sexta-feira, 28 de outubro de 2011

PROFETA JEREMIAS: UM BREVE CONTEXTO HISTÓRICO

A cidade de Judá entre as três grandes potências da época: Assíria,
Egito e Babilônia (por Jones F. Mendonça).
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O profeta Jeremias viveu numa época que tinha como pano de fundo a disputa por um vasto território conhecido como Fértil crescente, que vai do Egito à Mesopotâmia. Enfrentavam-se pelo controle dessa região três grandes potências da época: Egito, Assíria e Babilônia. Em 671, cerca de duas décadas antes do nascimento do profeta, a Assíria conquistara o Egito.  Enquanto isso, a Babilônia, a mais nova potência emergente, reunia forças para impor sua hegemonia sobre a região. Em 612 Nínive, capital da Assíria caiu nas mãos dos babilônios.

No meio dessa disputa estava Judá, que se encontrava dividida em relação a quem deveria apoiar. Um partido apoiava o Egito, outro a Assíria e outro a Babilônia. Jeremias, um levita do interior, natural de Anatot, pequena vila a poucos quilômetros de Jerusalém, insistia que Judá deveria se render aos babilônios. Colocando-se como porta voz de Yahweh declarou: “Eu fiz a terra, os seres humanos e os animais que nela estão [...]. Agora, sou eu mesmo que entrego todas essas nações nas mãos do meu servo Nabucodonosor, rei da Babilônia” (Jr 27,5-6). Sua mensagem foi um escândalo para os judaítas. Por causa do desprezo que vinha de todos os lados lamentou: “maldito seja o dia em que eu nasci” (Jr 20,14), ou ainda “Sou ridicularizado o dia inteiro; todos zombam de mim” (Jr 20,7).

Jeremias nasceu durante a ditadura do rei Manassés, que foi sucedido por Amom, um sanguinário ditador. Uma revolta popular matou Amom e o pequeno Josias, com apenas 8 anos assumiu o trono, obviamente auxiliado por tutores. Josias acabou morto pelo faraó Neco, que seguia em direção à Assíria para lhe prestar ajuda contra a Babilônia. Com a morte de Josias subiu ao trono seu filho Joaquim, um rei explorador e oportunista. Foi nesse período que Jeremias exerceu intensa atividade profética, denunciando as falsas seguranças e a injustiça.

Em 598 a.C. os trágicos anúncios do profeta se cumpriram. Nabucodonosor, rei da Babilônia, cercou Jerusalém e o rei de Judá, impotente, se rendeu. O templo foi profanado e seus tesouros levados para a Babilônia. Parte da elite do povo também foi levada para o cativeiro, com o intuito de impedir qualquer possibilidade de revolta. Dez anos depois o rei Sedecias, que havia sido colocado no trono pelos babilônios, deixou de pagar impostos. A reação da Babilônia foi imediata e violenta. Em 587 Jerusalém foi totalmente destruída.
Foi assim que Jerusalém foi tomada: No nono ano do reinado de Zedequias [...] Nabucodonosor, rei da Babilônia, marchou contra Jerusalém com todo seu exército e a sitiou. Em Ribla, o rei da Babilônia mandou executar os filhos de Zedequias diante dos seus olhos, e também matou todos os nobres de Judá. Mandou furar os olhos de Zedequias e prendê-lo com correntes de bronze para levá-lo para a Babilônia. Os babilônios incendiaram o palácio real e as casas do povo, e derrubaram os muros de Jerusalém (Jr 39,1-8).
Em Judá ficou somente o povo da terra (2 Rs 25, 8-12). O livro de Lamentações, expressa a dor pela destruição da cidade: “Todo o esplendor fugiu da cidade de Sião. Seus líderes são como corças que não encontram pastagem; sem forças fugiram diante do perseguidor” (Lm 1,6). O Salmo 137,1 também nos dá uma nítida mostra da aflição que se abatia sobre o povo: “Junto aos rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos com saudade de Sião”.

Jeremias morreu por volta de 580, exilado no Egito. Uma tradição judaica diz que ele foi apedrejado até a morte por compatriotas que junto com ele fugiram para lá. A alcunha de profeta chorão não lhe cabe bem. Um profeta que anunciou desgraças ao seu próprio povo mesmo quando preso a um tronco ou numa cisterna cheia de lama merece um título mais justo.  


