sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A BOA E VELHA GUERRA FRIA

Experimente ler sobre o conflito na Síria em jornais como o The New York TimesJ Post e até mesmo o Al Jazeera (cada vez mais pró-ocidente). Depois leia o RT (Russia Today) e o IRNA (Islamic Republic News Agency). A guerra é uma só. As visões sobre ela são múltiplas. 

A Síria (e todo o Oriente Médio) é um tabuleiro de xadrez (ou de gamão). Os principais jogadores são velhos conhecidos nossos. Uma plateia assiste a partida como se fosse uma batalha entre o bem e o mal. Há algo novo debaixo do sol? 

Charge: Carlos Latuff

Jones F. Mendonça

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

DEMITIZANDO BULTMANN

Sempre que leio uma crítica à teologia liberal o nome de Rudolf Bultmann aparece em destaque. Estranho. O teólogo da desmitologização (ou demitização) foi, ao lado de Karl Barth, um crítico da teologia liberal. Num ensaio de 1924 Bultmann escreveu: “O objetivo da teologia é Deus, é a acusação contra a teologia liberal é esta: ‘ela não tratou de Deus, mas do ser humano’”.

Possuo “Jesus Cristo e mitologia”, de Bultmann. O livro é uma tentativa de salvar o cristianismo da ameaça da teologia liberal com idéias tomadas do existencialismo de Heidegger. O próprio Bultmann admite ter recebido influência da filosofia de Heidegger no livro, afinal de contas, ele afirma “a exegese descansa sempre em alguns princípios e concepções que atuam como pressuposições do trabalho exegético”.  

Uns lêem o Novo testamento a partir do dogma e, portanto, a partir da interpretação que outros fizeram no passado. Outros buscam novos caminhos na tentativa de atualizar sua mensagem. Desmerecer o trabalho de Bultmann pela falta de originalidade ou por apoiar-se na filosofia é no mínimo ridículo. Como se Paulo não tivesse buscado elementos para sua pregação na mitologia judaica (que por sua vez tem raízes na Babilônia e na pérsia), no estoicismo, no epicurismo e no platonismo.

Mas este texto não pretende ser uma defesa de Bultmann. Os que já desceram à sepultura não precisam de advogado. Além do mais, sua teologia, como qualquer outra, não está isenta de críticas.  Seria um contrassenso criticar a ortodoxia por sua rigidez e permanecer atrelado a Bultmann. Mas citá-lo como o “pai dos liberais” é desconhecer a teologia do final do século XIX e seus desdobramentos no século XX.

Para que eu não seja acusado de ser um bultmanniano enrustido, deixo duas críticas ao teólogo de Marburg:

1. Ao demitizar algumas idéias mitológicas, consideradas como pré-científicas, tais como a existência de demônios, anjos, tronos celestes e curas milagrosas, Bultmann pôs o trem da teologia num trilho de uma via só. Duas questões: até onde a demitização deve ir? A crença em um Deus misericordioso e disposto a salvar o ser humano também não deve ser demitizada?

2. Bultmann recusou-se a substituir o mito pela história como queriam os liberais. Ele desprezou a história como fundamento da fé (para ele o importante é a história que se realiza hoje, uma fé existencial) e passou a valorizar o querigma. Novas perguntas: até que ponto a história de Jesus é irrelevante para a fé? Uma fé sem concreticidade histórica subsiste?

Bultmann tocou em feridas. E elas ainda estão abertas. Desconfio que a repulsa que alguns teólogos/pastores conservadores cultivam por Bultmann não é por discordarem de suas idéias. É por medo das desconfortáveis implicações que elas trazem. Muitos estão dispostos a aceitar que não há tronos no céu. Que o inferno não fica embaixo da terra. Que Deus não solta fogo de suas narinas e nem lança raios montado em querubins. Mas poucos estão dispostos a refletir honestamente sobre os questionamentos levantados por Bultmann.

Bultmann virou sinônimo de herege. Logo ele, tão crente.


