terça-feira, 9 de outubro de 2012

PAULO, O CRISTIANISMO PRIMITIVO, A TRADIÇÃO E A LEI JUDAICA


Quanto à sujeição dos cristãos à lei judaica, o Livro de Gálatas registra as seguintes palavras de Paulo: “nem mesmo Tito [...] foi obrigado a circuncidar-se, apesar de ser grego. [...] Não nos submetemos a eles [os judaizantes] nem por um instante“(Gl 2,3.5).  Em Gálatas fica nítida a oposição que Paulo faz a Pedro (2,12), a “alguns da parte de Tiago” (2,11) e a Barnabé (2,13), todos com tendências judaizantes. Supor que o motivo da separação ente João Marcos e Paulo na Panfídia tenha sido a tendência judaizante do primeiro não chega a ser um desatino.

Mas o livro de Atos mostra um Paulo mais ameno, longe da polêmica antijudaica. Em Atos 16,3 ele circuncida Timóteo, um cristão estimado em Listra, filho de mãe judia e pai grego. O motivo da sua não circuncisão  na infância Lucas não diz, mas o motivo da circuncisão tardia está lá: “por causa dos judeus que viviam naquela região”. A intenção não seria teológica, mas estratégica (Shaul entre os judeus, Saulo entre os gregos e Paulus entre os latinos). Em Atos 18,18 Paulo chega a fazer um voto de nazireu antes de embarcar para a Síria, no norte da Palestina (veja também At 21,26). Ainda que o apóstolo tenha dito em sua carta aos gálatas que não se submetera aos judaizantes “nem por um instante”, o livro de Atos parece registrar alguns momentos em isso aconteceu. O próprio Paulo explica o que o motivou sua sujeição à lei entre os judeus: “tornei-me como se estivesse sujeito à lei, a fim de ganhar os que estão debaixo da lei” (1Co 1,20).

Mas em diversas passagens a posição de Paulo em relação ao valor da lei parece ambígua. Apesar de afirmar que ninguém será declarado justo pela obediência à lei (3,20), ele insiste que a lei não é anulada pela fé (3,31). Ao mesmo tempo em que diz (citando Isaías): “apenas o remanescente [de Israel] será salvo“ (Rm 9,27), num outro momento declara: “Todo o Israel será salvo” (Rm 11,26). Confuso?

Há quem pense que algumas cartas de Paulo sofreram remendos, daí as “contradições” e “incoerências”. Outros defendem que Paulo jamais rompeu com o judaísmo. Suas cartas, particularmente Romanos, deixariam clara sua posição: judeus convertidos (como ele e Timóteo) devem seguir a lei, os gentios não. Por fim há os que entendem ser Paulo um sujeito confuso, atormentado pela tentativa de conciliar a prática da lei judaica com a salvação pela graça.   

Se você se interessa pela teologia paulina e pelas questões apresentadas acima, talvez queira de ler (em inglês) a última publicação da BAS (Biblical Archaeology Review): “Paul: Jewish Law and Early Christianity” (Paulo: lei judaica e cristianismo primitivo). Eis um pequeno resumo do conteúdo do Ebook apresentado pelo site da BAS:
Nesta última publicação da BAS os melhores estudiosos bíblicos examinam o papel controverso da lei e da tradição judaica no cristianismo primitivo. Paulo, o apóstolo que escreveu a maior parte do Novo Testamento, discutiu o papel do judaísmo entre os seguidores de Jesus em uma série de cartas. Embora Paulo tenha pregado a justificação pela fé em Cristo, ele era fariseu e abordou o papel das tradições judaicas e da condição de Israel na nova aliança.
Para baixar o ebook (e muitos outros) basta fazer um cadastro no site. Faça isso aqui.


Jones F. Mendonça

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