terça-feira, 30 de abril de 2013

ORTODOXIA E HERESIA

A primeira frase é de G. K. Chesterton (representando o pensamento ortodoxo). A segunda, de Rubem Alves (representando a ala dos heréticos):
“Tentei criar uma nova heresia; mas, quando já lhe aplicava os últimos remates, descobri que era apenas a ortodoxia”.
“O ortodoxo tenta preservar o velho. O herege tenta destruir o velho, para que o novo nasça”.
A ortodoxia supõe que os antigos estavam certos. A heresia que eles devem estar errados. 


Você escolhe. 


Jones F. Mendonça

quarta-feira, 24 de abril de 2013

VIRGINITAS CARNIS, INTEGRITAS MENTIS

Estudos do ato sexual -
Leonardo da Vinci (1492)
Toda essa polêmica suscitada a partir do embate entre a Feliciano e Jean Willys me fez pensar a respeito da ênfase [super]exagerada que os cristãos de uma maneira geral dão aos chamados “pecados sexuais”. Tanto pecado para implicar...

Hoje, lendo uma entrevista concedida por James Hillman a Laura Pozzo, dei-me conta de que a origem dessa sexualidade mal resolvida está lá na raiz:
“Imagine uma cultura cuja principal imagem de Deus não tem genitais, cuja Mãe é sexualmente imaculada, e cujo Pai não dormiu com a mãe”.
A figura de Deus como Pai (sem esposa), Teotokos (Maria) como virgem imaculada e sem esposo parece ter deixado uma herança psicológica difícil de remover (ah, a tradição passou a apresentar os anjos como sendo assexuados, como se pênis e vagina fossem coisa suja).  

Logo nos primeiros séculos o celibato, a castidade e a continência se tornaram virtudes.  Agostinho, por exemplo, achava que a queda de Adão e Eva era a perda de controle sobre o corpo, particularmente sobre o pênis. Fico imaginando Agostinho no divã de Freud.

A questão da sexualidade é apenas um ponto negativo a destacar. A “sobrecarga cristã” (expressão de Hillman) se arrasta por dois mil anos. Nietzsche não via outra solução senão retornar à Grécia pré-socrática. Jung tentou salvar o cristianismo desses “desvios”. Fez apologia demais.

É, não sei...

O que posso dizer é que o cristianismo está enraizado em mim (avós, pais, tios, primos batistas). Negá-lo seria como lançar a mim mesmo, despedaçado, no caos. É uma relação de amor (há nele elementos que me seduzem) e ódio (repudio, por exemplo, a negação do mundo, tão presente na retórica cristã). Mesmo quando critico o que quero, no fundo, é salvá-lo. E você ainda ri?


Jones F. Mendonça



quinta-feira, 18 de abril de 2013

MÍDIA: A GRANDE MERETRIZ

Época de eleições. A grande mídia acorda cedo. Enfeita-se. Mascara suas rugas e cicatrizes. Toda perfumada sai às praças a mentir. Mente. Mas mente tanto que nem se dá conta que todo o seu corpo, seus movimentos, sua fala, seus belos cabelos de prata e seus lábios carmesim são pura falsidade.

E ainda há os que se deixam seduzir...

Jones F. Mendonça
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terça-feira, 16 de abril de 2013

AS CARPIDEIRAS DESCABELADAS DA “ESQUERDA” E DA “DIREITA”


Há poucos anos o professor de uma escola pública em Santos aplicou um teste cujos enunciados foram inspirados no cotidiano de uma favela: narcotráfico, violência, etc. Numa das questões (de matemática) o professor pediu para que os alunos calculassem o lucro da venda da cocaína levando em conta que nela foi adicionada certa quantidade de bicarbonato de sódio. Não foi uma boa ideia. Um famoso colunista da Veja, indignado, culpou o educador Paulo Freire pelo disparate (!). De quebra, como de costume, culpou Marx, Lula, Dilma e toda a “gentalha da esquerda”. Para ele o ideário socialista está na raiz da maioria das canalhices do mundo.