Jones F. Mendonça

domingo, 26 de agosto de 2012

CADA QUAL TEM O "AIATOLÁ" QUE MERECE

É bem conhecida de todos a intolerância e o radicalismo dos aiatolás, mais altos dignatários na hierarquia xiita. A influência que tais líderes possuem no Irã é imensa. Ganhou ampla repercussão na mídia a restituição de Haydar Moslehi, demitido por Ahmadinejad, ao posto de ministro da inteligência, sob a ordem do atual aiatolá, Ali Khamenei

Em Israel a relação entre religião e política não é muito diferente. Na semana passada o Haaretz e o J Post divulgaram que o primeiro ministro de Israel, Benjamin Natanyahu, consultou o atual líder do partido Shas, Ovadia Yosef, sobre um possível ataque às bases nucleares do Irã. Yosef, para quem não se lembra, fez declarações polêmicas em outubro de 2010, afirmando, dentre outras coisas, que "os gentios nasceram apenas para servir os judeus". 

No Haaretz de hoje (26/ago/12), é possível ler novas declarações polêmicas feitas pelo líder do Shas. Desta vez ele convocou os judeus a  orarem pela aniquilação do Irã. Como se vê, tanto em Israel como no país persa, os líderes religiosos fundamentalistas deixam em evidência a influência que exercem nas decisões políticas tomadas por seus respectivos países. 

Ao lado do partido Shas, outros grupos fundamentalistas judaicos poder ser vistos entre os  colonos (caráter nacionalista), antigos partidos religiosos (como o Agudat Israel e o Degel Hatorá) e o movimento Habad. 


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

NABI SALEH: É PROIBIDO GRITAR

No centro da Cisjordânia está Nabi Saleh, uma aldeia palestina que tem seu grito contra a ocupação israelense sistematicamente abafado pelas tropas do Estado judeu. Muitos jornalistas registram as atrocidades cometidas lá (como mostra a foto abaixo). Mas as imagens parecem não despertar interesse da mídia ocidental. 

Foto: Mondoweiss

Jones F. Mendonça

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O MITO E A MORTE

A Ilha da Morte (1880), Arnold Böcklin
Tenho colecionado mitos mundiais que lidam com temas como a ressurreição, o juízo divino, o messianismo, a era de ouro, a origem do mal e da morte. Abaixo alguns relatos que buscam explicar a origem da morte. Começo com um mito kadiwéu registrado e preservado por Darcy Ribeiro:

Brasil
Num mito difundido entre os índios Kadiwéu, no Pantanal mato-grossense, o Criador, chamado de Go-noêno-hôdi, tinha a intenção de criar um “mundo bom, uma vida fácil para os homens e assim fez”. Mas Caracará não se agradou dessa ordem e o convenceu de que isso não estava certo, pois desse modo não poderia julgar qual a mulher trabalhadeira e a mulher preguiçosa, nem o bom caçador do mau caçador. Convencido pelo Caracará, Go-noêno-hôdi transformou aquela ordem idílica na atual. Caracará também convenceu Go-noêno-hôdi de que o homem não poderia viver para sempre, afinal não haveria no futuro espaço para tanta gente (RIBEIRO, Darcy. Os kadiweu: ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza, 1980, p. 56.).

América do Norte
Entre os índios americanos o “Velho Homem” fez do barro uma mulher e uma criança. Após saber que viveria para sempre a mulher protestou indignada ao Criador: “Como é isso? Vamos viver sempre, não haverá fim?”. E ele respondeu: “Jamais pensei nisso. Temos que decidir. Pegarei este pedaço seco de estrume de búfalo e o jogarei no rio. Se ele flutuar, as pessoas morrerão, mas em quatro dias voltarão a viver novamente; elas morrerão apenas por quatro dias. Mas se ele afundar, haverá um fim para as pessoas”. Ele lançou o pedaço de estrume no rio e o estrume ficou boiando. A mulher pegou uma pedra e disse: “Não, não deve ser assim. Vou atirar esta pedra na água e se ela boiar, viveremos para sempre, mas se afundar, as pessoas terão que morrer para que elas possam ter pena umas das outras e umas lamentarem as outras”. A mulher atirou a pedra na água e a pedra afundou. “Muito bem!”, disse o Velho Homem: “Você escolheu! E assim será!" (CAMPBELL, Joseph. As máscaras de Deus, 1992, p. 224).

