quarta-feira, 31 de julho de 2013

CAMBULHADA DA FÉ

Liturgia convoca os fiéis. Karisma grita aleluia. Ortopraxis faz caridade. Doxa acende uma vela. Teofania usa um véu. Sacramento eleva o cálice. Metanoia se dissolve em lágrimas.

Hamartia lava as mãos numa bacia. Escatologia olha para o céu. Heresia faz preces a um santo torto. Apologética torce o nariz. Dogma franze a testa. Excomunhão faz ameaça. Inquisição põe-se de pé.

Cisma discute com Ecclesia. Dialética faz perguntas. Homilia prepara um esboço. Teodiceia cria alvoroço. Exegese consulta um livro. Sistemática procura Doutrina. Antinomia provoca Teologia. Cúria entra em polvorosa.

Piedade reza um terço. Ladainha acompanha Beata. Devoção faz o sinal da cruz. Koinonia abraça Filia. Encarnação segura um crucifixo. Katarsis entre em êxtase.

Divina, no dorso de um querubim, apenas sorri.


Jones F. Mendonça

terça-feira, 30 de julho de 2013

O PAPA, OS GAYS E AS MULHERES

Numa conversa com jornalistas durante seu retorno ao Vaticano, o papa Francisco falou, dentre outras coisas, sobre o papel das mulheres na igreja e sobre o lobby gay. A entrevista, compilada por Jamil Chade e publicada no Estado de São Paulo (29/07/13), pode ser lida no site da IHU Unisinos.  


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 25 de julho de 2013

ENCONTRADA A CASA DO PROFETA ELISEU [SERÁ?]

A CNN anunciou que o arqueólogo israelense, Amihai Mazar (primo de Eilat Mazar), encontrou uma casa onde pode ter morado o profeta Eliseu. Durante as escavações, em Tel Rehov, no Vale do Jordão, foi achado um vaso quebrado com uma inscrição que alguns sugerem ser o nome "Eliseu" (em hebraico: 'eliysha'), datado para o século IX a.C.

Está desconfiado como eu?

Algumas considerações importantes aqui


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 19 de julho de 2013

PALÁCIO DE DAVI DESCOBERTO: VERDADE OU FICÇÃO?

Segue trecho de um artigo sobre o anúncio da descoberta do palácio de Davi em 2005 publicado originalmente no The New York Times, e divulgado pela Folha de São Paulo:  
Uma arqueóloga israelense [trata-se de Eilat Mazar] diz ter descoberto em Jerusalém Oriental o lendário palácio do rei bíblico Davi. Seu trabalho foi apoiado por um instituto de pesquisa conservador de Israel e financiado por um banqueiro judeu americano [trata-se de Roger Hertog] que gostaria de provar que Jerusalém foi mesmo a capital de um poderoso reino na época de Davi, como diz a Bíblia.  
Confesso que achei a matéria tendenciosa (parece querer desacreditar a alegada descoberta). A ênfase no financiamento por parte de um judeu rico de Nova York e a expressão "instituto de pesquisa conservador" chamaram minha atenção. O fato é que tanto arqueólogos da chamada “escola minimalista” (Israel Finkelstein) como da “escola maximalista” (Yoseph Garfinkel) discordam da interpretação dada por Mazar. Quanto a este último é preciso dizer algo mais.

Garfinkel acaba de anunciar (18/07/13) a descoberta de ruínas do que teria sido o palácio de Davi, construído em Khirbet Qeiyafa, no vale de Elah (um palácio alternativo ao de Jerusalém, reservado para momentos de crise). Seu palácio real edificado na capital de Judá ainda estaria sob os escombros. O anúncio foi feito no último dia de escavação. Na opinião de Joseph Lauer tudo não passa de uma manobra para captar novos recursos. Será?

