quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O SALMO 45 E A LETRA OCULTA

Alguns textos da Bíblia foram construídos de maneira muito curiosa: cada verso (ou grupo de versos, como o Sl 119 ou Lm 3) começa com uma letra do alfabeto hebraico (álef, bet, guímel...). Você só perceberá essa peculiaridade numa Bíblia hebraica, claro.

O fenômeno, que aparece principalmente nos salmos, é chamado de acróstico alfabético. Mas no Sl 145 a sequência de letras é interrompida pela ausência da consoante “nun” (equivale ao nosso “n”). Há quem pense que o verso acabou sendo omitido por descuido por algum copista. A evidência disso seria a presença do verso iniciado com o “nun”, “preservada” em manuscritos encontrados em Qumran. Será?

Para o By Mitchell First, em texto publicado no Jewish Link, a omissão é intencional e o verso de Qumran seria um acréscimo feito por alguém incomodado com a ruptura na sequência alfabética.


Jones F. Mendonça

MONTANHA: LUGAR DE REFÚGIO

Foto: Haaretz
De acordo com Flávio Josefo, por ocasião da primeira grande revolta judaica (66-70 d.C.) muitos judeus fugiram para as montanhas da Galileia a fim de escapar das tropas romanas. (A Guerra dos Judeus, II, 572-576). O Haaretz publicou uma excelente matéria sobre o assunto anunciando descobertas que parecem confirmar o testemunho de Josefo. Nos evangelhos, a montanha como lugar de refúgio aparece em Mt 24,16: “então, os que estiverem na Judéia fujam para as montanhas”.



Jones F. Mendonça

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A [ESTRANHA] PARÁBOLA DOS TALENTOS

Um senhor entrega quantias de dinheiro diferentes a três servos. O primeiro e o segundo dão lucro. O terceiro – aquele que menos recebeu – devolve a seu senhor a mesma quantia recebida e é punido por isso. Há quem leia a parábola como um convite ao uso adequado das habilidades e dons pelos “servos”, os cristãos. O “senhor” seria Jesus.

Mas para Richard L. Rohrbaugh essa interpretação é absurda. Leia mais na Bible History Daily.


Jones F. Mendonça

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

SIT PRO RATIONE VOLUNTAS

Um califa ordenou – conta uma lenda – a destruição da Biblioteca de Alexandria.   Sua justificativa: se o conteúdo dos livros for igual ao do Alcorão merecem ser destruídos porque são supérfluos. Se for diferente, merecem ser aniquilados porque são mentirosos. Moral da história: qualquer ação parece justa quando serve aos interesses do tirano.

Em tempo: a frase latina foi dita por Juvenal (poeta romano) e significa: “a vontade sirva de razão”.



Jones F. Mendonça

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

HOMOOUSIOS, DULIAS, LATRIAS E OUTRAS PICUINHAS TEOLÓGICAS

A cidade de Niceia (atual Iznik, Turquia), foi palco de dois grandes concílios ecumênicos. O primeiro, em 325, definiu que Jesus foi gerado e não criado pelo Pai. O segundo, em 787, tratou de uma acirrada controvérsia a respeito do culto às imagens. Os bispos chegaram a um consenso: os ícones merecem apenas culto de dulia, nunca de latria. Para uma mente moderna “criado”/“gerado” e “dulia”/ “latria” parecem dizer a mesma coisa. Mas naquele tempo você poderia perder a cabeça por isso.

Abaixo uma imagem dos assentos dos bispos do 7º Concílio ecumênico (2º de Niceia). Bem, pelo menos é o que diz a placa.




Jones F. Mendonça

PRESÉPIOS APÓCRIFOS

Em 1224 Francisco de Assis armou o primeiro presépio de Natal. A cena foi montada numa caverna e uniu narrativas tomadas do Evangelho de Lucas e de Mateus de forma a harmonizá-las. A inspiração teria vindo de evangelhos apócrifos, como o protoevangelho de Tiago. A presença dos elementos caverna, boi, burro e parteira em ilustrações medievais seria um início dessa influência. 

Leia mais no Bible History Daily:



Jones F. Mendonça

UTOPIAS

"Na terra de Dilmun", diz um mito sumeriano do II milênio a.C. "o leão não mata e o lobo não rouba a ovelha". Lembra Is 11,6.



Jones F. Mendonça

DAS PALAVRAS COMO CABIDE DE SENTIDOS

Comecei a leitura (finalmente!) da obra “Interpretação e superinterpretação” de Umberto Eco. Na página 28 Eco cita (em tom crítico) uma curiosa metáfora de Lichtenberg a respeito da interpretação de textos: “um texto é um piquenique onde o autor entra com as palavras e os leitores com o sentido”.

Então Eduardo Cunha diz ao juiz que fez o que fez baseando-se em sua interpretação do Sermão do Monte lucano e você diz, baseando-se na tese de Lichtenberg, que esta é uma interpretação legítima...



Jones F. Mendonça

ARTE E ESCATOLOGIA

O sujeito entra numa antiga igreja em busca de um pouco de paz e se depara com este vitral sobre o juízo final, obra de Max Švabinský:


PS.: Na verdade não consegui descobrir se o vitral fica em alguma igreja. Há outros, do mesmo autor, na catedral de São Vito, em Praga.



Jones F. Mendonça

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

HERMENÊUTICA FILOSÓFICA

Zé Bobinho resolveu ler Nietzsche, famoso filósofo do século XIX. Ficou encantado com seu “perspectivismo”, cuja ideia básica resume-se nas seguintes palavras: “não há fatos, apenas interpretações”. Sua nova filosofia de vida o induziu a trocar as realidades do mundo (os fatos) pela interpretação das realidades do mundo.

Pensou com seus dois neurônios: “se não há fatos, então aquele vídeo que compromete a fidelidade de minha mulher talvez precise ser interpretado poeticamente”. Foi além: “se não há fatos, então talvez minha conta bancária não esteja no vermelho”. Raciocinou um pouco mais: “meu trágico diagnóstico médico, a corrupção dos políticos, meu estômago gritando de fome, as infiltrações nas paredes do meu apartamento... nada é fato!”.

Bobinho agora é um homem feliz...


Jones F. Mendonça