quinta-feira, 29 de setembro de 2011

OS FUNDAMENTALISTAS SÃO SEMPRE OS OUTROS

A França, país ocidental, democrático, laico, desenvolvido, e tantos outros adjetivos empregados para dizer que uma nação é "civilizada" me saiu com essa: proibiu o niqab (véu muçulmano) e as orações em público. O véu, segundo o governo, representa uma ameaça à segurança nacional e oprime as mulheres. As muçulmanas que insistirem em usá-lo terão que pagar uma multa e fazer um curso, vejam só, de civilidade. 

A justificativa encontrada pelo presidente Nicolas Sarkozy para proibir as orações em público foi a de que "ferem a sensibilidade do povo francês" e "violam nossos princípios". Por pouco o governo não proibiu sermões em idiomas estrangeiros. O objetivo, lógico, era impedir celebrações religiosas em árabe. Mas, como alguém lembrou que  nas igrejas católicas francesas a missa é muitas vezes celebrada em latim ou em outros idiomas, desistiram do projeto. Quem vai querer comprar essa briga? 

Imaginei uma cena onde mulheres francesas vão passar alguns meses numa tribo indígena no norte do Brasil. As indiazinhas, com seios e tantas outras coisas à mostra, estranham a quantidade de roupas que as francesas usavam. Uma anciã da tribo repreendeu algumas meninas que começaram a dizer que as francesas são oprimidas pelos maridos. A experiente anciã explicou que não se deve julgar o modo de vida dos brancos tendo como referência os valores da tribo". Outra coisa curiosa aconteceu. Muitas das francesas hospedadas na tribo aprenderam o idioma local, mas insistiram em falar francês quando conversavam sobre filosofia, por exemplo. Não havia palavras indígenas que pudessem expressar conceitos filosóficos elaborados por  Simone de Beauvoir,  Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Jean-Paul Sartre e tantos outros filósofos franceses. Os índios nem ligavam para o idioma no qual eram celebrados os "cultos" que os brancos dedicavam aos seus "deuses", os tais "filósofos". Eles tinham preocupações mais importantes, tais como pescar, tomar banho de cachoeira, dançar, brincar com seus filhos, dormir na rede, fazer sexo, etc. 

E foi assim que os índios, ditos "não civilizados", deram uma lição de civilidade nos estrangeiros ditos "civilizados". Essa é apenas uma história (os índios também possuem seus defeitos), mas ela bem que poderia ser real. 



Jones F. Mendonça

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

CORDEIRINHOS DE ISRAEL

No domingo à noite o Fantástico mostrou palestinos apedrejando soldados israelenses numa manifestação ao não reconhecimento da Palestina como Estado independente por parte de Israel. Estranho a Globo não ter mostrado colonos judeus cortando oliveiras de palestinos (a ONU faz denúncias a respeito dessa prática há anos). Não que eu ache que israelenses sejam mais violentos que os palestinos. Apenas não compreendo por que palestinos são sempre retratados como imbecis intolerantes e cidadãos israelenses como cordeirinhos mansos. Também é estranho a Globo não mostrar reportagens como a do Al Jazeera (24-09-11), denunciando a chegada de um grupo de extremistas judeus a Cisjordânia chamado Liga de Defesa Judaica. Até os jornais israelenses denunciaram o caso, mas em jornais ocidentais, nada! Segue trecho da matéria (tradução do Numinosum):
Duas semanas atrás um anúncio apareceu em um site francês convocando "militantes com experiência militar" a participarem de uma viagem de solidariedade a Israel entre Setembro de 19 e 25. De acordo com o site "O objetivo desta expedição é auxiliar nossos irmãos que sofrem agressão dos ocupantes palestinos, e para aumentar a segurança das cidades da Judéia e Samaria”. As datas da viagem coincidem com a proposta de um Estado palestino nas Nações Unidas.