Conheço Garfinkel e Mazar de longa data e sei que a imparcialidade não é uma de suas virtudes. Escavam com a Bíblia numa mão e a picareta na outra. Tivessem achado um vaso com a inscrição MLK DWD (rei Davi) teria sido mais fácil sustentar a teoria.

Vale lembrar que a existência de um líder carismático chamado Davi raramente é contestada por quem estuda a história de Israel (a descoberta da estela de Tel Dan, com a inscrição BYT DWD – casa de Davi –, parece confirmar a existência de tal personagem). O que se discute é se essa figura realmente governou uma monarquia unida no século X a.C. 

Também nunca é demais destacar que as escavações em Israel geralmente ocorrem sob pressão política (legitimação de Jerusalém como capital de um antigo reino israelita unificado), religiosa (busca de provas que atestem a veracidade dos relatos bíblicos) e econômica (financiamento de pesquisas).

Texto editado em 22 de julho de 2013.

Jones F. Mendonça



quinta-feira, 18 de julho de 2013

LEITURA DIÁRIA

Todos os dias, enquanto tomo o café da manhã, visito uma série de sites que me mantém informado a respeito dos mais diversos assuntos. Minha leitura diária inclui os seguintes sites:  

Teologia:
Peroratio, Observatório Bíblico, RevistaBrasileira de História das Religiões, Oracula, Radio Vaticano, Biblical Archaeology Review, Israel Antiquities Authority, The Journal Hebrew Scriptures, Paleojudaica, Rollston Epigraphy, Biblical Studies and Technological Tools, Bible Places, Leon’s Message Board, Ferrel Jenkins, ASOR Blog, The Bible and Interpretation, Tabor Blog, Ritmeyer archaeological design, The Jewish Daily Forward, Tablet Magazine, Religion Dispatches, BBC Religion & Etics. 

Notícia:
Carta Capital, Opera Mundi, IHU Unisinos, OutrasPalavras, Haaretz (jornal israelense de esquerda), J Post (jornal israelense de direita), Arutz Sheva, Al Jazeera, Al Akhbar (jornal turco), Russia Today, Desert Peace, Mondoweiss, Guga Chacra.

Não será difícil achar os sites não “linkados” copiando e colando os títulos inseridos acima na barra de busca do Google.



Jones F. Mendonça

segunda-feira, 15 de julho de 2013

MANIQUEU E O FACEBOOK EM PRETO E BRANCO

Juca Izquierdo posta uma imagem de Fernando Henrique Cardoso vestindo roupa listrada de presidiário com os dizeres: “o homem que vendeu o Brasil”. Zé Mania e mais um milhão de pessoas que aprenderam que privatizar é um verbo transitivo inventado e conjugado pelo diabo, compartilham e divulgam a campanha de repúdio ao ex-presidente simplesmente porque o “homem do Blog” disse que devem odiá-lo.

Zeca Conspira produz, com a ajuda do Photoshop, outra imagem onde aparecem Lula ao lado de Hitler, Mussolini, Stalin, Fidel Castro e o maníaco do parque. Em letras ensanguentadas os dizeres: “Foro de São Paulo prepara golpe comunista em toda a América Latina”. João Fantoche e mais dois milhões de pessoas que sequer conhecem as diferenças elementares entre os projetos da esquerda e da direita (o “filósofo do YouTube” disse que a esquerda está sob a égide do capeta e isso basta) compartilham a imagem.

E assim o Facebook vai servindo para propagar a crença num mundo reduzido a dois pólos apenas: o bem e o só mal; o certo e o errado; o justo e o injusto; o capaz e o incapaz; o Fernando e o Luiz (ou o Luiz e o Fernando).

Universo binário. Mundo em preto e branco. Medonha retórica bipolar de Maniqueu. 



Jones F. Mendonça

FOI-SE A POSTAGEM NÚMERO MIL

Acabei notando só agora que minha postagem anterior foi a de número 1000. Puxa, como escrevi ao longo desses quatro anos. 