Jones F. Mendonça

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PALAVRAS DE UM JUDEU

Trecho de um texto publicado no site Carta Maior (25-09-11), tradução de Jair de Souza:
Sim, os judeus realmente carregam séculos de exílio e perseguição. Os judeus europeus sim sofreram seis milhões de mortes. Eu sei disso como judeu. Eu cresci com essas recordações. Mas Sr. Presidente [Obama], como uma criança que aprende nossa história, eu nunca imaginei que os judeus fossem usar esses séculos de exílio e perseguição, nossos seis milhões de mortos, como um instrumento cego contra um outro povo. Nunca! Nem mesmo em minha imaginação mais selvagem. Não!

Leia mais aqui.

REJEIÇÃO AO BRASIL AFLORA ENTRE INDÍGENAS BOLIVIANOS

A construção de uma rodovia que atravessará o Parque Nacional Isiboro Sécure, na Bolívia, tem gerado protestos inflamados  entre os indígenas do país. A obra orçada em RS$ 415 bilhões, tem RS$ 312 bilhões financiados pelo BNDS e está sendo executada pela empresa brasileira OAS

Adolfo Chávez, presidente da Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia, entende que a construção da estrada terá efeitos catastróficos para o seu povo (cf. publicado no jornal Valor, 26-10-2011): 
Não queremos uma estrada para levar mendigos às cidades para pedir esmola, para abrir espaço para caminhões de alta tonelagem. Não estamos acostumados com isso. Vivemos da pesca, da caça, da coleta de frutas. E, quando isso ocorrer [a estrada], haverá devastação da terra, desmatamento, pirataria e uma zona muito perigosa de plantio de coca vai se expandir", disse. "Vocês brasileiros se queixam muito da cocaína que vem da Bolívia, mas isso é contraditório, porque querem seguir abrindo caminho para que a droga continue sendo produzida com maior facilidade.
Ainda mais irritado está Rafael Quispe, outro líder indígena boliviano: 
A empresa dos brasileiros é que está metida [na obra], quebrou a lei, e os brasileiros não fazem absolutamente nada. Vocês [brasileiros] estão f... a Bolívia. E não é só com estradas. Vocês estão f... a gente com termelétricas. Como a Bolívia, como cidadão boliviano, como posso eu, com capital boliviano, f... o seu país?
Outros críticos afirmam que  a construção da estrada ampliará o plantio de coca e atenderá aos interesses do Brasil, que "quer atravessar seus produtos rumo ao Oceano Pacífico utilizando a Bolívia como ponte". 


terça-feira, 25 de outubro de 2011

CRISTIANISMO E ASCETISMO

Agosto de 2007. Aula de filosofia da religião no STBC. Eu aluno do quarto período. O livro escolhido pelo professor foi “Filosofia da religião”, de Umberto Padovani, tomista até os ossos. Apesar da tendência conservadora, o livro é ótimo. Discutíamos a "necessidade da religião para a solução plena do problema da vida" (cap. I, p. 24). Na página 26 o autor dispara:
O teísmo cristão traz consigo uma concepção transcendente e ascética do mundo e da vida, na qual se enaltece a dor e a morte. É aquele pessimismo perante o mundo que decorre da visão do homem infeliz por causa do pecado e que só poderá ser superado transcendendo o mundo (PADOVANI, Umberto A. Filosofia da religião, p. 26).
Padovani não está fazendo, como alguns podem pensar, uma crítica ao cristianismo, mas uma constatação (quem fez uma profunda crítica ao caráter ascético do cristianismo foi Nietzsche). Aliás, uma constatação que ele julga legítima, mas incompreensível ao homem moderno.