A partir de ontem, em resposta a este apelo, havia 55 cidadãos franceses, tanto homens como mulheres, com experiência militar, estacionados no interior dos assentamentos ilegais israelenses na Cisjordânia. Organizado em cinco grupos distintos de 11, sua missão é "defender as colônias contra qualquer ataque de palestinos", e "oferecer ajuda" em áreas onde eles sentem que há falta de pessoal do Exército israelense ou as forças policiais.
É um grupo bem simpático, não acha? 

Foto: Al Jazeera
Jones F.  Mendonça

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

JONAS, UM PROFETA FORA DA ORDEM

Aparentemente o livro de Jonas possui um versículo fora de ordem. Certo verso do capítulo 4 faz muito mais sentido quando inserido no capítulo anterior. Para que a exposição do problema seja feita com maior clareza, o verso em questão (4,5) aparecerá em destaque.

O contexto: No capítulo 3 Jonas anuncia o juízo de Yahweh a Nínive. Surpreendentemente todo o povo se arrepende. No capítulo 4, surge um Jonas indignado pelo fato de Yahweh ter poupado a cidade de Sua ira. Observe que não faz nenhum sentido a atitude de Jonas após a pergunta de Yahweh:
Jn 4,4 E disse o SENHOR: É razoável esse teu ressentimento?
Jn 4,5 Então Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da cidade: e ali fez uma cabana, e se assentou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade.
Por que Jonas sairia para observar o destino da cidade se ela já havia sido poupada? Note que o verso em questão faz muito mais sentido no capítulo anterior, depois de 3,4:
Jn 3,4  Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: "Daqui a quarenta dias Nínive será destruída". 
Jn 4,5 Então Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da cidade: e ali fez uma cabana, e se assentou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade
Jn 3,5  Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco.
Convencido?


Jones F. Mendonça

NEUTRINOS VIAJAM MAIS RÁPIDO QUE A LUZ (?)

Desde a formulação da teoria da relatividade por Einstein se tem como certo que é impossível qualquer partícula viajar acima da velocidade da luz. Mas uma experiência realizada por um grupo de cientistas do laboratório do Centro Europeu para a Investigação Nuclear (CERN), parece desafiar a teoria da relatividade. No experimento, os neutrinos, partículas elementares da matéria, ultrapassaram ligeiramente a velocidade da luz. 

Logo que soube da notícia hoje pela manhã pensei no que diria Stephen Hawking, um dos maiores físicos teóricos do mundo.  Consegui achar um artigo da Reuters em inglês que publica sua opinião. Leia já traduzido pelo Google aqui.  

Leia mais no site do CERN (já traduzido pelo Google). 


Jones F. Mendonça

terça-feira, 20 de setembro de 2011

AINDA A PALESTINA

Os Estados Unidos certamente irão vetar a proposta de adesão de um Estado palestino ao Conselho de Segurança da ONU. O plano "B" é recorrer à Assembleia Geral da ONU solicitando o estatuto de "Estado Não- Membro" (como o Vaticano). Neste caso os Estados Unidos não tem o direito de veto. Caso tal pedido seja aceito os palestinos poderão recorrer ao Tribunal Internacional de Haia, na Holanda. As consequencias da ocupação de suas terras por Israel e as violações dos direitos humanos poderiam ser denunciadas pela liderança palestina. 

A desculpa que os Estados Unidos encontrou para vetar a aceitação do Estado Palestino é que a solução para o conflito deve ser encontrada por meio da negociação. O problema é que os palestinos já esperaram tempo demais.  Os Estados Unidos querem proteger Israel, a liderança palestina não se entende, Israel não aceita a divisão da terra conforme determina a resolução de 67 e os países europeus ficam em cima do muro. Enquanto isso os palestinos continuam vivendo em condições sub-humanas. Sem terra, sem soberania, sem dignidade. 