Vez por outra penso em fazer uma revisão no Blog. Confesso que apagaria umas cem postagens (das mais antigas). Desde maio de 2009 muita coisa aconteceu. Colhi coisas novas, abandonei coisas velhas, embrenhei-me em temas diferentes, etc. Mas como daria muito trabalho revisar todas essas mil postagens, fica do jeito que está. 

Agradeço aos leitores pela fidelidade e pelos comentários (críticas, elogios, sugestões, etc.), que tem se mantido na média de 01 por postagem . Não é lá grande coisa quando comparado aos Blog mais populares, apesar disso sinto-me satisfeito. 


Jones F. Mendonça

sábado, 13 de julho de 2013

ALMA CANSADA

Um velho, cansado da vida, olha pela janela e vê alguns jovens fazendo um protesto. Diz: "jovens ingênuos, acham que podem mudar o mundo". Mal sabe a pobre alma cansada que se debruça sobre a janela que algumas vezes a ingenuidade é virtude.


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 12 de julho de 2013

FUNDAMENTALISMO II

Willian Pane Crash, famoso apologista cristão, doutor em filosofia pela faculdade de Westflubsxbzy sobe ao púlpito. Faz breves apresentações e diz que é possível apresentar argumentos racionais que justifiquem a presença de uma serpente falante no Éden. A plateia está ansiosa, afinal é muito elegante possuir argumentos racionais para a fé. Enfim, ninguém quer ser taxado de ignorante.

Crash começa seu discurso dizendo que tanto a ciência quanto a religião têm pressupostos nos quais se assentam. A ciência - enfatiza o doutor - observa, analisa, experimenta. Os cientistas crêem (ele enfatiza o “crêem”) que as observações, análises e experimentos científicos podem descrever a realidade. A religião, ele diz, crê (ele enfatiza o "crê") que um Deus Todo-Poderoso existe e que, portanto, pode fazer uma serpente falar. Partindo desse princípio, ele conclui: não é irracional dizer que uma serpente falou. Ah, tá...

PS: Meu amigo, se você crê que uma serpente falou no Éden, que árvores ardem sem queimar ou que machados flutuam, tudo bem, não se sinta envergonhado.  Todo mundo (ou pelo menos a grande maioria das pessoas) possui crenças que extrapolam os limites da razão. Agora para com essa conversa de “argumentos racionais”. Negócio doentio.



Jones F. Mendonça

FUNDAMENTALISMO I

Fila no banco. Atrás de você um sujeito puxa assunto. Abre o jornal e mostra uma matéria falando a respeito do engavetamento do chamado projeto de “cura gay”. Reclama que homossexualidade sempre foi considerada uma doença, mas de uma hora para a outra um grupo de psicólogos simplesmente resolveu “mudar as coisas”. Acha um absurdo. Você respira fundo. Faz uma pausa. Comete o primeiro erro: dá conversa.

Pacientemente você diz a ele que até o início do século XVI todos pensavam que a terra era o centro do universo. A partir de Copérnico a coisa mudou. Não é que a terra deixou de ser o centro do universo. Ela nunca foi. Apenas descobriram que a coisa não era assim. Talvez  com o homossexualismo tenha acontecido o mesmo. O sujeito fica indignado: “Então você compactua com esses psicólogos pós-modernos, neo-ateus e também nega que a homossexualidade seja uma doença?”. “Veja”, você responde, “não quero entrar no mérito da questão, só estou dizendo que seu argumento é falho, afinal nossas opiniões sobre as coisas mudam, e...”. Ele interrompe: “Mas está na Bíblia!”. Você faz uma nova pausa. Respira fundo. Comete o segundo erro: alimenta a conversa. 

A fila está bastante longa. Ainda há muito que esperar. Você é (como eu) uma daquelas pessoas (ingênuas?) que acha que sempre é possível dialogar com outro ser humano. Encontra um novo ânimo: “Atente para o seguinte, você não conhece minha religião, logo não pode usar a Bíblia para me convencer do que quer que seja”. O sujeito não perde tempo: “Ah, eu sabia. Então além de gay, você é ateu!”.

