sexta-feira, 29 de junho de 2012

quinta-feira, 28 de junho de 2012

TUDO FLUI

Num dia é brasa viva, noutro é cinza.
Num dia é lava fumegante, noutro é rocha fria.
Num dia é paixão, noutro, indiferença, repulsa, ódio.
Num dia é coração que pulsa, noutro é pó.
Como bem disse Qohelet, a vida é um sopro.

Num dia é pó, noutro, coração que pulsa.
Num dia é ódio, repulsa, indiferença, noutro, paixão.
Num dia é rocha fria, noutro, lava fumegante.
Num dia é cinza, noutro, brasa viva.
Com bem disse Qohelet, a vida é um ciclo. 

Jones F. Mendonça

terça-feira, 26 de junho de 2012

A PALESTINA [MAPA]

O rio Jordão nasce aos pés do Monte Hermon e desce serpenteando até desaguar no Mar da Galileia. O lago que tem nome de mar transborda e suas águas descem pelo vale do Jordão (a região mais profunda do planeta) até que encontram o Mar Salgado, cujo teor de salinização é cerca de seis vezes mais intensa que a dos oceanos. Gaza, fundada pelos filisteus  no século XII a.C.,  está ali, às margens do Mediterrâneo. Ao norte está o Monte Carmelo, tradicional cenário do confronto entre o Elias e os profetas de Baal. Seguindo em direção ao nordeste encontramos Cafarnaum, cidade onde passou a residir Jesus após sua fuga de Nazaré. Jerusalém, fundada por Davi e Samaria, fundada por Omri, entreolham-se, cheias de ressentimento, na região central da Palestina.

Se você tem dificuldade em situar geograficamente os locais citados acima, observe o mapa abaixo: 
Mapa da Palestina, por Jones F. Mendonça

"DESMONTANDO" O TEXTO HEBRAICO

O primeiro contato com o hebraico é sempre traumático: texto escrito da direita para a esquerda, consoantes muito semelhantes, sinais vocálicos que mais parecem respingos de tinta, etc. Com o objetivo de facilitar o aprendizado dos meus alunos, tenho desenvolvido um material que visa concentrar em poucas páginas o conteúdo apresentado em sala de aula. Abaixo mais um exemplo do meu esforço em tornar as aulas de hebraico mais agradáveis e produtivas:

Hebraico - tabela de tradução 1

sexta-feira, 22 de junho de 2012

LINKIN PARK - POINTS OF AUTHORITY

O mundo se dissolvendo sob um avião sem destino certo. Trágico, alguém dirá. Mas se ao fundo toca "Points of Authority", do Linkin Park, o acontecimento se transforma numa baita aventura. 


quinta-feira, 21 de junho de 2012

WILLIAM CRAIG E RICHARD DAWKINS: QUEM É O MAIS CHATO?


O primeiro é cristão, o segundo, ateu. Ambos são apologistas: Craig esforça-se em mostrar que é possível crer em Deus usando a razão (ele usa inclusive fórmulas matemáticas!).   Dawkins empenha-se em anunciar que “Deus é um delírio”. Dois chatos. Craig é metódico, sistemático e lógico (na verdade seu castelo lógico é construído sobre a areia). Dawkins é debochado, preconceituoso e tão desonesto quanto Craig.

Faço um trabalho sobre filosofia da religião e preciso ler um pouco do que os dois escrevem. Teria sido melhor escrever sobre o vento, a poeira ou faíscas cintilando numa noite escura.


Jones F. Mendonça.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

ARTE NO GOOGLE ART PROJECT


Mais uma opção para quem gosta de apreciar obras de arte produzidas pelos grandes mestres da pintura é o Googleartproject. Além de belas telas o site também contém preciosidades como o rolo de Isaías encontrado em Qumran (1QIsa)

Divulgue!


