terça-feira, 28 de janeiro de 2014

GÊNESIS NO MAPA (CAP 12-47)

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Anotações:
1) Ur, no início do segundo milênio é “Ur dos sumérios” e não “dos caldeus” (um anacronismo do redator).

2) A terra da qual Abraão saiu, em Gn 21,34, não podia ser “dos filisteus” (outro anacronismo do redator), pois eles só chegaram à costa Oriental do Mediterrâneo por volta de 1200 a.C. (ver também Gn 12,6 e 26,8).

3) O relato destaca a construção de altares em Siquém, Betel, Hebron e Moriá provavelmente para atribuir aos patriarcas antigos altares cananeus ou para dar um caráter sagrado a santuários anteriormente profanos. 

4) O artifício utilizado por Abraão para ocultar do Faraó sua relação marital com Sara, em 12,13, reaparece em 20,2 (agora com o rei de Gerar, Abimeleque). Isaque também oculta do mesmo Abimeleque, “rei dos filisteus” (mais um anacronismo), em Gerar, que Rebeca é sua mulher em Gn 26,7. A repetição da história com detalhes tão semelhantes inquieta o leitor mais atento, que logo percebe que o tríplice relato consiste em versões diferentes do mesmo acontecimento ou tradição popular. 



Jones F. Mendonça

domingo, 26 de janeiro de 2014

FÉ E HISTÓRIA

Imagem: Tablet.com
Há quem considere perseguição por parte dos historiadores e arqueólogos não religiosos o ceticismo que mantém em relação a historicidade de boa parte da narrativa bíblica. Ocorre que historiadores sempre levam em conta o grau plausibilidade de um relato. Se determinado texto sagrado diz que um homem piedoso iluminou os céus com a chama emanada de seu dedo indicador, o historiador nega. Se o Novo Testamento relata que um profeta de Nazaré caminhou pelas águas de um lago situado na costa Oriental do Mediterrâneo o mesmo historiador nega. O critério deve ser o mesmo para qualquer texto, inclusive os não religiosos.

"Ah" - diz o apologista - "mas ninguém questiona a historicidade da vida de Sócrates, filósofo grego da Antiguidade". É claro que questiona! "Ah" - brada o advogado da doutrina - "mas ninguém duvida que Alexandre, o Grande, foi de fato aquele personagem que está nas linhas dos registros antigos". É claro que duvida! O bom historiador sempre duvida. Aliás, a curiosidade e a dúvida são os motores da ciência. A investigação histórica sempre será um projeto inacabado. Já o dogma...

A fé pertence a uma outra esfera. Trata-se de uma escolha. A plausibilidade pode ser zero, mas o sujeito de fé continua sustentando sua crença mesmo que as evidências mostrem o contrário. “Então você está dizendo que o tal ‘sujeito de fé’ é um louco?”, perguntam-me. Não, louco é quem acha que a investigação histórica pode proporcionar um fundamento à fé e à teologia cristã.

E há muitos loucos por aí. 


Jones F. Mendonça

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ROLEZINHO


PARA ALÉM DA BÍBLIA, DE MÁRIO LIVERANI, PARTE III [APONTAMENTOS]

Fiz, aqui e aqui, breves apontamentos a respeito da obra “Para além da Bíblia”, de Mário Liverani. Trata-se de uma "tentativa nova de reescrita da história de Israel, levando em consideração os resultados da crítica textual e literária, as contribuições da arqueologia e da epigrafia". 

A primeira parte dos apontamentos destaca os elementos que considerei mais importantes no primeiro capítulo, que tem como título “A Palestina no Bronze Recente, séculos XIV-XIII” (até a página 38). Foram resumidos os seguintes tópicos: “paisagens e recursos” (modesta em recursos naturais, porém rica pela estratificação simbólica das memórias), “fragmentação política” (dividida em “Estados cantonais típicos”), descontinuidade dos assentamentos” (concentração nas áreas mais adequadas para a agricultura) e “domínio egípcio” (que cobre o período de 1460-1170 a.C., tendo como principais sedes de governo egípcio três centros siro-palestinos: Gaza, Kumidi e Sumura).

Na segunda parte, ainda no primeiro capítulo, resumi as principais características da ideologia egípcia, evidenciando o grau de submissão dos reis cananeus ao Faraó e a indiferença deste em relação aos problemas enfrentados por seus dominados com invasores “habiru”.  Liverani destaca que o Faraó era para os reis cananeus um “rei distante”. O tópico “ideologia egípcia” se estende até a página 42.