Jones F. Mendonça

OS PORTÕES DO INFERNO

As portas do inferno foram encontradas e elas ficam em Darvaza, no Turquemenistão, um país da Ásia central próximo ao Afeganistão. Depois que uma sonda de perfuração soviética atingiu uma caverna subterrânea e liberou gases tóxicos, incendiá-los foi a alternativa mais segura para evitar que se espalhassem pela atmosfera. Esperava-se que eles queimassem em alguns dias, mas o fogo já dura mais de 37 anos. O espetáculo é este que você vê abaixo (veja mais aqui, aqui e aqui):

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

NO MÍNIMO IRÔNICO...

Recebi hoje um e-mail do Jerusalem Post com esta campanha contra a visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad aos Estados Unidos. No título vem escrito: "peça ao presidente Obama que não permita que um tirano assassino pise em solo americano". O curioso é que as explosões atômicas que aparecem ao lado de Ahmanidejad insinuando ser ele um louco insano foram lançadas justamente pelos Estados Unidos. Você consegue entender uma coisas dessas?

sábado, 17 de setembro de 2011

GRUPO TERRORISTA JUDAICO SE PREPARA PARA O 20 DE SETEMBRO

Desde que a ONU declarou que tropas israelenses excederam-se na força empregada para impedir que uma embarcação turca rompesse o bloqueio imposto por Israel e chegasse a Gaza em 2010 o clima na Palestina tem se tornado cada vez mais tenso. No incidente morreram nove cidadãos turcos. A relação com o Egito, país vizinho, também não é das melhores. Num confronto entre tropas de Israel e um grupo de terroristas, soldados e policiais egípcios acabaram mortos sob fogo israelense na fronteira entre os dois países. Indignado, um grupo de manifestantes invadiu a embaixada de Israel no Egito e o embaixador israelense teve que abandoná-la. Os Estados Unidos exigiram que o Egito tomasse medidas para proteger a família do embaixador.

Com a expectativa do reconhecimento do estado Palestino pela ONU na próxima semana, tropas israelenses tem se preparado para manifestações violentas vindas dos países árabes. Grupos radicais como o Hamas, por exemplo, insistem ser o terrorismo a única maneira de forçar Israel a reconhecer o seu direito à terra. Pior, ele não reconhece o Estado de Israel, dificultando a convivência pacífica entre os dois povos caso o reconhecimento de um Estado palestino se concretize.

Preocupados com o aumento da tensão dos últimos dias, colonos que vivem em assentamentos judaicos tem se armado contra possíveis ataques. Grupos radicais paramilitares como a “Liga de Defesa Judaica”, classificada como terrorista por países como os EUA e Israel, prometem aumentar ainda mais a tensão. De acordo com o Haaretz (16-09-11) a filial francesa da Liga de Defesa Judaica tem recrutado pessoas para a missão de defender os assentamentos judaicos na Cisjordânia. O grupo, criado em 1968 nos Estados Unidos, foi fundado pelo rabino Meir Kahane, preso em 1980 após planejar destruir a Cúpula da Rocha (Mesquita construída sobre as ruínas do Templo judaico) com um míssel de longo alcance.

Todos esses acontecimentos nos mostram que o conflito na Palestina não pode ser encarado como uma luta entre o bem e o mal como geralmente tem sido encarado pela mídia religiosa e até mesmo secular. Interesses políticos, econômicos e religiosos se misturam afastando cada vez mais a possibilidade de uma solução que atenda as aspirações de ambos os lados.  


Jones F. Mendonça

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

CAI MAIS UM MINISTRO

Mais um ministro do governo Dilma foi afastado devido a denúncias de corrupção. A nova vítima  é o ministro do turismo Pedro Novais, do PMDB. Pensando na indignação do cidadão brasileiro diante da corrupção que castiga nosso país (e nosso bolso), o Tiarles  criou "palhaço", o anti-herói brasileiro. Tiarles Rodeghiero é professor de arte, ilustrador e design. Repare no nariz vermelho do nosso herói. Ah, o Tiarles não defende a violência como solução para o descaso com o dinheiro público. O desenho é mera gozação. 

Desenho: Tiarles Rodeghiero

sábado, 10 de setembro de 2011

SETEMBRO NEGRO?