Jones F. Mendonça


sexta-feira, 15 de junho de 2012

O PASTOR, A SERPENTE E O PSIQUIATRA

BALDUNG GRIEN, Hans
Eva, a serpente e a morte
1510-12
Em 1948 o psiquiatra Willian Sargant foi convidado a passar um ano como professor visitante de psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade Duke, na Carolina do Norte, localizada no conhecido “Cinturão Bíblico”. Muitíssimo interessado nos chamados “cultos de possessão”, Sargant ficou bastante entusiasmado ao ler nos jornais locais relatos de pessoas manipulando cobras venenosas em cultos revivalistas. Após fazer contato com um pastor da região, o psiquiatra partiu para a igreja com sua esposa, sua máquina fotográfica e seu gravador. Suas experiências e impressões foram registradas no capítulo 20, “Revivals nos EUA”, do livro “A possessão da mente: uma fisiologia da possessão, do misticismo e da cura pela fé” (Imago, 243 páginas.). Eis um pequeno trecho (p. 224):
O tabernáculo Zion em Durham era um salão pequeno. O pregador ocupava um espaço quadrado diante de uma plataforma para onde os participantes exaltados afluíam no decorrer da reunião. Entre eles e a plataforma permanecia um coro, cantando e batendo palmas ritmicamente. O pastor Bunn e seus crentes temiam manusear essas cobras venenosas antes de notarem certos sinais que constituíam a prova de que o Espírito Santo descera na reunião e possuíra a congregação, e assim protegendo-os do mal. Os sinais eram dados por algumas das pessoas presentes apresentando os assim chamados “exercícios do Espírito”. Na realidade esses exercícios eram agitações e tremores histéricos do corpo e dos membros,ocorrendo habitualmente pouco depois do início da música do harmônico e do acordeão, e só então é que não havia perigo em abrir a caixa, tirar dali as cobras e passá-las de mão em mão. Assim que as cobras surgiam a excitação do grupo aumentava enormemente, e de maneira óbvia o pastor conseguia controlar a excitação reduzindo ou acelerando o compasso das palmas. Se desejava pregar, fazia então com que a congregação passasse temporariamente por um silêncio respeitoso.
Nas demais páginas, Sargant estabelece ligação entre o manuseio de serpentes, sexo, paralelos do fenômeno com cultos africanos, conversão religiosa, suicídio, loucura, hipnose, transe, êxtase e possessão. Apesar do seu ceticismo, o psiquiatra confessa: “minha esposa observou-me que eu parecia estar tão hipnotizado e em transe quanto os manuseadores de cobras que eu fotografava”. 

A notícia, veiculada pela mídia, da morte do pastor pentecostal Mark Wolford, no dia 27/05/12, após manusear uma cascavel durante um culto (inspirando-se em Mc 16,18), é apenas um dentre muitos casos.  E pensar que tudo começou com Eva, a primeira que ousou desafiar o bicho mais astuto da terra!


Jones F. Mendonça

segunda-feira, 11 de junho de 2012

(QUASE) TODOS CONTRA RICARDO DE GONDIM


O juízo final, Jacob 
van Campen
A maioria dos Blogs evangélicos não fala de outra coisa: Gondim é um herege. Tudo porque o pastor resolveu defender publicamente: 1) que Deus não conhece as ações futuras das suas criaturas (uma opção voluntária do próprio Deus, com a finalidade de dar ao homem e a mulher verdadeira liberdade); 2) que a volta de Cristo (parousia) não será nas nuvens (tal descrição estaria condicionada a uma visão de mundo pré-científica, tal como defendia Rudolf Bultmann); e 3) que os não-cristãos também podem alcançar a salvação. Atenho-me hoje a declaração número um.

Os artifícios empregados por teólogos para resolver o conflito entre soberania divina e liberdade humana são muito criativos, mas todos falhos do ponto de vista lógico (nem discuto aqui versículos bíblicos, uma vez que entram em conflito entre si e, como consequência, são manipulados de acordo com as crenças de cada um). Calvino, por exemplo, dizia que até o pecado de Adão e Eva foi pré-ordenado por Deus. Ainda assim insistia em dizer que não pode ser imputada ao Criador a responsabilidade pelo pecado. Ora, faça-me o favor!

Para Armínio Deus não determina as ações humanas, mas as conhece de antemão. Fica a pergunta: se Ele (ou Ela) as conhece de antemão, já não temos um determinismo? Se a história de cada indivíduo foi escrita antes da “fundação do mundo” haverá alguém capaz de escapar dessa história escrita a ferro e a fogo? Personagens de um livro só fazem o que o autor escreveu (e se o autor da história humana não é Deus, quem é?).  

Gondim também não apresenta uma solução satisfatória para o problema. Ao dizer que Deus, num determinado momento (cronológico ou lógico, tanto faz), decidiu abrir mão de sua soberania, acaba por admitir que “antes” dessa decisão Deus era soberano e onisciente, e que, portanto, pré-determinou as ações humanas tal como defendia Calvino. O “abrir mão de sua soberania” seria mero “esquecimento” daquilo que já foi desejado e efetuado. Para ser coerente Gondim precisaria ser mais radical e defender que a soberania não é um atributo divino.

Todas as soluções apresentadas não passam de tentativas de entender o funcionamento de Deus. Tolas racionalizações humanas.  Meros discursos sobre o divino. A teologia de Gondim não é nova e nem melhor do que a de ninguém. E por que ainda fico com o pastor da Betesda? Por seu protesto, por sua coragem em desafiar o sistema, por seu lado humano. Gondim não é hipócrita, o que, em tempos modernos, já é uma grande virtude.


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 8 de junho de 2012

FILOSOFIA NAS LÍNGUAS ORIGINAIS (PARMÊNIDES, PLATÃO, EPICURO, SÊNECA, AGOSTINHO, NIETZSCHE...)

Há alguns anos, lendo o "Fédon" e "O Banquete", de Platão, fiquei curioso quanto as palavras gregas dos textos originais traduzidas por alma, amor, etc.  Dia desses, o André, meu aluno, sentiu-se atormentado pela mesma questão ao ler "A República". 