África:

Entre os lamba: “Os Lamba, da Zâmbia, afirma que o primeiro homem enviou um pedido ao Ser Supremo de algumas sementes, que foram logo entregues aos seus mensageiros em pequenos pacotes, com a instrução de que um deles não devia ser aberto. Mas os mensageiros sentiram curiosidade e abriram o dito pacote, do qual saiu a morte...” (PIAZZA, Waldomiro. Religiões da humanidade. São Paulo: Loyola, 1991, p. 64). 

Entre os kono: “Os kono, da Sierra Leona dizem que o Ser Supremo enviou peles novas para os homens e que as confiou a um cachorro. Mas quando este ia de caminho para a terra, abandonou o embrulho para tomar parte de uma festa. Explicou aos companheiros que tinha de levar peles novas aos homens, e a serpente, que tudo ouviu, saiu deslizando e roubou as peles, as quais repartiu entre os seus parentes. Desde então, as serpentes mudam de pele, são imortais, enquanto os homens tem de morrer...” (PIAZZA, Waldomiro. Religiões da humanidade. São Paulo: Loyola, 1991, p. 64).

Encontrei o final da história em outra obra:

“Desde então, o Homem guardou rancor pela serpente e ensaia, sempre, matá-la, em todas as ocasiões que a percebe. A serpente, por sua vez, evita o Homem e vive só. Justamente por ter guardado as peles, por Deus destinadas ao Homem, ela podia quando quisesse livrar-se de sua própria pele” (M. CAREY, 1970, PP. 18-19 apud MAZRUI, Ali A. (Edit.). História geral da África, VIII: África desde 1935. Brasília: UNESCO, 2010, p. 798).


Jones F. Mendonça

sábado, 18 de agosto de 2012

PENSAMENTOS NOTURNOS SOBRE A VIDA E A MORTE

Tela de Pierre-Auguste Vafflard (1777-1837) retratando o poeta Edward Young conduzindo o cadáver de sua filha sob a fria luz do luar. O corpo (de uma protestante) precisou ser ser carregado depois de ter sido recusado num cemitério católico. O poeta tem diante de si uma dura tarefa.  Seu semblante sereno não é de indiferença, mas de quem sabe que as lágrimas precisam esperar. O corpo de sua bela  filha parece uma escultura de mármore branco. Ela repousará numa cova aberta pela pá que seu pai conduz em agonia. Uma tela impressionante. Perturbadora.  

Que é este mundo sublunar? Fumaça;
Fumaça ele contém, ele é fumaça.
Da umidade do caos por tua luz
Chamado a navegar por sua hora
No ar, depois se esvai, desaparece. 
(Pensamentos noturnos, Edward Young)


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

AS INSTITUTAS [TEXTO ORIGINAL EM LATIM)

Tenho relido alguns capítulos de "A Reforma" de Will Durant. Um livro magnífico. Ao apresentar a vida e obra de Lutero, Calvino, Zuínglio e tantos outros, o autor mostra as virtudes, mas também o lado sombrio dos reformadores geralmente omitido em livros escritos por protestantes (o que são obras "selecionadas" senão uma coleção de textos que favorecem determinada visão?). Mas não quero falar hoje sobre textos censurados  escritos pelos reformadores. 

Durant diz que Calvino confessou em suas Institutas (III,  XXIII, 7) que o fato de Deus ter lançado tanta gente à morte eterna, sem remédio,  é um "decreto terrível". Consultei minha versão das Institutas. Está lá: "decreto espantoso". Mas "terrível" é bem diferente de "espantoso". Decidi dar uma olhada no texto original em latim. Fucei aqui e ali e acabei encontrando o que queria:

Diversos comentários de Calvino aqui (em inglês). 
Mais comentários e as Institutas em Latim (wikilivro, HTML, PDF, UTF-8) aqui

Ah, já ia me esquecendo. No latim, vem escrito: "decretum quidem horribile". 


Jones F. Mendonça

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O QUE VOCÊ VÊ?