Na mesma linha que Padovani seguiu Gedeon Alencar, sociólogo e presbítero da Assembleia de Deus Betesda. No seu livro “Protestantismo Tupiniquim”, ele diz que o pentecostalismo é um “prática religiosa que nunca quis mudar o mundo, mas sair dele” (ALENCAR, Gedeon. Protestantismo tupiniquim, p 57). Rubem Alves, no clássico “Protestantismo e repressão” (o livro teve o nome mudado para “Religião e repressão”), diz mais ou menos o mesmo, quando afirma que na concepção protestante (referindo-se ao chamado protestantismo de reta doutrina):
crer em Cristo é definir-se como peregrino aos céus, que passa pelo espaço e pelo tempo sem amá-los, caminhando sempre a jornada que só termina com a morte [...] A morte é a dissolução das aparências e a revelação da essência (ALVES, Rubem, Religião e repressão, p. 326). 
 Continuar cristão e não negar, mas afirmar o mundo. Será possível?


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

SUCOT SAMARITANO E JUDAICO 2011 [FOTOS]

Os judeus e samaritanos comemoram entre setembro e outubro a festa dos tabernáculos (sucot, plural de sucah, tendas) para relembrar o período em que viveram em tendas no deserto após a saída do Egito. Como construir tendas num ambiente urbano é uma tarefa bastante complicada, os judeus precisaram usar a criatividade. Ao invés de tendas eles usam caixas de madeira como a que aparece na imagem abaixo. Durante todo o feriado as refeições são feitas dentre deste caixote. É ou não uma festa muito curiosa?

Ah, publiquei aqui a imagem de um judeu ultraortodoxo examinando uma muda de murta com uma régua. Este artigo publicado no Haaretz em 2009 talvez ajude a explicar o porquê de tanta preocupação com a aparência da planta. 




Belas fotos do sucot 2011 no Big Picture

MUAMAR KADAFI E AS HIENAS

Kadafi morreu. Não era flor que se cheire, não há dúvida. Mas essa anunciada luta entre os "bons rebeldes" contra o "ditador perverso" eu não engulo. Os EUA e alguns países europeus estavam à espera deste momento, quando poderiam finalmente devorar sua carcaça. 

Barack Obama, o xerife do mundo, já anunciou aos demais ditadores: "Vocês terão um destino semelhante caso insistam em recusar um governo democrático." 

Andam dizendo por aí que a queda de Kadafi foi mais uma vitória da democracia. O povo resolveu se unir, construiu armas juntando peças de um ferro velho, comprou picapes 4x4 zero km num leilão em Trípole, leu alguns manuais de guerrilha encontrados na internet e pronto, o ditador foi derrubado. Só sendo muito  ingênuo...

A morte de Kadafi no Al Jazeera (já traduzido pelo Google) aqui

Blog da Líbia ao vivo aqui


Jones F. Mendonça

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

LIBERTAÇÃO DE GILAD SHALIT E PRISIONEIROS PALESTINOS [FOTOS]

Shalit sendo escoltado por membros do Hamas
O The Big Picture publicou uma série de fotos da troca de prisioneiros entre o Hamas e o governo de Israel. A libertação de Shalit e de prisioneiros palestinos provocou comoção em Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Sou um grande crítico da política do primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu, mas dessa vez ele me surpreendeu. 

Numa entrevista concedida à TV egípcia o sargento Shalit foi surpreendido com uma pergunta provocativa: "você se sentiu feliz com a libertação dos prisioneiros palestinos?". Shalit respondeu: "sim, mas espero que eles não voltem a praticar o terrorismo". Sábias palavras. Mas essa postura precisa ser tomada por ambos os lados. 

Veja as fotos aqui.  

Jones F. Mendonça

A INFLUÊNCIA IRANIANA SOBRE O JUDAÍSMO

O The Bible and Interpretation publicou um artigo escrito por Jason M Silverman (PhD, Trinity College Dublin, Escola de Teologia das Religiões e 2005-2010), tratando sobre questão da influência iraniana na formação da Bíblia hebraica, particularmente nos textos de gênero apocalíptico. Na opinião do autor, a questão da influência iraniana ainda não pode ser provada ou refutada. Apesar disso ele destaca que as pesquisas recentes
prometem oferecer uma nova visão sobre 200 anos de um período até então considerado sem importância e, portanto, sobre os períodos subseqüentes: helenístico, romano, grupos apocalípticos, o movimento de Jesus, e os primeiros movimento rabínicos. 
Para que o leitor se situe na questão discutida por Silverman, é preciso destacar que muitos estudiosos defendem que a angelologia, demonologia e doutrina da ressurreição presentes na literatura judaica (p. ex. Ezequiel e Daniel) possuem paralelos com o zoroastrismo, antiga religião persa (atual Irã). 