Eis alguns endereços úteis onde é possível encontrar textos filosóficos nas línguas originais, desde Platão a Nietzsche (é quase uma heresia pô-los lado a lado): 



Experimente ler o Fédon, de Platão, em grego (faça a opção "texto original" ou "inglês" em "hide Display Preferences", no canto inferior direito) ou "O Banquete" (com notas explicativas) aqui e aqui.

Talvez você queira ler "A República" com comentários no Google Livros (visualização completa). Faça isso clicando aqui.


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A PALESTINA NO PRIMEIRO PERÍODO DO FERRO: 1180-900 a.C. [MAPA]

Certa vez baixei alguns desses programas que confeccionam mapas.  Os softwares são complicados e o resultado final é um trabalho com poucos atrativos visuais. Desde então tenho me aperfeiçoado em produzir mapas no Word. Sim, é isso mesmo, no Word. Uma das minhas maiores dificuldades foi encontrar uma maneira de pôr em evidência determinadas áreas, sem que isso comprometesse a imagem de fundo. Abaixo o resultado final de minhas experiências:


MARIO LIVERANI: PARA ALÉM DA BÍBLIA, PARTE II [APONTAMENTOS]


Continuação (leia o post anterior clicando aqui).

Depois de discorrer no quarto tópico sobre o domínio egípcio, Liverani passa a falar sobre a “a ideologia egípcia” (pp. 38-42). Ele destaca que os reis locais da Palestina se dirigiam ao Faraó como “Sol de todas as eras” e como “deuses” (no plural, à semelhança do hebraico elohim). Como demonstração de reverência prostravam-se “sete e sete vezes” (ou seja, sete vezes de bruços e sete vezes de costas) diante do soberano egípcio e declaravam-se “terreno do seu caminhar” e “escabelo sob seus pés” (Liverani comenta sobre as figuras que ornamentam a sandália de Tutankamon, por isso inseri uma foto sua, que não aparece no livro). Alguns textos produzidos por reis cananeus e citados por Liverani falam por si só: 
Ouvi as palavras do rei meu Senhor e meu Sol, e eis que protejo Megido, cidade do rei meu Senhor dia e noite: de noite eu protejo os campos com os carros, de noite protejo as muralhas do rei meu Senhor. Mas eis que é forte a hostilidade dos inimigos (habiru) no lugar (LA 88, de Megido).

Tudo o que sai da boca do rei meu Senhor, eu observo isso dia e noite  (LA 12, de Ascalon).
 Outro exemplo que põe em evidência a absoluta submissão dos reis cananeus em relação ao Faraó é um breve juramento de fidelidade: “jamais nos rebelaremos contra Sua Magestade”. O juramento se concretizava no pagamento de um tributo anual, hospedagem de mensageiros e caravanas egípcias e no fornecimento de princesas para o harém real acompanhadas de um rico dote.

Um último ponto destacado por Liverani quanto às relações entre os reis cananeus e o Faraó é a indiferença deste último frente aos pedidos de ajuda dos reis locais para combater seus inimigos. Os reis cananeus estavam habituados a um sistema de relações políticas baseado na reciprocidade, que não tinha correspondência na ideologia egípcia. Liverani apresenta mais textos produzidos por reis cananeus: 
Vê: Turbasu foi morto na porta de Sile, e o rei ficou calado/inerte! (LA 41, de Jerusalém).

Saiba o rei meu Senhor que se salvou Biblos, serva do rei, mas é muito forte a hostilidade dos inimigos (Habiru) cntra mim. Não fique calado/inerte o meu Senhor em relação a Sumura, que não passe tudo da parte dos inimigos (habiru)! (LA 132, de Biblos).
Por fim, Liverani conclui: “o único interesse do faraó estava em manter sob controle o sistema, pois sabia muito bem que o eventual usurpador de um trono local haveria de lhe ser tão fiel quanto o rei expulso e que, portanto, não valia a pena ser defendido”. Para os reis cananeus Faraó era um “deus distante”, de incerta confiança.

Continua aqui

Jones F. Mendonça

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A MORAL PROTESTANTE E A DIVERSÃO

O tempo passa e o conceito de “carnalidade” vai se transformando. O jornal presbiteriano “O Puritano” (10/08/1956) publicou a seguinte questão (Cf. ALVES, Rubem. Religião e repressão, p. 211):
É lícito a crentes dançar e levar seus filhos a bailes familiares ou de formaturas?
Resposta: A dança moderna, ou seja, os bailes em geral, profanos e mundanos, ou familiares, ou de clubes, ou de “gafieiras”, ou de formaturas, não cabem dentro de Filipenses 4,8-9 e 1 Coríntios 10,31. Devem ser evitados definitivamente pelos crentes.
O mais curioso é que nem um dos dois textos fala sobre dança! 

O jogo e a diversão também passaram pelo crivo dos legisladores presbiterianos:
A profanação do Dia do Senhor pode ser feita por meio de jogos e diversões que, apesar de inocentes noutros dias, são incompatíveis como repouso e santidade do Dia do Senhor. AG-1930-033.
Calvino fez escola...


Jones F. Mendonça