Matéria publicada no Haaretz (03/08/12): "selo encontrado por arqueólogos israelenses pode dar substância à lenda de Sansão". Segue um trecho:
O selo, medindo 1,5 centímetros, descreve um grande animal ao lado de uma figura humana. O selo foi encontrado em um nível de escavação que remonta ao século XI a.C. Isso foi antes do estabelecimento do reino da Judéia e é considerado o período bíblico dos juízes, no qual viveu Sansão. Estudiosos dizem que a cena mostrada no artefato lembra a história de Sansão, em Juízes, lutando contra um leão.
Agora observe a imagem do selo:


O selo mostra um homem (ou uma mulher) próximo ao que parece ser um animal (um cavalo, um boi, um jumento, um leão?). Só. Alguém diz que pode ser o Sansão do livro bíblico dos Juízes (??!!). Num desses Blogs apologéticos outro vai além e diz que foi encontrada uma prova da existência de Sansão. É o fim da picada. 

Por acaso a BAR de set/out publicou um interessante artigo sobre o uso de textos na formulação de hipóteses no trabalho arqueológico. Quem assina é Kevin McGeough do Departamento de geografia da Universidade de Lethbridge. 

Leia aqui


Jones F. Mendonça

FÉRTIL CRESCENTE [MAPA EM ALTA RESOLUÇÃO]

Há muitos mapas do Fértil Crescente na Web, mas nenhum do jeito que eu quero. Com a ajuda do maps-for-free.com, do googlemaps.com, do bibleatlas.org e do Word (no Office 2007) é possível construir mapas personalizados que podem ajudar muito nas aulas de geografia das chamadas "terras bíblicas".  No mapa que preparei e estou publicando hoje, a lua crescente que vai do Golfo Pérsico ao Egito  indica uma vasta região fértil conhecida como "Fértil Crescente". 

Clique para ampliar (1400x1048). 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

AGULHA NO PALHEIRO

Encha vinte caminhões com CDs evangélicos (ou pelo menos que foram rotulados como "evangélico"). Submeta-os a uma peneira. O que sobra? Dentre meia dúzia de artistas, eis o que sobra: 


domingo, 12 de agosto de 2012

MACABEU E MACABRO: HÁ RELAÇÃO?

Xilogravura medieval mostrando a "dança macabra" (The Jewish Daily).
O The Jewish Daily, jornal dedicado ao judaísmo, mantém uma coluna muito interessante escrita por Philologos. No final de julho deste ano o periódico publicou a matéria "Maccabees most Macabre" (29/07/12), discutindo uma possível relação entre a palavra "macabeu" (ver livro apócrifo/deuterocanônico de Macabeus) e a palavra "macabro". Seria o termo "macabro" uma corruptela de "macabeu"?

Leia em inglês aqui.
Tradução para o português feita pelo Google aqui


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

E SATANÁS TROUXE... A SECULARIZAÇÃO E A REPÚBLICA!

Ao longo da história do cristianismo a figura do anticristo sempre assombrou os crentes. Nero, Juliano, o Papa, Napoleão, Hitler, George Bush e tantos outros líderes entraram na lista de suspeitos. Inspirado no sebastianismo, messianismo português fundamentado na esperança do regresso do rei D. Sebastião, Antônio Conselheiro reuniu milhares de sertanejos baianos após a proclamação da República num movimento de resistência que culminou na Guerra de Canudos. Um dos seus discursos ficou registrado nos anais da história brasileira:
“Meus irmãos, o Anticristo é chegado. [...] O ataque de Maceté constitui uma prova para nós. O meu povo é valente. O satanás trouxe a república, porém em nosso socorro vem o Infante rei D. Sebastião. Virá depois o bom Jesus separar o joio do trigo, as cabras das ovelhas. [...] Belos Montes será o campo de Jesus. [...] Os republicanos não devem ser poupados, pois são todos do Anticristo” (José ARAS, Sangue de irmãos, Salvador, Museu do Bendegó, 1953, 25 apud NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Religião de visionários: apocalíptica e misticismo no cristianismo primitivo, p. 276).
Na visão de Conselheiro o anticristo era, quem diria, a República. Além dos novos impostos decretados pelo governo republicano, o “rebelde conservador” levantou-se contra medidas secularizadoras como a separação entre a Igreja e o Estado e a introdução do casamento civil. O que Lutero fez questão de separar, Conselheiro insistiu em juntar novamente. O que Dietrich Bonhoeffer e Harvey Cox viram como uma necessidade, Conselheiro viu como uma ameaça.

