segunda-feira, 17 de novembro de 2014

PAIXÃO, ÊXTASE E EXPERIÊNCIA RELIGIOSA


A escultura “Êxtase de Teresa d’Ávila”, de Bernini (1645 a 1652), é capaz de deixar atônitos os visitantes da capela Cornaro, na Igreja de Santa Maria Vitória, Roma. A freira retratada na obra foi uma mística cristã do século XVI (1515-1582), famosa pela frase: “toda a miséria do presente é suportável pela esperança do beijo divino”.  A escultura de Bernini foi inspirada na autobiografia de Teresa. Eis trecho da (estonteante!) descrição de sua visão: 
Via um anjo ao pé de mim, ao lado esquerdo, em forma corporal [...] Vi-lhe nas mãos um grande dardo de ouro, e na ponta da arma pareceu-me ver um pouco de fogo. E parecia que mo enfiava pelo coração algumas vezes e me chegava até as entranhas. Ao tirá-lo, cuidava eu que as levava consigo e me deixava toda abrasada num grande amor de Deus. A dor era tão forte que me fazia soltar gemidos; e tão excessiva a suavidade que me deixava aquela dor infinita [...]. Não é dor corporal, mas espiritual, embora o corpo não deixe de ter participação e grande. É um trato de amor tão suave que passa entre Deus e a alma que, suplico eu à sua bondade, faça-o gozar a quem pensar que estou mentindo.
Um século depois que Bernini criou a escultura, Chevalier de Brosses, aristocrata francês de passagem por Roma, olhou para a santa e disse: “Bom, se isso é amor divino, eu sei muito bem como é”. 


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

JOSÉ E ASENATH: JESUS E MADALENA?

Diante da postura sensacionalista de boa parte da mídia em relação ao suposto evangelho perdido de Jesus que revela seu casamento com Maria Madalena, reuni aqui o que se tem dito sobre o documento:
1) O manuscrito, com 1450 anos de idade, esteve no Museu Britânico e mais tarde na Biblioteca Britânica desde 1847.
2) Foi escrito em siríaco, um dialeto aramaico falado no sudeste da Turquia desde o primeiro século, mas que só ganhou importância literária após o terceiro século.

3) Argumenta-se que foi traduzido de um texto grego mais antigo. Barrie Willson e Simcha Jacobovici, responsáveis pela publicação do livro, sugerem que seja a tradução de um original do primeiro século, escrito por um dos seguidores de Jesus antes mesmo da redação dos Evangelhos canônicos.

4) A tradução, publicada pela editora Pegasus, foi feita por um dos maiores estudiosos siríacos do mundo, o professor Tony Burke, da Universidade de York, Toronto. 
5) No manuscrito, “Maria Madalena” é a estrela principal - e não “Jesus”. Neste evangelho", ela é chamada de "A Mãe das virgens" e "Nossa Senhora". Willson e Jacobovici levantam a seguinte suspeita: “Será que esses títulos - hoje associados à Virgem Maria - originalmente pertenciam à esposa, não a mãe?”.

6) No item anterior “Maria Madalena” e “Jesus” são colocados entre aspas porque no manuscrito os nomes que aparecem são “José” (filho de Jacó) e “Asenath” (filha de Potifar). A narrativa seria uma alegoria, referência velada a Jesus e Madalena. 
Todas essas informações, é claro, precisam ser submetidas a uma criteriosa análise crítica. Parecem-me um tanto quanto suspeitas as declarações que colocam as origens no manuscrito no primeiro século, tendo como autor um seguidor próximo de Jesus. Que tipo de evidências podem ser apresentadas para legitimar essa declaração?    

Nos Evangelhos, Maria Madalena aparece: 1) na crucificação de Jesus (Mt 27,56; Mc 15,40; Jo 19,25); 2) Sentada diante de sua sepultura (Mt 27,61; Mc 15,47); 3) Novamente no sepulcro, agora para ungir o seu corpo (Mc 16,1), 4) diante do Jesus ressurreto, sendo a primeira a vê-lo (Mc 16,9, Lc 24,10; Jo 20,1.18) e 5) sendo exorcizada por Jesus, que expulsou dela 7 demônios (Lc 8,2).  Madalena é algumas vezes associada à “mulher pecadora” anônima que regou os pés de Jesus com lágrimas, os secou com seus cabelos e depois os ungiu com bálsamo (Lc 7,37-38), embora isso não fique claro no texto.