Para ler o artigo já traduzido pelo Google, clique aqui


Jones F. Mendonça

terça-feira, 18 de outubro de 2011

QUEM PESA MAIS, UM SOLDADO OU UM TERRORISTA?

Charge: J Post
Nesta semana Israel trocou 1027 prisioneiros palestinos por um militar israelense capturado em 2006. Foi uma negociação longa, cansativa, desgastante. Depois de uma série de ações catastróficas, tais como a morte de policiais egípcios confundidos com terroristas e de cidadãos turcos numa desastrada operação que visava impedir uma embarcação de chegar a Gaza, Israel finalmente acertou. Gilad está feliz. A família de Gilad está feliz. O povo israelense está feliz. Gaza está feliz. Só a direita israelense está zangada. Bando de mal humorados. 

O jornal israelense J Post (um jornal de direita) publicou uma charge ironizando o episódio. Gilad, num dos pratos de uma balança, tem o mesmo peso que algumas centenas de terroristas. Fiquei pensando: quem vale mais, um terrorista ou um soldado? O primeiro mata com o aval de um Estado reconhecido internacionalmente. O segundo atua na marginalidade, no submundo do contrabando internacional de armas. O primeiro possui equipamento sofisticado, mata com elegância. O segundo tira vidas com bombas caseiras, não usa uniforme e não possui patente. Um bruto. 

É preciso não se deixar levar pelo impulso da mídia. Soldados são sempre soldados. Com ou sem barba. Com ou sem patente. Com ou sem fuzil. Com ou sem reconhecimento internacional. Soldados não são bons ou maus. Soldados são apenas soldados...

Jones F. Mendonça


sábado, 15 de outubro de 2011

PAPIROS DO EVANGELHO DE JOÃO ON-LINE

Jo 18,31-33; 37-37 no P52.
O mais antigo fragmento de papiro do Novo Testamento é o Papiro Ryland (P52). Ele contém o texto de Jo 18,31-33; 37-38 e data do início do II século. 

Caso você precise consultar este documento ou outros papiros do Evangelho de João, visite o Projeto Internacional de Grego do Novo Testamento. Para ir direto para a página que disponibiliza os textos, clique aqui

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

KAPPAROT 2011

Depois que o templo judaico foi destruído, no ano 70 d.C. o sacrifício de animais deixou de ser realizado. Bem, isso é o que dizem por aí. Como se pode ver nos vídeos abaixo (e também aqui e aqui) alguns judeus ortodoxos ainda sacrificam frangos no Yom Kippur. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

SLAVOJ ZIZEK NO OCCUPY WALL STEEET

O filósofo esloveno Slavoj Zizek (pronuncia-se Slavoi Chicheck), discursou num acampamento de manifestantes do movimento Occupy Wall Street. 

Você pode ler o discurso de Zizek no Opera Mundi.
Fotos em alta resolução do movimento no The Big Picture.
Os vídeos com o discurso estão abaixo:


terça-feira, 11 de outubro de 2011

É TEMPO DE SUCOT, A FESTA DAS TENDAS

Abaixo duas fotos da galeria do J Post. A primeira imagem mostra um judeu ultra-ortodoxo verificando uma muda de murta (cf. Lv 23,40) no mercado de Mea Shearim, Jerusalém (não me pergunte para que serve a régua!). A outra mostra membros de uma comunidade samaritana numa peregrinação tradicional que marca o feriado do sucot (leia mais sobre o sucot aqui no Numinosum). 

A AGONIA DE GILAD SHALIT CHEGA AO FIM


Todos os dias, ao visitar o site do jornal israelense Jerusalem Post eu me deparava com uma campanha em prol da libertação de Gilad Shalit, um soldado israelense capturado pelo Hamas em 2006 em Gaza. Depois de 1934 dias a angústia de Gilad e de sua família parece ter chegado ao fim. O Hamas e o governo de Israel finalmente chegaram a  um acordo. Até o ex-presidente americano Jummy Carter  já atuou como negociador no impasse. 