Moral da história: nunca, jamais, em hipótese alguma, discuta com um fundamentalista.



Jones F. Mendonça

quinta-feira, 11 de julho de 2013

INDULGÊNCIA PLENÁRIA: REMISSÃO DAS PENAS, NÃO DOS PECADOS

O site Genizah publicou artigo originalmente divulgado pela France Press, via G1, dizendo que o Papa Francisco concederá indulgência plenária aos fiéis que participarem da Jornada Mundial da Juventude. Há um erro no título do artigo publicado no site (e também no corpo do texto do artigo original). Diz o título: “Vaticano concede remissão dos pecados a participantes da Jornada Mundial da Juventude”. Ops, não é bem isso.

No entendimento dos católicos a indulgência plenária não tem poder de perdoar pecados, mas apenas suprimir as penas devidas pelos pecados, requeridas como compensação pela falta cometida (can. 993). Eu explico. O sacramento da penitência envolve três momentos distintos: a contrição (arrependimento), a confissão (ao padre) e a satisfação (reparação pela falta por meio de uma penitência , como rezas, peregrinações, boas obras, etc.). A indulgência plenária tem objetivo absolver o fiel da penitência exigida para que ocorra a satisfação.

No século XVI Lutero se impôs contras a venda de indulgências, ou seja, criticou a substituição das penitências públicas pelo pagamento em dinheiro (uma prática aparentemente oriunda do direito germânico). Entre o povo acabou sendo difundida a ideia - sob influência de alguns padres aproveitadores e a “vista grossa” do Papa – de que as indulgências perdoavam pecados. Lutero, imaginando que o Papa fosse ouvir suas denúncias (conf. art. 50: “se o Papa soubesse...”), escreveu, nos artigos 33 e 34:
33 Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Deus.

34 Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.
Ao autor do post publicado no Genizah caberia corrigir o título: “Vaticano concede remissão dos pecados...” por “Vaticano concede remissão das penas devidas pelos pecados...”. Caberia ainda aos editores do site alertar os leitores do equívoco cometido pelo autor original do artigo (France Press). Fiz a sugestão aos editores do site, mas não parecem dispostos a corrigir a falha.

Apontar falhas na doutrina católica (e em qualquer outra) faz parte do jogo. O que não vale é criticar uma coisa que não existe. 

Leia o Decreto promulgado pelo Papa Francisco e publicado na Rádio Vaticano aqui

Jones F. Mendonça

quarta-feira, 10 de julho de 2013

PAPA DE TINTA: VERDADE EM GUACHE

O sujeito fica inconformado com o número absurdo de interpretações diferentes dadas a um mesmo texto bíblico. Ele pensa: “ora, o texto deve ter um sentido apenas. Devo me empenhar em descobrir seu sentido original, verdadeiro”. Então ele acaba conhecendo dois métodos de interpretação que o acaso lhe põe às portas: o método histórico-gramatical e o histórico-crítico. Abre parêntesis: há um grupo de exegetas que acha que o texto tem vida própria, fala o que der na telha dependendo do momento e do lugar. É como massinha de criança, ou boneco de ventríloquo, brinquedo maleável nas mãos do pequeno infante. Serve para divertir, não para interpretar. Desses nem vale a pena falar. Fecha parêntesis.

No âmbito protestante os que adotam o método histórico-gramatical possuem pressupostos metodológicos ancorados no dogma, verdade que nasceu do voto "inequívoco" dos antigos. O texto parece dizer “A”, mas na cartilha rota do dogma a orientação é que o texto diga “B”. Para estes não há o que discutir, o dogma tem sempre razão. Trata-se de um método bem parecido com o dos católicos. Entre eles se diz: Roma locuta, causa finita. No meio protestante, há os pequenos “papas de tinta”. São, como os de lá, “infalíveis”.  A diferença? Falam pela boca dos líderes denominacionais.