A grande ironia disso tudo: o secularismo virou, na retórica evangélica, o maior dos demônios. Sob seu cetro, os "demonóides”: humanismo, racionalismo, individualismo e tantos outros “ismos”. Com o enfraquecimento do poder da Igreja surgiram alguns grupos. Há quem deseje um retorno à Idade Média, aos valores rígidos ditados pela igreja e a uma ciência sob as rédeas da fé. Outros preferem que o mundo siga o seu curso em meio aos desafios da modernidade. Há ainda os que causam alarde no povo com seus discursos escatológicos inflamados. Em suma, uns querem um retorno ao passado. Outros preferem seguir em frente apesar dos desafios. Outros preferem... bem, outros preferem fugir do mundo, sumir, "não ser".  


Jones F. Mendonça

NETANYAHU: IRÃ É GOVERNADO POR UM REGIME FANÁTICO QUE PRETENDE IMPOR UMA DOMINAÇÃO ISLÂMICA GLOBAL


Palavras do primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu durante um debate sobre o programa nuclear iraniano (J Post,09/08/12):
o Irã é governado por um "regime fanático" que se vê em uma missão sagrada de dominação islâmica global, e destruir Israel é apenas um passo em direção a sua visão maior.
Destaque para “regime fanático”, “missão sagrada” e “dominação islâmica global”. Se algum líder muçulmano (ou qualquer outra pessoa) dissesse que Israel é governado por um “regime fanático” que pretende impor ao mundo uma “dominação judaica” motivada por “ideais sagrados”, isso seria visto pela direita israelense e americana como antissemitismo. Ia ser aquele “bafafá”. As “carpideiras descabeladas” fariam um escândalo só.

Ah, mas as palavras foram ditas por Netanyahu, líder da “nação escolhida”. Ele pode tudo, né?


Jones F. Mendonça

domingo, 5 de agosto de 2012

A LIMPEZA ÉTNICA DA PALESTINA: ILAN PAPPE

Há muitas versões sobre o que motivou a saída dos palestinos de suas casas na guerra de 1948. Ilan Pappe, historiador israelense, professor sênior da Universidade de Haifa  e autor do polêmico livro "A limpeza étnica da Palestina" (ainda não traduzido para o português), apresenta numa entrevista sua visão sobre o que considera "um caso claro de uma operação de limpeza étnica, considerado pelo direito internacional como um crime contra a humanidade". Assista e tire suas próprias conclusões.



Jones F. Mendonça

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

SITE SOBRE A IDADE MÉDIA

Fuçando aqui e ali acabei caindo de paraquedas num excelente (e bem ilustrado) site sobre a Idade Média: RicardoCosta.com. O site é mantido por Ricardo Costa, historiador brasileiro especialista em filosofia e cultura da Idade Média. Um dos atrativos que posso destacar é a tradução de textos medievais disponíveis para leitura. 

Vale ler: Sermão 80 sobre o Cântico dos Cânticos, de autoria de Bernardo de Claraval (1090-1153). Ficou animadinho? Não espere muita paixão.


Jones F. Mendonça

AS CARPIDEIRAS DESCABELADAS

Carpideiras numa tumba
 egípcia (detalhe).
Alguém critica a política do governo dos EUA: o indivíduo é anti-imperialista. Alguém critica a política de Israel: o sujeito é antisssemita. No primeiro caso a crítica é associada ao modo como os EUA vêem e se relacionam com os outros países, particularmente os mais pobres. No segundo enxergam racismo. Mas não é difícil entender porque isso acontece. Israel é considerado pelos sionistas como um “Estado judeu” (uma teocracia?). Então, na mentalidade de muitos israelenses (e cristãos pró-Israel), se você critica a política de Israel está criticando também uma religião e uma etnia. Entende?

Agora veja, Romney visitou Jerusalém e comparou a renda per capita de Israel com as áreas administradas pala OLP (Organização para a libertação da Palestina). Declarou que o sucesso econômico de Israel deve-se a sua cultura (superior?) e à intervenção da “providência divina” (Deus... sempre Deus...). Para finalizar referiu-se a Jerusalém como capital de Israel, status que nem os EUA reconhecem! O candidato republicano, pelo que sei, não foi rotulado, pelo menos pela mídia conveniente, de anti-árabe, islamofóbico ou racista. 