O setembro de 2011 promete fortes emoções vindas do Oriente Médio. A relação entre Israel e Turquia vem sendo desgastada desde que a ONU declarou que as tropas israelenses excederam-se na força empregada para impedir que uma flotilha com bandeira turca chegasse a Gaza com mantimentos em 2010. Nove cidadãos turcos morreram sob o fogo das tropas israelenses e a Turquia, sentindo-se ofendida, exigiu um pedido de desculpas ao governo de Israel. Como tal pedido não veio, o embaixador de Israel na Turquia foi expulso no dia 02 de setembro.  

No mês passado (18-08-11) policiais e soldados egípcios foram mortos por engano por tropas israelenses durante uma ação contra terroristas na fronteira entre os dois países. Manifestantes egípcios, levados pelo espírito da primavera árabe, invadiram a embaixada israelense, retiraram a bandeira de Israel e a substituíram por uma egípcia. O Egito, primeira nação árabe a ter assinado uma tratado de paz com Israel, percebeu o perigo que corriam os funcionários da embaixada e construiu um muro de proteção ao seu redor. Mas essa medida não impediu o pior: manifestantes invadiram novamente a embaixada e o diplomata israelense foi obrigado a abandoná-la. 

No dia 20 próximo Israel terá que lidar com outro problema: a votação no Conselho de Segurança da ONU por um Estado palestino. Israel diz que quer negociar (e impedir que o assunto seja decidido na ONU), mas não aceita parar com os assentamentos em território palestino e nem as fronteiras de 1967. Difícil negociar assim. 

Se a diplomacia israelense continuar com essa política, a imagem de Israel no mundo tende a ficar cada vez pior. Bem, mas se a diplomacia de Israel se mostra incompetente, jornais ocidentais certamente farão um "bom trabalho" ao ocultar, distorcer e inventar fatos que favoreçam Israel, a "menina dos olhos" dos Estados Unidos. E assim tudo voltará a ser como dantes no quartel de Abrantes...




Jones F. Mendonça

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

OS ASSÍRIOS E A ARTE DA GUERRA

Muitas das técnicas militares empregadas pelas forças armadas modernas possuem raízes nos exércitos da antiguidade. Antes dos romanos (famosos por sua engenhosidade militar) os assírios já tinham desenvolvido táticas e equipamentos de guerra capazes de torná-los bem superiores a seus adversários. As técnicas de transposição de curso d'água são um exemplo. A primeira imagem mostra um soldado moderno empregando uma técnica para flutuar com mais facilidade (a calça inflada serve como bóia, seu equipamento vai numa espécie da balsa improvisada chamada "pelota").  Nas segunda imagem temos um soldado assírio transpondo um rio com a ajuda de uma espécie de bexiga cheia de ar. O elevado potencial militar dos assírios levou um dos seus generais a gabar-se diante dos líderes israelitas: "será que o deus de alguma nação conseguiu livrar sua terra das mãos do rei da Assíria? (2 Rs 18,33)".

Soldado assírio. Fonte.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

20 DE SETEMBRO: TEREMOS UM ESTADO PALESTINO?

No dia 20 de setembro Mahmoud Abbas solicitará a adesão de um Estado Palestino à ONU. A União Europeia e os Estados Unidos tem feito de tudo para impedir que a Assembleia Geral aprove uma resolução que favoreça o povo palestino (como já previa a resolução 181 de 1947). Uma deputada americana chegou a defender que o Congresso bloqueie os fundos que os EUA destinam a qualquer país que apoie o reconhecimento do estado Palestino (o Brasil é um deles). Eles argumentam que é preciso buscar uma solução para o problema por meio do diálogo com Israel.  Mas quem conhece de perto o conflito sabe muito bem que nunca, jamais, Israel vai devolver amigavelmente Jerusalém Leste e a Cisjordânia ao futuro Estado da Palestina. 