Os que adotam o método histórico-crítico buscam desnudar o dogma. Recusam-se a usar as lentes da tradição viciadas pelo uso. Querem lentes novas e límpidas, capazes de ver os pequenos fios entrelaçados que formam o texto. Desmontam, decompõem, fragmentam o texto em mil pedaços. Sugerem que ele possui muitas texturas, rica gama de cores, miríades de fios diferentes tecidos por uma centena de teares manipulados por hábeis mãos que atravessaram séculos no exercício da arte de fiar. O que descobrem geralmente não agrada os que foram iniciados no ofício de repetir, copiar e manter. A sombra do dogma lhes obscurece a vista. Onde parecia haver um camelo, vê-se que há um mosquito. Onde parecia haver um mosquito, vê-se que há um camelo.   Papa de tinta, verdade em guache.



Jones F. Mendonça

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O ANTIGO TESTAMENTO EM POUCAS LINHAS

Clique para ampliar. Resolução: 1066 x 798

Trata-se de uma narrativa simples, sem qualquer tipo de observação crítica. O objetivo é apresentar um panorama da história de Israel (conf. Bíblia hebraica) com o auxílio de um mapa.  

Pentateuco - Abraão sai de Ur dos caldeus[1] e migra para Canaã, na costa oriental do Mediterrâneo (cap. 12 do Gênesis). Seu pai morre em Harã[2] e o patriarca prossegue viagem até que chega a seu destino[3]. Por causa da fome os descendentes de Abraão (Isaque > Jacó > 12 filhos) migram para o Egito[4]. Alguns séculos depois os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó seguem para Canaã sob a liderança de Moisés (Êxodo). Ele atravessa o Mar Vermelho [5], recebe a Lei no Sinai [6] e peregrina pelo deserto (Levítico, Números) por cerca de 40 anos[7]. Ao fim desse período Moisés morre no Monte Nebo[8] (Deuteronômio).

Livros históricos - Josué, seu auxiliar, atravessa o Jordão [9] e destrói Jericó, Ai e outras cidades do do sul (como Hebrom) e do norte (como Hazor). Segue-se um período de batalhas lideradas por heróis regionais carismáticos chamados de juízes. Samuel, o último juiz (que também é sacerdote e profeta), inaugura a monarquia em Israel ungindo Saul. Antes que Saul morra Davi é ungido rei em Hebrom[10] pelo mesmo Samuel. Salomão, filho de Davi reina em seu lugar (início do livro dos Reis), mas por causa dos altos impostos o reino de Israel acaba se dividindo entre Roboão (seu filho), ao Sul, e Jeroboão (um líder carismático exilado por Salomão no Egito), ao Norte. Samaria[11] se consagra como capital do reino do Norte (sob o governo de Omri). Em 722 é destruída pela Assíria [12]. Jerusalém, que se firmara como a capital do Sul[13], é tomada pelos babilônios[14] em 586. Babilônia cai nas mãos de Ciro, o persa, em 537. O povo exilado recebe autorização do monarca para retornar à Judá (final do livro de Crônicas) e o templo é reconstruído em 515 (Esdras e Neemias).

Ah, o mapa foi feito no Power Point. 

Jones F. Mendonça

terça-feira, 2 de julho de 2013

PERPÉTUO DEVIR

Ponta de lança, escudo feroz, cheiro de guerra no ar.
Dentes risonhos, taças de vinho, tempo de paz no reino de luz.
Mar bravio, velas sem rumo, Netuno que agita o abismo sem fim.
Espelho d’água, lago sereno, dorso da noite sob o luar.

Flechas que mancham.
Salpicos da vide.
Reino de nobres, guerreiros, servos, bufões, donzelas de delicada tez,
todos a rir e a chorar ante o inexorável e difuso fluxo do devir.


Jones F. Mendonça