A grande ironia, meus caros, é ler o que foi publicado hoje no J Post: “Ahmadinejad anti-Semitic rant a wake up call (02/08/12). O líder iraniano, que não é mais santo e nem mais demônio que qualquer outro líder político, declarou, segundo o jornal israelense, que “o regime sionista controla a mídia mundial e o sistema financeiro” e que “qualquer um que ama a liberdade e justiça deve se esforçar para a aniquilação do regime sionista”.  Tal discurso foi visto como antissemita pelo jornal mesmo sem que o líder iraniano pronunciasse a palavra “judeu” A coisa funciona assim: Alguém fala “sionismo” e o grupo pró-Israel-a-qualquer-custo entende “judeus”. Mas alguém apela à minha honestidade. E eu reconheço: Pode até ser que por trás do discurso cuidadoso de Ahmadinejad exista um homem racista e obstinado pela destruição do povo judeu. Mas o que ele apenas insinua, o ocidente faz: Iraque, Afeganistão, Líbia, Gaza...

A diferença entre as ditaduras do Oriente Médio e a democracia do Ocidente é uma só. Os primeiros matam em praça pública. O sangue jorra em frente às câmeras. No Ocidente não, a maldade é feita de maneira hipócrita. Mata-se nas sofisticadas câmaras de gás, nas cadeiras elétricas, nos porões dos serviços secretos e nas guerras “cirúrgicas”. Tudo muito higiênico, esterilizado, limpinho!

Homney, Ahmadinejad, Bush, Sadan Russein, Obama, Bashar al-Assad, Netanyahu, Kadhafi… todos, farinha do mesmo saco. A grande mídia faz o papel de carpideira. Chora não pelo defunto, mas por quem paga mais.

Jones F. Mendonça

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

ROMNEY VISITA ISRAEL E SÓ FALA BOBAGENS

Impublicável. Leia no Ópera Mundi


Jones F. Mendonça

BELAS FOTOS DA SÍRIA [SEM A DROGA DA GUERRA]

Encontrei por acaso fazendo buscas por fotos do Rio Tigre e do Eufrates na  WEB: SyriaLooks. A foto abaixo é do Eufrates na região da Síria. No site você também poderá ver fotos de Aleppo, atualmente assolada pela guerra.  

Clique para ampliar


Jones F. Mendonça

COMO CRIAR UMA ÁSPIDE


Um policial atira na perna de um rapaz acusado de seqüestro. O povo grita: "morte ao malfeitor!". A turba enfurecida esbraveja: “Direitos humanos, para quê precisamos dele?”. Nem a lei de talião era tão cruel.

Compreendo o comportamento do policial, cansado de ver bandidos levados aos tribunais escaparem do martelo da condenação. Compreendo a aprovação do povo, indignado com a impunidade. Mas compreender não significa aprovar.

A culpa, dirão alguns, é do “Sistema” (com letra maiúscula mesmo!). O Sistema seria uma espécie de força oculta, com vida própria. Uma espécie de Satã que permeia todas as esferas da nossa vida, manipulando e corrompendo nossos belos projetos para uma sociedade perfeita. 

Admito que a sociedade se desenvolva num complexo sistema de forças. Reconheço que o policial, mal pago, mal equipado, mal formado e inserido num ambiente em que reinam a crueldade e violência sem limites, seja levado a descarregar seu ressentimento no gatilho de sua arma. É, aceito. Mas não estaríamos projetando no Sistema falhas que são nossas?

Ao dizer sim a comportamentos como este, a população estará dando ao policial o poder de julgar, condenar e em alguns casos executar indivíduos sem o direito de defesa.  Hoje o tiro atinge um bandido. Amanhã um inocente. Hoje a bala perfura a carne de um delinqüente. Amanhã o peito do seu filho.

Quando isso acontecer, a mesma mão que acariciou a áspide condenará o seu bote. E a culpa será sempre do Sistema.


Jones F. Mendonça