O raciocínio no nosso colunista é o seguinte: Paulo Freire enfatizava que o contexto sócio-cultural do educando deve ser valorizado (ensinamento que me parece bastante razoável). O tal professor, aplicando de forma equivocada o método de Freire (se é que o conheceu), fez uma contextualização infeliz. Ora, como Paulo Freire era socialista, pensou ele, logo a culpa é de Marx. Por conseguinte, no sentido inverso, do PT, do Lula, da Dilma e dos demais “petralhas”. Aristóteles, pai da lógica, deve estar se contorcendo no túmulo.

Mas há também uma esquerda tão neurótica quanto alguns jornalistas lunáticos da Veja. Neste caso as mazelas que assolam o mundo são interpretadas como sendo a concretização dos diabólicos planos elaborados pelos “demônios da Casa Branca”. Um terremoto atinge o Irã e dizem que foi provocado por um sofisticado equipamento americano capaz de fazer tremer a terra. Faça-me o favor...

Um exemplo recente da polarização entre a retórica da esquerda e da direita são as ameaças atômicas vindas da Coreia do Norte. Para as “carpideiras descabeladas” da direita o líder norte-coreano é a própria encarnação do mal. Os EUA, bastião da moralidade e da justa conduta, devem puni-lo até que se dobre diante do capitalismo, um santo remédio capaz de transformar o egoísmo na “riqueza das nações”.

Mas da esquerda também são ouvidas declarações estapafúrdias. Há quem exalte o governo de Pyongyang, visto como uma das últimas resistências ao “maléfico imperialismo americano”. Mas as ameaças da Coreia do Norte são tão alarmantes que nem mesmo a China e a Rússia, seus antigos aliados, têm apoiado a arriscada manobra que visa forçar os EUA a se sentarem à mesa de negociações. Sejamos honestos, a Coreia do Norte está muito, mas muito longe do paraíso utópico vislumbrado por alguns marxistas. E isso não se deve apenas às sanções impostas pelos EUA e seus aliados.

Transformar o mundo numa arena na qual lutam representantes do bem e do mal (como também fizeram com Jean Willys e Feliciano) é um ótimo negócio para quem quer manipular as massas.  O debate é “vencido” no grito, na desmoralização do adversário, nos argumentos falaciosos, nas entonações de voz exaltadas e mãos com o dedo em riste.

São indivíduos doentes seguidos por andrajosos moribundos. Querem apenas doses diárias de morfina. E nada mais.


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 11 de abril de 2013

MORRA! EM NOME DO PAI, E DO FILHO, E DO ESPÍRITO SANTO


Depois da eleição de Feliciano para presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, novas filmagens de suas pregações tem sido postadas e pinçadas do YouTube. Além do famoso sermão que explica as mazelas da África a partir da maldição de Noé sobre seu neto Canaã, outro vídeo se tornou um viral esta semana. Trata-se de uma pregação que interpreta o assassinato de John Lennon como castigo divino. O motivo: Deus teria mostrado ao mundo que apóstatas arrogantes pagarão sua ousadia com a própria vida. Em suas palavras: “ninguém afronta a Deus e sobrevive!”.

A coisa teria se processado assim. Deus, profundamente ofendido e irritado com a famosa frase atribuída ao cantor de Liverpool (“os Beatles são mais famosos que Jesus Cristo”), teria guiado Mark David, o azarado sujeito escolhido para levar a cabo o plano divino, até sua vítima.  Três tiros, segundo o pastor, foram suficientes para calá-lo: Em nome do Pai (bang!), e do Filho (pow!), e do Espírito Santo (paf!). Amém!

Pleno século XXI e ainda há quem pense que os pecados devem ser pagos com sangue.

Em tempo: Na verdade o corpo de John foi atingido por quatro tiros. Não fizesse esse pequeno “acerto” Feliciano teria que incluir Maria no círculo divino. A pequena mentira evita a idolatria; a estória, a rebeldia, dirá nosso digníssimo pastor.


Jones F. Mendonça

terça-feira, 9 de abril de 2013

O GRANDE CISMA DE 931 - REINO DIVIDIDO [MAPA]

De acordo com 1Rs 12, Jeroboão, "capataz da corveia da casa de José" (1Rs 11,28), assumiu dez tribos do norte após a morte de Salomão, aproveitando-se de uma antiga rivalidade entre   os clãs do Norte e do Sul. Astuto que era, Jeroboão logo tratou de escolher dois santuários em seu território (Betel e Dã) a fim de evitar que o povo precisasse se deslocar para o templo de Salomão, em Jerusalém, capital de Judá. 