Israel tem preparado seus soldados para uma possível revolta  popular palestina. Caso o Estado Palestino seja reconhecido, espera-se um banho de sangue (de palestinos, é claro). Enquanto isso o número de assentamentos judaicos em territórios ocupados só aumenta. Palestinos, estou com vocês!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A BÍBLIA DE LUTERO E O CÂNON DENTRO DO CÂNON

Deus como criador. Bíblia de Lutero.
Em 1534 foi publicada a primeira edição da Bíblia traduzida por Lutero. Ao contrário do que muita gente pensa ele não foi o primeiro a traduzir a Bíblia para o alemão. Antes da publicação do seu Novo Testamento, em 1522, já haviam sido feitas 18 traduções da Bíblia para esse idioma[1]. 

Para o Antigo Testamento ele recorreu à Bíblia hebraica publicada na Bréscia, Itália, em 1474. A canonicidade dos livros vétero-testamentários de Tobias, Baruc, Judite, Sabedoria, Eclesiástico e Macabeus foi questionada (mas não negada). Eles foram colocados num apêndice não numerado trazendo a seguinte observação: “Estes livros não estão em pé de igualdade com a Escritura Sagrada, mas ainda assim são proveitosos e bons de se ler[2]”. Num prefácio ao livro de Judite escreveu: “Por isso este livro é um excelente, bom, santo e útil, certamente digno de ser lido por nós, cristãos”[3]. Tais livros foram excluídos na Confissão Galicana de 1559 e na Confissão Belga de 1561[4]. A Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira decidiu omiti-los de suas Bíblias a partir de 1827[5].

Para o Novo Testamento foi consultado o texto grego de Erasmo. Os livros de 2 Pedro, 1 e 2 João, Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse também tiveram sua autoridade questionada pelo reformador[6]. Eles foram colocados depois dos demais livros, que ele considerava como sendo “os verdadeiros, seguros e mais importantes do NT”[7]. Tiago foi chamado de “epístola de palha” e Judas de “epístola desnecessária”[8]. Tais livros foram, mais tarde, reinseridos no cânon tradicional pelos reformadores[9].  Lutero entendia que o cânon não deve ser definido baseando-se nas tradições da Igreja nem por demonstração histórica, mas pelo fato de pregarem a Cristo[10]. Nas palavras de Lutero: “Tudo aquilo que Cristo não prega não é apostólico, mesmo que seja escrito por São Pedro ou São Paulo... Tudo aquilo que Cristo prega seria apostólico mesmo que procedesse de Judas, Pilatos ou Herodes”[11].

Como se vê, Lutero fazia uma leitura seletiva da Bíblia. Caso determinado texto estivesse de acordo com sua teologia, o livro era aceito, do contrário, ou era rejeitado ou recebia um valor menor no cânon. Lutero pelo menos era honesto...

Notas:
[1] Lutero, o escritor, volume III, p. 122.
[2] SCHOLZ, Vilson. Princípios de interpretação bíblica, p. 22.
[3]V.8, 28-33; cf. Bíblia de Lutero, edição de 1545, in loco apud Lutero, o escritor, volume III, p. 125, 126.
[4] DEL RIO, Javier Quezada. Los hechos de Dios:  que es la Bíblia, p. 38.
[5]LIMA, Alessandro Ricardo. O cânon bíblico: a origem da lista dos livros sagrados, p. 91.
[6] BRAATEN, Carl E.; JENSON, Robert W. Dogmática cristã, volume I, p. 81.
[7] VV.AA. Lexicon: dicionário teológico enciclopédico, p. 90.
[8] PARTINGTON, George. Estudios de doctrina cristiana, p. 30.
[9] VV. AA. Lexicon: dicionário teológico enciclopédico, p. 90.
[10] FEINER, Johannes. Mysterium Salutis: Manual de teología como historia de la salvación, p. 433.  
[11] DURANT, Will. A reforma, p. 310.

