quinta-feira, 2 de abril de 2015

PÁSCOA, PÃES ÁZIMOS E SACERDOTES

A festa da Páscoa, de Dieric Bouts, 1464-67
No livro do Êxodo, capítulo 12, versos 1 a 20, Moisés dá a seguinte orientação a respeito da páscoa: Um cordeiro ou cabrito deve ser morto na tarde do décimo quarto dia (12,6) do primeiro mês, sendo seu sangue aspergido nos umbrais das portas. O ritual é acompanhado por uma refeição que inclui carne assada, pão sem fermento e ervas amargas (12,8). Originalmente páscoa e pães ázimos eram duas comemorações distintas, relacionadas com o ritmo da natureza (oriundas do ambiente cananeu). Mais tarde foram interpretadas a partir do evento do Êxodo.

O texto destaca que a festa dos pães sem fermento (matzah) deve ser comemorada como “estatuto perpétuo” (huqqat olam, cf. 12,14). Para eliminar o risco do uso de fermento (e de uma severa punição), os israelitas deviam tirá-lo de suas casas: 
Êx 12,19-20  Por sete dias comereis pães ázimos; logo ao primeiro dia tirareis o fermento das vossas casas, porque qualquer que comer pão levedado, entre o primeiro e o sétimo dia, esse será cortado de Israel. 20 Nenhuma coisa levedada comereis; em todas as vossas habitações comereis pães ázimos.
Mas o povo parece não ter dado ouvidos às orientações de Moisés, pois em 12,39 é dito que o pão “não se tinha levedado”, não pela ausência de fermento, mas porque não houve tempo para isso. Veja: 
Ex 12,34 Ao que o povo tomou a massa, antes que ela levedasse...

Êx 12,39 E cozeram a massa que levaram do Egito, bolo amargo, pois ela não se tinha levedado (hametz), porquanto foram expulsos do Egito; e não puderam retardar a partida, nem haviam preparado comida.
Como explicar tamanha contradição? A solução pode ser encontrada a partir do seguinte procedimento: leia Ex 11,1-10 e depois salte para 12,21. Entenda o trecho que vai de 12,1-20 como inserção sacerdotal tardia com o propósito de ressaltar a importância da páscoa como “estatuto perpétuo” a “todas a gerações”, num dia fixo, o 14 de Nissan (12,14). Num outro momento da história de Israel surge uma nova mudança: a Páscoa passa a ser celebrada em apenas "no lugar que Javé elohim escolher" (Dt 16,5-6), ou seja, Jerusalém. 


Jones F. Mendonça

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