Leia uma retrospectiva das negociações aqui no Haaretz.
A notícia, claro, também foi manchete no J Post

INCÊNDIOS AO LONGO DO RIO XINGU [FOTO]

Recebi hoje esta imagem tirada da Estação Espacial Internacional mostrando a queima de parte da floresta amazônica para que seja convertida em terra agrícola.  Para que você tenha uma noção do estrago produzido pelo incêndio, a extensão do rio coberta pela foto é de 63km. Tudo em nome do capital...

domingo, 9 de outubro de 2011

DAVI, UMA BIOGRAFIA

A "The Bible and Interpretation" publicou um artigo sobre Davi escrito por Steven McKenzie, professor associado do Rhodes College, Memphis, Tenesee. Steven defende que Davi foi um personagem real, porém, busca apresentá-lo de maneira mais realista, bem diferente daquela idealizada pelos teólogos israelitas. 

O artigo você lê aqui

Caso queira dar uma espiada no livro de Steven na Amazon (em inglês), clique aqui

PARA PRÉ-CANDIDATO REPUBLICANO DEUS QUER EUA NO TOPO

Mitt Romney, pré-candidato com maior intenção de votos entre os pré-candidatos republicanos ao governo dos Estados Unidos me saiu com essas: "Deus não criou este país para ser uma nação de seguidores [...]. Os Estados Unidos devem conduzir o mundo, ou outros o farão [...]. Nunca, jamais pedirei perdão em nome dos Estado Unidos". 

E os EUA continuarão enxergando o mundo como o quintal da sua casa. 

Fonte: APF

STEVE JOBS ENCONTRA MOISÉS NO CEÚ

- Moisés, este é Steve. Ele vai fazer um upgrade nos seus tablets. 

Fonte

sábado, 8 de outubro de 2011

NÃO, NOSSOS POLICIAIS NÃO SÃO OS MAIS VIOLENTOS DO MUNDO

Sameer Cassem, árabe-israelense de 34 anos, não pagou o aluguel. E a execução do despejo foi assim (ah, repare como são tratadas as mulheres e a criança): 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A SELVA DE PEDRA... E DE LUZ, E DE BELEZA

A cidade tem seu encanto. A geometria, o concreto armado, o chão de piche, o céu de  néon. Mil vaga-lumes de metal ziguezagueando num fluxo sem fim. Esta belíssima animação mostra esse lado, digamos, romântico, da selva de pedra. É ou não de encher os olhos?


HEBRAICO: O ATNAH COMO DOIS PONTOS

Entre os séculos V e X d.C. um grupo de estudiosos chamados massoretas introduziu uma série de  sinais no texto hebraico visando facilitar sua leitura. Um dos sinais de grande valor na exegese de um texto hebraico é o  atnah. Ele é considerado um sinal disjuntivo forte e é representado como um acento circunflexo abaixo da consoante. Sua função no texto pode variar entre um ponto, vírgula, ponto e vírgula ou dois pontos. Palavras marcadas com um atnah são consideradas “em pausa”. Para entender a função do atnah, observe o texto abaixo: 
Gn 24,34  E disse: “Sou servo de Abraão”.
No nosso idioma os dois pontos após a palavra “disse” exigem uma pausa na leitura. Qualquer pessoa que queira ser compreendida ao ler um texto respeitará esse intervalo. Agora observe o texto em hebraico. Note que abaixo da palavra “e disse” (vayyo’mar) há um atnah (sinalizado com uma seta em azul):
                       
Neste caso a atnah funciona como dois pontos, dividindo o versículo em duas unidades sintáticas. Outro detalhe importante a respeito do atnah é que ele modifica a vogal sob a qual foi inserido. No versículo acima o verbo amar (= ele disse) na terceira pessoa do singular do imperfeito do QAL sofreu modificação vocálica na última sílaba (o segol tornou-se um patah). Compare na figura abaixo o mesmo verbo em textos diferentes (com e sem atnah):

Você também pode encontrar o atnah com a função de dois pontos nos seguintes textos:

Gênesis: 15,8; 18,3; 19,7; 24, 34; 30,28; 34,31
Êxodo: 33,14,18
Deuteronômio: 11,27