Jones F. Mendonça

AS CAUSAS DA REFORMA SEGUNDO IRWIN ISERLOH

Lutero teve lá seus defeitos, mas não é possível negar que muitas de suas críticas foram legítimas. Até mesmo estudiosos católicos como Irwin Iserloh enfatizam que a Igreja da época da Reforma vivia um momento de decadência moral sem precedentes:

1) Os Papas do renascimento: Alexandre VI (1492-1503), Julio II (1503-1513), Leão X (1513-1521), não possuíam a força espiritual necessária para fazer frente aos acontecimentos.  Leão X, por exemplo, se caracterizou pela falta de convicções e de seriedade; 

2) A precária situação do clero e do povo: A busca de honras e dinheiro era regra geral na instituição eclesiástica, que caminhava junto com o abandono da pastoral do povo pelos prelados e presbíteros. Tal situação causou no povo um ressentimento contra a Igreja, que muitas vezes foi considerada uma "potência estrangeira"; 

3) Falta de clareza dogmática e perversão da vida religiosa: O campo de verdade e erro não foi definido claramente. Por exemplo, Lutero ainda era considerado parte da Igreja quando o papa era apelidado de Anticristo. Em relação com a eclesiologia havia uma enorme confusão doutrinária, causado pelas teorias papais e anti-papais que proliferaram a partir do século XIV. O mesmo pode ser dito sobre os sacramentos. A teologia dos séculos XIV e XV não abordou a questão da missa de maneira adequada. O ensino sobre a doutrina da Eucaristia limitava-se a considerar a questão da transubstanciação do ponto de vista da filosofia da natureza.



Fonte: VILANOVA, Evangelista. Historia de la teologia Cristiana, p. 217,218.


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O PAPA, A BÍBLIA E AS CONFISSÕES DOUTRINÁRIAS

Discussão entre um católico e um protestante sobre o cânon bíblico. Cada qual reúne seus argumentos. O católico apela para os concílios ecumênicos. O protestante para os reformadores.  Na ótica dos católicos os concílios ecumênicos expressam a vontade de Deus na terra (foi num desses concílios que Jan Hus foi declarado herege e condenado à fogueira – Constança, 1415). Os protestantes, que ingenuamente criticam a tradição dos católicos, apóiam-se também na tradição para sustentar a canonicidade dos seus livros sagrados (e pensar que Lutero rejeitou, ou pelo menos deu menor valor canônico, aos livros de Hebreus, Tiago e Apocalipse).

Com o Antigo Testamento a coisa também não é simples. Normalmente se diz que o concílio de Jâmnia, em 90 d.C., definiu os livros considerados canônicos pelos judeus. Ficaram de fora os chamados deuterocanônicos (Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e Macabeus). Mas espere, esse é o cânon dos judeus da Palestina. Os judeus de Alexandria aceitaram tais livros como Palavra de Deus (cânon alexandrino). E o que dizer do cânon dos etíopes? Para eles até Enoque, inserido em suas Bíblias após o livro de Jó, é inspirado! E pensar que ainda existe o cânon samaritano...

A ideia de que existe um cânon universal possui um fundamento frágil. O que existe é o cânon desta ou daquela comunidade. Ou ainda, o “meu cânon”. Aliás, na prática é o que todas as denominações fazem. A leitura é sempre seletiva. Determinados textos ou são deixados de lado ou são interpretados de acordo com a vontade do líder. Neste caso temos cânons em miniatura e papas em miniatura, cada qual com sua infalibilidade ex-catedra. Complicado, não acha?

Por expor à nudez esse problema, um “protestante de reta doutrina”, diria que sou um “liberal”, “modernista”, e outros adjetivos que eles adoram. Um dos princípios dos reformadores: “igreja reformada sempre se reformando” (Ecclesia Reformada Semper reformanda), não diz respeito a uma periódica e constante reforma doutrinária, baseada em novas interpretações das Escrituras surgidas a partir de estudos recentes, mas uma reavaliação à luz das suas confissões para evitar os chamados “equívocos de interpretação”.   O documento (confissão reformada) torna-se o novo Papa, exceto se tal confissão for considerada apenas como uma referência, um horizonte. Mas há cristãos dispostos a isso?


Jones F. Mendonça