Resultado: Israel, com capital em Siquém (depois, com Omri, mudada para Samaria) ao norte; e Judá, com capital em Jerusalém, ao sul. 

Depois de algumas tentativas frustadas finalmente consegui preparar um mapa com uma qualidade visual que eu tanto buscava. O resultado está abaixo:

Clique para ampliar (771 x 580)

 Jones F. Mendonça

sábado, 6 de abril de 2013

SAI, ESTADO LAICO!

Mais uma do Latuff: 


RELEITURAS

Isaías de Duccio di
Buoninsegna (1308-11)
O profeta Isaías (o proto-Isaías) viveu no contexto do século VIII a.C. Ele aparece ao lado de reis como Ozias, Joatão, Acaz, Ezequias. É famosa sua discordância em relação a Acaz durante a guerra siro-efraimita. O rei de Judá pediu auxílio à Assíria contra a aliança entre a Síria e Efraim que queriam derrubá-lo. Isaías era contra.

Mas se Isaías viveu no século VIII, que sentido faz seu oráculo contra a Babilônia (grande ameaça a Judá no séc. VI) anunciando sua destruição nos capítulos 13 e 14? Note que no capítulo 14, na continuação do oráculo, fala-se inclusive num “retorno” (cf. 14,1). O texto, me parece, situa-se melhor no período do exílio (537-).

No verso 25, ainda no capítulo 14, algo curioso acontece. O império condenado passa abruptamente a ser o assírio (agora sim no contexto correto, como em 10,24). Um descuido? No verso 26 o juízo de Yahweh ganha um caráter universalista, elemento típico na literatura posterior. O texto consiste numa adaptação de um antigo oráculo contra a Assíria agora aplicado a Babel? É o que parece.

Para boa parte dos leitores da Bíblia essas “releituras” não ocorreram. Mas elas eram mais comuns do que parecem. Quem escreveu o Targun de Isaías (versão parafraseada da Bíblia hebraica em aramaico) não perdeu tempo. Em 14,29 foi inserida uma profecia messiânica: “Porque dos filhos dos filhos de Jessé [ou seja, da dinastia davídica] sairá o messias”.

Nos profetas clássicos era nítida a ênfase na necessidade de conversão, sempre relembrando dos grandes feitos de Yahweh no passado. Durante o exílio essa mensagem foi ganhando aos poucos novas cores. Surgia o profetismo escatológico. Mais tarde, talvez durante o judaísmo tardio, apareceu um tipo de literatura nova, o apocalipse (para alguns, filha e herdeira da profecia). Na paleta de cores que surgia havia pigmentos da Babilônia, da Pérsia, do helenismo, da própria religião israelita e talvez um pouco mais.

E os profetas modernos me aparecem condenando o sincretismo. Ora bolas...


Jones F. Mendonça

MANUSCRITOS DO MAR MORTO PARA DOWNLOAD

Preciso fazer comparações entre os Manuscritos do Mar Morto e o texto massorético (o primeiro é um milênio mais antigo que o segundo). Encontrei muita coisa (em PDF) no site "The way to Yahuweh". 

Infelizmente os textos de Isaías ainda não estão disponíveis. Se você sabe onde posso encontrá-lo, ficarei agradecido. 


Jones F. Mendonça


A LÓGICA “SE NÃO ‘A’, ENTÃO ‘B’”.

Você critica a política imperialista americana. Um sujeito lê sua avaliação e pergunta se você moraria em Cuba ou na Coreia do Norte.

De sua boca saem denúncias contra os abusos cometidos pelo governo de Israel na Cisjordânia, em Gaza e nos assentamentos judaicos em território reivindicado pelos palestinos. Então afirmam que você é antissemita e que apoia o terrorismo.

A lógica por trás desse discurso: se você critica “A”, então você apoia “B”. Raciocinam de forma polaridada. Enxergam o mundo em duas cores.

Esquecem-se (ou fingem esquecer ou são tapados mesmo) que nosso alfabeto contém muitas outras letras: “C”, “F”, “M”,”L”, “Z”...


Jones F. Mendonça