BBC de Londres. Quando perguntado se acreditava em Deus, disse o seguinte:
“Não preciso acreditar, eu sei”[3].
[3] BRYANT,  Christopher. Jung e o cristianismo. São Paulo: Loyola, 1996, p.11.
Na minha opinião a frase mais bela é a do escritor português José Saramago. Lembro que o Nobel de literatura se declarava ateu:
“Dios es el silencio del Universo, y el ser humano el grito que da sentido a ese silencio”[4].
Deus é o silêncio do Universo, e o ser humano o grito que dá sentido a esse silêncio”[4].
[4] ORTIZ-OSÉS, Andrés; LANCEROS, Patxi. Diccionario de la existência: assuntos relevantes de la vida humana. Barcelona: Anthropos Editorial; México: Centro Regional de Investigaciones Multidisciplinarias. UNAM,  2006, p.172.
Filósofos, místicos, apologistas e ateus, todos tem uma opinião sobre Deus. E você, o que diria sobre Ele?

Imagem: Capa do polêmico livro de Saramago: “O Evangelho segundo Jesus Cristo”.

sábado, 19 de junho de 2010

TEÓLOGO HANS KÜNG DECLARA-SE "BOM CATÓLICO, MAS CRÍTICO"

Bogotá, 26 mar (RV) - O teólogo suíço, Hans Küng, presidente da Fundação Ética Mundial, e que concluiu uma visita de uma semana à Colômbia, se declarou "bom católico, mas crítico".

Küng assinalou, numa entrevista publicada sábado, 24, pelo jornal "El Tiempo", que os últimos pronunciamentos de Bento XVI sobre temas como o celibato sacerdotal, não são "uma coisa pessoal do Papa", mas "o produto de uma mentalidade que vem de um paradigma da Idade Média".

"Essa é a posição que vem de séculos. Ratzinger, infelizmente - acrescentou o teólogo - não a mudou."

Quanto ao ensino da religião, Küng explicou que os católicos "não são capazes de impor sua convicção católica sobre toda a população", mas advertiu os leigos de que "há perguntas que a ciência não pode responder".

"No campo dogmático, é difícil que o jovem moderno aceite tudo o que diz literalmente a Bíblia. Por outro lado, uma educação exclusivamente secular esquece uma dimensão muito profunda que existe no coração do indivíduo e também da sociedade" - afirmou o teólogo.

Küng acrescentou que "as questões da vida não se respondem com a Biologia. Exige-se um meio-termo", e argumentou que "o projeto de Ética Mundial é precisamente o método que satisfaz as duas partes".

"Projeto de ética mundial" é também o título de um livro do teólogo Hans Küng, que estuda a necessidade de uma ética fundada em argumentos discutidos pela comunidade humana planetária superando os autoritarismos morais. Analisa e propõe passos nessa direção, considerando as diferentes expressões na sociedade, inclusive o papel exercido pelas religiões. (MZ).


Para ler mais sobre Hans Küng, clique aqui.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

BOMBOU NO TWITER EM NOVA IORQUE: “CALA A BOCA GALVÃO!”.

Dando uma olhada nas manchetes dos jornais estrangeiros me deparei com um artigo que me chamou atenção no New York Times. O texto dizia que os novaiorquinos ficaram curiosos após notarem uma misteriosa frase que “bombava” no twiter: “cala a boca Galvão!”. Eles se perguntaram “o que ou quem é Galvão?”. Alguns, após consultarem o Youtube, sugeriram que fosse um pássaro em extinção (a tradução é do Numinosum):
“O pássaro galvão rara ave nativa do Brasil, estava em perigo [...] Cerca de 300.000 aves foram abatidas em um ano durante o Carnaval. A mudança climática foi matando mais. Mas havia uma esperança: um cientista tinha um projeto para resgatar os pássaros. Incrivelmente, alguém poderia ajudar, bastando colocar um post no Twitter”.
Essa é ou não uma resposta hilária? Ora, qualquer brasileiro sabe que o Galvão (e não falcão) da frase é o nosso “amado” Galvão Bueno, comentarista da Globo. O vídeo era apenas uma brincadeira para manter o “cala a boca Galvão” no Topo do Twiter. Além do vídeo, um cartaz trazendo os símbolos oficiais do governo também foi feito. Dei boas gargalhadas com essa notícia.