Jones F. Mendonça

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A PREDESTINAÇÃO SEGUNDO CALVINO

Lecionar teologia da Reforma me obrigou a ler as Institutas, obra magistral do reformador francês João Calvino. Sua teologia, apresentada em quatro livros e 80 capítulos, é desenvolvida em torno da crença na absoluta soberania divina. Ainda que sua teologia não me agrade, é preciso reconhecer, Calvino é lógico, honesto e coerente em quase tudo o que afirma. Em minha opinião, sua grande falha lógica está aqui:
Onde ouves menção da glória de Deus, aí deves pensar em sua justiça. Ora, o que merece louvor tem de ser justo. Portanto, o homem cai porque assim o ordenou a providência de Deus; no entanto, cai por falha sua. [...] Logo, por sua própria malignidade o homem corrompeu a natureza pura que havia recebido do Senhor, e em sua ruína arrastou consigo à ruína toda a posteridade (As Institutas, Livro III, cap. XXIII, seção 8)
Para Calvino o homem peca porque Deus assim decretou, mas ainda assim é responsável por seus atos maus. Tal "decreto espantoso" não possui explicação, e não cabe ao homem questioná-lo. Surge uma nova pergunta: e Adão, o primeiro homem, também agiu de acordo com os propósitos divinos? Calvino explica: 
O primeiro homem, pois, caiu porque o Senhor assim julgara ser conveniente. Por que ele assim o julgou nos é oculto. Entretanto, é certo que ele não o julgou de outro modo, senão porque via daí ser, com razão, iluminada a glória de seu nome (As Institutas, Livro III, cap. XXIII, seção 8).
Para fechar, uma última declaração de Calvino (prepare-se): 
Eu concedo mais: os ladrões e os homicidas, e os demais malfeitores, são instrumentos da divina providência, dos quais o próprio Senhor se utiliza para executar os juízos que ele mesmo determinou. Nego, no entanto, que daí se deva permitir-lhes qualquer escusa por seus maus feitos (As Institutas, Livro I, Capítulo XVII, seção 5).
 Você entende isso?


Jones F. Mendonça

A BOA ESPOSA SEGUNDO CALVINO

O rompimento definitivo de Calvino com a Igreja católica se deu quando ele retornou a Noyon, sua cidade natal, e renunciou aos benefícios eclesiásticos que tinha desde os 12 anos de idade. Já fora da França, em 1538, por causa de perseguição imposta pelo rei Francisco I, Calvino decidiu arrumar uma esposa e pôr fim à vida celibatária. Pediu a Farel e Bucer que lhe arrumassem uma mulher. A recomendação foi esta: 
Não sou daqueles amantes loucos que, ao ficarem fascinados pelo belo corpo de uma mulher, aceitam também seus defeitos. Eis apenas um tipo de beleza que me seduz – que ela seja casta, prestimosa (não fastidiosa), econômica, paciente e que zele pela minha saúde"[1]. 
Quanta piedade...


Nota:
[1] DURANT, Will. A Reforma, p. 392. 


Jones F. Mendonça

POR QUE OS PALESTINOS NÃO ACEITAM UM "ESTADO JUDEU"?

Há algumas semanas apareceu na capa do jornal israelense Jerusalem Post a seguinte manchete: Israel reconhecerá um Estado palestino caso Abbas aceite um Estado judeu. Quem não percebe as implicações da aceitação de um "Estado judeu" pensa ser esta uma proposta muito razoável: Os palestinos reconhecem o Estado de Israel e Israel reconhece o Estado Palestino. Fácil. Justo!

Mas a coisa não é tão simples assim. É preciso esclarecer que os palestinos reconhecem o Estado de Israel desde 93, em Oslo. Já denominação "Estado judeu" não é aceita pelos palestinos por uma série de bons motivos (uma delas está aqui). O Al Jazeera (30-09-11) publicou um artigo contendo uma série de consequências problemáticas caso Israel seja reconhecimento como um Estado judeu. O texto é de Sari Nusseibeh, professor de filosofia na Universidade de Al-Quds, em Jerusalém. 

Leia aqui já traduzido pelo Google.


Jones F. Mendonça