Dando seguimento aos apontamentos e encerrando o primeiro capítulo, destacarei os principais pontos dos tópicos 6 (o palácio e sua centralidade), 7 (prosperidade econômica e trocas comerciais), 8 (Vilas e órgãos colegiados), 9 (os nômades “externos”) e 10 (as tensões socioeconômicas). 
  • Em “O palácio e sua centralidade” (p. 43-45), Liverani sublinha o papel desempenhado pelo palácio real dos reis cananeus no Bronze recente em sua relação com a população que vivia ao seu redor. Gravitando em torno do palácio estavam os homens do rei” (não possuíam meios de produção próprios e trabalhavam para o rei: aristocracia militar, sacerdotes, administradores, artesãos, mercadores, guardas e escravos). Nas vilas mais distantes vivia a “população livre” (detinham meios de produção próprios e pagavam ao rei uma taxa). O reino era visto como uma herança indivisível transmitida hereditariamente já não mais ao primogênito, mas para aquele que tivesse “honrado” os pais. 
  • No tópico “prosperidade econômica e trocas comerciais” (p. 45-47) o autor faz uma análise das cidades palatinas cananeias dos séculos VI a XIII sob o ponto de vista econômico. Elas são apresentadas como “economicamente prósperas e culturalmente animadas”. Destaque para o uso da escrita cuneiforme pelos administradores, possível pelo estabelecimento de escolas de escribas; artesanato de luxo com forte influência estilística e iconográfica egípcia; produção de armas de bronze e pasta de vidro; comércio desenvolvido e intercâmbio político diplomático. Liverani destaca, porém, as escassas relações externas ao sistema, nas rotas do Mediterrâneo e nas trilhas de caravanas do deserto. O desenvolvimento marítimo e terrestre só ocorrerá no período do Ferro, com a domesticação do camelo/dromedário e a melhorias das técnicas de navegação.  Liverani destaca ainda que o entesouramento, a circulação de bens de prestígio nos palácios e a pressão exercida pelas elites palatinas sobre a população agropastoril constitui um estado de desiquilíbrio insustentável a longo prazo. 
  • Quanto às “vilas e órgãos colegiados” (p. 47-50), Liverani estima que 80% das pessoas vivam nas vilas com seus próprios meios de produção: terras de propriedade familiar e rebanhos de cabras e ovelhas. Unidos pelo vínculo de parentesco as vilas tinham uma gestão colegiada em dois níveis: conselho de anciãos, composto pelos chefes de família e uma assembleia popular formada por todos os homens adultos livres. 
  • No nono e penúltimo tópico, “Os nômades ‘externos’” (p. 51-53), o autor passa a falar a respeito dos nômades “externos” definidos em termos tribais como “suteus” (textos acádios) e “shasu” (textos egípcios). A presença deles era vista como perigosa para quem atravessava as estepes do sul e do leste como atesta um mensageiro egípcio no papiro de Anastase I, do período Ramesside (no livro Liverani reproduz o texto).  Ainda que nenhuma tribo bíblica apareça nesses textos, a estela se Sethi I nomeia além de “Habiru dos montes de Yamarti” uma tribo chamada “Raham”, talvez tendo como antepassado epônimo um “pai de Raham” (Abu-Raham), que é o nome do patriarca Abraão.  Liverani também cita a bem conhecida estela de Merneptah (1230 a.C.) na qual aparece pela primeira vez o nome “Israel”. 
  • Finalizando o primeiro capítulo Liverani passa a apresentar um quadro a respeito das “tensões socioeconômicas” (p. 53-56) provocadas sobretudo pelo “processo de endividamento da população camponesa e pela atitude muito dura e proposital por parte do rei e da aristocracia palatina”. Liverani explica que as dificuldades econômicas induziram os camponeses “livres” a penhorar alguns de seus bens (terras, mulheres e filhos) a fim de obterem trigo. Ele identifica os refugiados endividados com os “habiru” e não deixa de notar, como fazem outros estudiosos, a semelhança etimológica de “habiru” com “hebreus” (ibri). Nos textos os “habiru” geralmente aparecem como sinônimo de “foras-da-lei” ou “inimigo”. O tom pejorativo do termo fica evidente num texto citado pelo autor: “O rei de Hasor abandonou a sua casa e se meteu com os habiru”. Em seguida o texto faz um alerta: “saiba o rei [...] que farão se tornar habiru a terra do rei!”. Liverani cita outros textos nos quais o nome habiru aparece associado à invasões a cidades aterrorizadas pelo assalto violento do grupo. Ele finaliza o capítulo destacando o seguinte:“esses fermentos de crise se inserem como sinais premonitórios na crise final do período do Bronze recente”.
A atitude dura dos reis cananeus, somada à indiferença do Faraó frente às invasões nômades gerou um enorme descontentamento na população. Esse cenário será profundamente abalado por novas transformações ocorridas na idade do Ferro, temas do próximo capítulo.