Jones F. Mendonça

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

PROFETAS E PROFECIAS NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO [E-BOOK]

"Profetas e profecias no Antigo Oriente Próximo" é mais um livro que pode ser baixado gratuitamente no site da SBL. Abaixo um breve resumo:
A profecia foi um fenômeno muito difundido, não só no antigo Israel, mas em todo o Antigo Oriente Próximo. Este é o primeiro livro a reunir fontes extra-bíblicas contendo palavras proféticas ou referências a atividades proféticas no Antigo Oriente Próximo. Entre os 140 textos incluídos neste volume estão oráculos dos profetas, cartas pessoais, inscrições formais e documentos administrativos da antiga Mesopotâmia e Levante do segundo e primeiro milênios a.C. A maioria dos textos vêm de Mari (século XVIII a.C.) e Assíria (sétimo século a.C.). Além disso, o volume fornece novas traduções do relatório egípcio de Wenamun, por Robert K. Ritner, e de vários textos da Síria-Palestina contendo alusões a profetas e atividades proféticas, por CL Seow. Ao coletar e apresentar evidências das atividades dos profetas e do fenômeno da profecia de todo o antigo Oriente Próximo, o volume ilumina o fundo cultural da profecia bíblica e seus paralelos. 


Jones F. Mendonça

RITUAL E CULTO EM UGARIT [E-BOOK]

Ritual e culto em Ugarit” pode ser baixado gratuitamente na SBL. Segue um breve resumo: 
Os textos rituais ugaríticos refletem a prática de um culto sacrificial na cidade de Ugarit (Síria) no final dos séculos XII e XI a.C. Além dos textos estritamente rituais, que foram compostos em prosa e de uma forma muito lacônica, também aparecem uma série de textos poéticos, revelando a ligação ideológica que existia entre a prática cultual e o conceito de realeza. Enquanto os textos rituais em prosa documentam um sistema regular de oferendas para as grandes divindades do panteão, diretamente relacionado com o ciclo lunar e menos diretamente com o ano solar, alguns dos textos poéticos revelam o desejo por parte dos reis de Ugarit de manter os laços com os seus antepassados ​​falecidos. Os reis viam o seu poder efetivo como um continuum dos antepassados ​​reais e a passagem deste poder como sendo efetuada pela prática ritual. Outras preocupações seculares também foram abordadas ritualmente, como proteger cavalos ou outros equídeos de picada de cobra, encontrar uma cura para uma criança doente, ou defender as pessoas do ataque de feiticeiros. A prática da adivinhação em Ugarit é documentada por outros textos, tanto na forma de "manuais", coleções de presságios, e na forma de relatos de consultas do mundo real com um sacerdote-adivinho, feita por alguém em busca de orientação.


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

TEL BURNA: EDIFÍCIO PÚBLICO, CASA OU TEMPLO?

A descoberta de um enorme complexo com 3.300 anos de idade no sítio arqueológico de Tel Burna (uma antiga fortaleza judaíta) ao leste de Kiryat Gat, no centro de Israel, tem dado o que falar.  Nas ruínas de um antigo edifício foram encontrados restos de animais queimados e objetos de culto pagãos, levantando suspeitas de que a construção tenha sido usada como local de culto a Baal ou Anat. De acordo com Itzhaq Shai, arqueólogo que dirige a escavação: "Neste momento é difícil dizer se era um lugar público, a casa de um aristocrata ou um templo".

Leia mais aqui e aqui.



Jones F. Mendonça

sábado, 1 de novembro de 2014

REFORMA?

Assim começou a Reforma: fim as indulgências, livre exame, rejeição às alegorias delirantes (sui ipsius interpres), busca pelos manuscritos escritos nas línguas originais (ad fontes), reforma diária e incessante (ecclesia reformata semper reformanda), etc. Então perceberam que o rebanho não precisaria mais de curral. Solução: elaborar confissões doutrinárias pétreas, manuais de interpretação bíblica para evitar “desvios”, novos dogmas infalíveis, etc.

E tudo voltou a ser como dantes no quartel de Abrantes.


Jones F. Mendonça