Continua aqui


Jones F. Mendonça

sábado, 18 de janeiro de 2014

UM ZODÍACO NA SINAGOGA

No final de dezembro 1928 uma equipe estava cavando um canal de drenagem no vale de Jezreel (norte de Israel) quando uma pá começou a arrancar pedaços de um mosaico. Quando foi completamente exposto o mosaico (28 x 14 metros) revelou uma roda dividida em 12 partes, cada qual com uma figura e um nome identificando-o como um sinal do zodíaco. No centro, aparecia o deus Helios dirigindo uma quadriga (carro de quatro cavalos), através da lua e das estrelas. Ocorre que mais tarde descobriram que o zodíaco pertencia a uma sinagoga datada para 520 d.C. Surpreso? 

 Leia a matéria na BAR (ago/2012) aqui.

Escrevi sobre um suposto zodíaco no capítulo 2 de Números aqui


Jones F. Mendonça

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A TEOFANIA DO SINAI

“Ora, todo o povo presenciava os trovões, e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte a fumegar; e o povo, vendo isso, estremeceu e pôs-se de longe” (Ex 20,18).
Quem lê o texto com atenção percebe que Yahweh se manifesta como uma erupção vulcânica (ver ainda Ex 13,21s; 14,19b-24; Dt 4,11; Sl 104,31-32). Há quem suponha que o Sinai era na verdade um vulcão. Como não há vulcões na península do Sinai seria preciso situar o monte na costa oriental do Golfo de Áqaba (Midiã). Corrobora com essa teoria o texto de 1Rs 9,26, que situa o Mar Vermelho (na verdade “yam suf” = “mar dos juncos”) em Edom, região que faz fronteira com Midiã. Difícil é imaginar Moisés subindo num vulcão em erupção!

Quem vê o relato como sendo uma composição tardia (não histórica ou com alguma matriz histórica) enxerga de outro modo a teofania do Sinai. Em tempos remotos Yahweh seria uma espécie de Deus vulcão. Com o tempo Yahweh e vulcão teriam sido dissociados como resultado da racionalização da fé. A erupção passou a ser entendida como mero fenômeno que acompanha a manifestação divina. O Deus de Israel seria uma divindade midianita adotada por grupos pré-israelitas.  A referência a Jetro, sacerdote midianita, seria um resquício da tradição que liga Yahweh a erupções vulcânicas.



Jones F. Mendonça

VULCÕES E TERREMOTOS NO MUNDO BÍBLICO

Desde que fiz um cadastro no USGS (serviço geológico dos EUA) venho recebendo por e-mail informações a respeito de terremotos ocorridos no globo. Tão logo uma parte da terra sacuda por causa de um terremoto e eu sou avisado por e-mail. Mas o site tem uma utilidade muito maior que essa (afinal moro no Brasil e por aqui os terremotos são raríssimos e com magnitude baixa).

Como estudioso do Antigo Testamento posso querer saber, por exemplo, se determinada região citada na Bíblia possui vulcões ou se fica numa região de junção entre placas tectônicas. Na verdade o USGS disponibiliza informações muito mais detalhadas. Abaixo parte do mapa que mostra os limites das placas tectônicas dos continentes africano e asiático. Note que Israel (indicado por uma estrela vermelha) está localizado entre as placas africana, arábica e eurasiática.

Um grande mapa em PDF com informações detalhadas pode ser baixado aqui.
Mapa online com possiblidade de zoom, vulcões ativos por período, diâmetro das crateras, etc, aqui.



Jones F. Mendonça

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

ÓRFÃOS DO DESERTO


Originários do Saara, os tuaregues migraram para países como a Líbia em busca de emprego. Após a morte de Kaddafi, em 2011, muitos retornaram para sua terra, no Níger e no Mali. Encontraram fome, pobreza e seca. Sofreram mais ainda com a ação da Al-Qaeda e a intervenção militar francesa. Agora almejam um Estado independente.

Mais no Al-Jazeera (aqui e aqui).



Jones F. Mendonça

sábado, 4 de janeiro de 2014

CASSIA ELLER - SEGUNDO SOL



Há quem jure que a música fala de Hercólubus (ou planeta X, ou Nêmesis), suposto companheiro distante do nosso sol que vai se aproximar de novo do nosso sistema solar provocando efeitos gravitacionais e eletromagnéticos imprevisíveis. 


Bem, meu interesse na música se deve aos arranjos, à voz de Cassia Eller e à composição em si. Curta a música.